Texto: Guilherme Eler | Design: Juliana Krauss | Fotos: Nasa | Edição: Bruno Vaiano
Afoto acima, atrás do título, mostra um aglomerado de estrelas chamado Westerlund 2. Em seu entorno, há um lençol de poeira e gás com aparência leitosa – a matéria-prima da qual se formarão novos sóis. O lugar é um berçário de astros. Dá um belo cartão-postal. Infelizmente, mesmo que fosse possível encarar a viagem de 20 mil anos-luz até lá, não daria para reproduzir o clique com o celular. O primeiro motivo é que as estrelas avermelhadas no miolo (elas são os bebês do berçário, com “só” 2 milhões de anos de idade) estão em um plano diferente das estrelas azuladas nas bordas – mais antigas e alguns anos-luz mais próximas de nós. Boa sorte para encontrar o ângulo certo.
Depois, porque as estrelas recém-formadas, juntinhas ali no meio, estão na verdade escondidas atrás da nuvem bege que começa no canto inferior esquerdo. Nós só conseguimos espiar o aglomerado de astros por trás do gás e da poeira – como se houvesse uma janela sem névoa – porque a foto foi feita pelo observatório Chandra, da Nasa, que capta raios X. E os astros jovens são tão enormes e quentes que emitem esses raios.
Os raios X são um tipo de luz que os olhos humanos não são capazes de enxergar. Tanto é que você não vê um brilho sair da máquina quando tira uma chapa de um osso quebrado. Mas eles carregam mais energia que a luz que podemos ver – e por isso atravessam a nuvem como se ela não estivesse lá. Do mesmo jeito que o radiologista vê seus ossos sem se preocupar com a pele.
Assim, a foto é uma montagem: mistura a foto da nebulosa de gás e poeira feita pelo telescópio Hubble (com luz que podemos ver) com a foto das estrelas feita pelo Chandra (com luz que não podemos ver). Praticamente toda foto do espaço que você já viu emprega algum truque desse gênero. Mas não se sinta enganado: sem telescópios com superpoderes, saberíamos muito pouco sobre o que acontece no cosmos. Bem-vindo aos bastidores da fotografia astronômica.