Rodrigo Vergara
Imperfeição. Esse era o tema preferido do desenhista e roteirista de histórias em quadrinhos Will Eisner, que morreu em janeiro, aos 87 anos. Considerado por muitos como o maior quadrinista da história, Eisner se destacou por criar personagens imperfeitos, sujeitos às fraquezas de que todos somos vítimas, incluindo ele mesmo. Em Fagin, o Judeu, não é diferente. A obra é panfletária – seu objetivo declarado é reabilitar o judeu Fagin, vilão do romance Oliver Twist, de Charles Dickens. Para Eisner, o personagem manchou a imagem dos judeus para sempre. No entanto, o que faz o quadrinista, logo no prefácio? Um mea-culpa em que reconhece ter ajudado a difundir o preconceito de raça (contra os negros), com personagens criados no início da carreira. E o Fagin de Eisner não é lá um encanto de pessoa. Rouba, trapaceia, espanca e explora crianças. Mas, aqui, isso seria resultado das condições de pobreza, azar e preconceito de que foi vítima. É verdade que alguns diálogos são melodramáticos demais, mas ninguém é perfeito, ora.
FAGIN, O JUDEU*
Will Eisner
Companhia das Letras, 128 páginas