“Wish”: animador brasileiro conta detalhes sobre o vilão do filme da Disney
Renato dos Anjo foi o supervisor de animação de Magnífico e sua esposa, Amaya. Produção chega nesta quarta (3) ao catálogo do Disney+.
Wish: O Poder dos Desejos, o filme mais recente do Walt Disney Animation Studios, chega ao catálogo do Disney+ nesta quarta (3). Nos cinemas, a animação estreou no Brasil em 4 de janeiro, e fez US$ 254 milhões na bilheteria mundial.
A trama acompanha Asha, uma jovem sonhadora que quer se tornar aprendiz de Magnífico, um poderoso feiticeiro e governante do reino de Rosas. Magnífico é capaz de realizar os maiores desejos de seus súditos; mas, para isso, os habitantes de Rosas precisam abrir mão deles – seus sonhos são selados e protegidos pelo rei até que ele possa concedê-los. Uma vez por mês, em um evento cerimonial, o mago escolhe um desejo a ser realizado.
Sem muitos spoilers: Asha faz um pedido tão poderoso, mas tão poderoso, que é atendido por uma força cósmica: uma estrela cadente cai do céu para ajudá-la em um momento de necessidade. Magnífico se sente ameaçado e decide recorrer à magia proibida para manter seu poder sobre os súditos.
O grande responsável por dar vida ao vilão é o brasileiro Renato dos Anjos. Ele foi o supervisor de animação tanto de Magnífico como de sua esposa, a rainha Amaya. Em uma entrevista à Super, Renato contou mais do processo de criação dos personagens e suas inspirações.
Em um estúdio de animação, há um sem-fim de cargos: gente que cuida dos storyboards (rascunhos que vão guiar o filme), dos efeitos visuais, do movimento de câmera… Renato é um animador de personagens – seu foco está na personalidade e nas expressões corporais deles.
Renato conversa por meses com os diretores de uma animação para entender o que eles planejam para determinado personagem. Por meio de testes e protótipos, ele tenta encontrar maneirismos e representações: o tipo de sorriso, o arquear das sobrancelhas, o movimento da boca ao falar.
Com as ideias e trejeitos criativamente alinhados, Renato passa a bola para a equipe de animação, que pode contar com até 90 pessoas. Esses artistas vão se basear na grande biblioteca de expressões e testes feita por ele para animar cada cena do storyboard. Assim, quando eles começam a trabalhar no filme, já têm uma ideia de que direção os personagens estão levando.
“Se isso já não fosse suficiente, durante a produção mesmo eu fico trabalhando com o pessoal dia após dia”, conta. “Às vezes pode ser coisa pequena. Exemplo: eu gosto que os cílios da Amaya estejam um pouco mais apontados na direção que ela está olhando. Eu também gosto que o rosto dela vá um pouco para o lado oposto, para criar um balanço.”
Essas sutilezas são peça-chave na “atuação” dos personagens animados. Durante o filme, Magnífico passa de um líder carismático e gentil para um verdadeiro vilão, corrompido pelo uso da magia proibida. Renato buscou deixar essa queda evidente através do comportamento do personagem ao longo da narrativa.
“Ele tem esse arco do começo até o fim. Ele começa como um cara bem carismático e no final ele vira esse monstro. Essa progressão de personalidade é uma coisa que estava na minha cabeça, e eu queria ver como ia acontecer. No começo do filme, ele tem esse movimento bem fluido, é bem elegante. Eu queria tentar, no final, um movimento um pouco mais truncado, mais quebrado.”
Renato menciona também o papel da voz na construção de personagem:
“O Magnífico tinha uma voz bem tênue em partes do filme e também tinha uma meio agressiva em outras partes. Então, você tem um personagem que tem um leque de expressividade bem grande. Como animador, é legal poder fazer essas variações.”
Vilão pra valer
Vários dos últimos filmes da Disney apostaram em antagonistas que não eram necessariamente do mal (pense em Te Kā de Moana, que só tinha sido corrompido na ausência de um artefato mágico). Em Wish, o vilão tem cara de vilão. É malvado mesmo.
Para buscar inspiração, Renato foi atrás de outros antagonistas icônicos:
“Eu comecei pensando assim: ‘quais são os meus vilões favoritos?’ Então eu vi um monte de filme lá, passei dias vendo filmes para pegar e ver o que funcionava, o que eu curtia desses personagens. O começo foi assim, só olhando filmes e vilões e vendo o que eu queria capturar na personalidade deles e colocar no Magnífico.”
Mas não teve uma referência específica no vilão de Wish. Para Renato, os antagonistas consagrados da Disney carregam uma presença muito forte, uma especificidade no agir e nas expressões que é mérito de seus animadores – e que ficou carimbada como algo próprio deles. Foi essa atitude rouba-cena que ele buscou para o Magnífico.
“Para ser sincero, eu só usei uma única coisa. Esses personagens que eu adoro são tão específicos, não tinha uma coisa, um passo que eles dessem que não parecesse eles mesmo, sabe? O que me inspirou mesmo é que quando eu vi esses filmes, os vilões tinham mesmo uma especificidade em tudo que eles faziam na cena.”