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Um Peter Pan em todos nós

Para relembrar como é difícil se tornar – e ser – adulto.

Por Alexandre de Santi (edição: Bruno Garattoni)
Atualizado em 8 mar 2024, 11h33 - Publicado em 23 nov 2015, 13h30

Livro: O Apanhador no Campo de Centeio
Autor: J. D. Salinger
Ano: 1951
Por que ler? Para relembrar como é difícil virar – e ser – adulto.

Holden Caulfield é um jovem confuso e reclamão de 16 anos, desiludido com o mundo, que não gosta de quase ninguém. após rodar em todas as matérias, exceto inglês, é expulso do internato onde estuda. Antes de voltar para a casa dos pais, decide andar a esmo por Nova York durante 48 horas. Nesse período em que vê uma amiga, se encontra com uma prostituta e bebe até cair no chão, Caulfield vive um pouco do mundo adulto, que passa a detestar. Ele se sente incomodado com a mesmice do cotidiano, a hipocrisia dos mais velhos e a falta de senso crítico das pessoas. Para ele, virar adulto é nojento. Então, encarna uma espécie de Peter Pan riquinho que idealiza a infância.

Tenho que agarrar todo mundo que vai cair no abismo. (…) Ia ser só o apanhador no campo de centeio e tudo. Sei que é maluquice, mas é a única coisa que eu queria fazer.

O sentimento é familiar? Em algum grau, todo adulto já se viu cansado das obrigações que acompanham a emancipação: pagar contas, comprar comida e ter uma atitude hipócrita sobre tudo. Afinal, para sobreviver, precisamos engolir sapos e aceitar uma postura cínica sobre as crueldades do mercado de trabalho e das convenções sociais. Muito diferente da infância, quando podemos ser autênticos e fofos.

O Apanhador vendeu 65 milhões de cópias até hoje. Foi o primeiro livro de grande sucesso a retratar a transição da infância para uma vida muito mais chata. “O livro criou a adolescência como a conhecemos hoje”, explica o professor de teoria literária da Unicamp Alcir Pécora. Salinger turbinou os movimentos hippie e beatnik (cujo maior símbolo é On the Road, de Jack Kerouac), que contestavam a vida quadradinha da classe média. Caulfield virou um herói para jovens nos anos 50 e 60. A linguagem refletia sua rebeldia, e o estilo informal do texto influenciou gerações (até o chat no feice que vc tem com seus amigos kkk :-D). Salinger foi pioneiro ao mesclar um vocabulário rico com gírias (“excitado pra chuchu”) e palavrões (“que merda!”) – o que, na época, irritou pais e professores.

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Ele próprio era um indivíduo pouco ajustado. Após ficar famoso, comprou um sítio em uma cidade dos EUA de menos de mil habitantes e passou o resto da vida como um eremita, sem publicar quase nada e se escondendo da imprensa. Exigiu que a tradução brasileira do título fosse literal, contrariando os tradutores, que cogitaram A Sentinela no Abismo. Nunca imaginou que influenciaria até o assassino de John Lennon, que afirmou ter cometido o crime para promover a leitura de O Apanhador. Retratou como ninguém o limbo no qual se é velho demais para agir como criança, mas jovem demais para assumir as responsabilidades e as limitações da vida.

Livro relacionado:
Cartas na rua | Bukowski (1957)

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