A convite de Cleópatra
Inspirados em descobertas recentes, os arqueólogos redesenharam a famosa Alexandria de dois milênios atrás. Com um pouco de imaginação e orientado pelo mapa abaixo, você pode se sentir na cidade da legendária rainha egípcia.
Fernando Valeika de Barros, de Paris
O viajante desavisado leva um susto ao chegar a Alexandria, a metrópole grega fundada em 331 a.C., na costa do Egito. Hoje, um poluído porto de 3,3 milhões de habitantes obscurece o esplendor da terra onde a rainha Cleópatra (69 a.C.-30 a.C.) seduziu os generais romanos Júlio César e Marco Antônio. Nos últimos cinco anos, porém, armados de picaretas e escafandros, os arqueólogos revelaram boa parte da capital do império ptolomaico, que governou o Egito de 323 a.C. até a morte de Cleópatra. “Tivemos sorte nas escavações, pois a nova Alexandria cresceu desordenadamente sobre a antiga”, disse à SUPER, em Paris, Jean-Yves Empereur, diretor do Centro de Estudos Alexandrinos.
Animado, o governo egípcio planeja abrir aos visitantes ruínas hoje só acessíveis aos cientistas. Pensa até em construir túneis transparentes no fundo do mar, que está cheio de restos preciosos. Mas você, que lê a SUPER, não precisa esperar muito para se sentir um dos 500 000 habitantes da Alexandria de Cleópatra. Basta seguir as indicações do infográfico ao lado.
Chácaras
Nem todos podiam ter propriedades às margens do Lago Mareótis. Cleópatra tinha. Plantava uvas e azeitonas.
Avenida
Andando 5,4 quilômetros pela Via Canópica, que tinha 30 metros de largura, você cortava Alexandria de uma ponta à outra.
Via expressa
O desaparecido Canal Canópico ajudava no transporte de mercadorias.
Grande evento
Foi aqui, no Ginásio, numa tarde de outubro de 34 a.C., que o apaixonado Marco Antônio (cerca de 82 a.C.-30 a.C.) proclamou Cleópatra “rainha dos reis”. Ela estava vestida como a deusa Ísis. Quatro anos depois, ambos morreriam.
Descanso chique
Alexandre, o Grande (356-323 a.C.), invadiu o Egito e idealizou Alexandria, mas nunca a conheceu. Morreu na Babilônia e seu corpo foi trazido para a necrópole real, que ficava por aqui.
Shopping cultural
Pertinho da biblioteca ficava o Museu, onde você poderia topar com gente como o astrônomo Sosigenes – que preparou para Júlio César o calendário juliano, usado até o século XVI. Antes, seus laboratórios, zoológico, anfiteatro e observatório já tinham sido freqüentados por sábios da categoria do matemático Euclides (século III a. C.).
Bairro residencial
A classe média morava nesta área, onde os arqueólogos acharam os restos do mais perfeito mosaico alexandrino já visto. Era o chão de uma casa.
Paixão e morte
Terremotos destruíram, no século IV, o palácio onde Cleópatra, aos 21 anos, seduziu Júlio Cesar, já com 54, e no qual mais tarde, aos 39, se suicidou. Os tremores encheram o mar de preciosidades. É aqui perto, a 10 metros de profundidade, que o governo egípcio quer fazer um parque arqueológico.
Amor e política
Por amor ou motivos políticos, não se sabe direito, Cleópatra construiu este templo para Júlio César. Dois obeliscos encontrados no século XIX, que podem ser parte da obra, foram instalados em Londres, à beira do Rio Tâmisa, e em Nova York, no Central Park.
Engano nefasto
Dona de 700 000 manuscritos em papiro, muitos surrupiados de Atenas, a Biblioteca de Alexandria, a mais importante da Antiguidade, está enterrada por aqui. Em 47 a.C., na guerra contra Ptolomeu XIII, irmão e então inimigo de Cleópatra, Júlio César queimou, por engano, o monumento, mas ele foi recuperado, desaparecendo somente no século III, durante outra guerra civil.
Mortos do passado
Os contemporâneos plebeus da memorável rainha estão enterrados aqui, na necrópole popular descoberta em 1996. Pesquisas no local mostraram que alguns mortos eram embalsamados e outros incinerados. As cinzas ficavam em urnas de barro.
Longa ponte
Um dique de 1 300 metros, chamado heptaestádio (com o comprimento de sete estádios), começou a ser desvendado em 1997. Tinha passagens cobertas.
Maravilha
Uma das sete maravilhas da Antiguidade, o Farol de Alexandria, com 119 metros de altura, já era velho nos tempos de Cleópatra. Foi construído a partir de 285 a.C. Balançado por sucessivos terremotos e maremotos, ruiu aos poucos, até desaparecer, no século XIV. Mas os arqueólogos já juntaram mais de 3 000 pedaços dele.
Devoção
Para se aproximar de seus súditos, Cleópatra, devota de deuses gregos, aprendeu a falar a língua local e acrescentou ao seu o nome da divindade egípcia Ísis, que tinha um templo nesta ilha desde a século III a.C.. Nas cerimônias, a rainha se vestia como Ísis.
Ela era mais inteligente que bela, garante o egiptólogo Michel Chauveau, da Universidade de Paris