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Dava um filme: a estranha história do cérebro de Albert Einstein

Assim que o Nobel de Física morreu, o órgão foi roubado, cortado em pedacinhos e preservado por décadas para ser estudado.

Por Luisa Costa
Atualizado em 3 nov 2022, 19h10 - Publicado em 3 nov 2022, 19h06

Albert Einstein morreu aos 76 anos, em 18 de abril de 1955, vítima de um aneurisma na artéria abdominal. O corpo do Nobel de Física foi cremado, como ele queria, e as cinzas jogadas ao vento em um lugar não divulgado. Menos o cérebro – que foi roubado, cortado em pedacinhos e preservado por décadas.

Na época, alguns acreditavam que havia algo de excepcional no cérebro de Einstein. Algo fisicamente excepcional, que poderia ser encontrado caso os cientistas vasculhassem o órgão com cuidado – e que poderia explicar a genialidade do físico. Mas ele não queria dar corda para a idolatria – e se opôs à divulgação de estudos sobre seu cérebro.

Acontece que ele morreu em um centro médico de Nova Jersey (Estados Unidos), hoje chamado Penn Medicine Princeton Medical Center. E nesse lugar trabalhava Thomas Stoltz Harvey, um patologista que acreditava na história de que havia alguma coisa extraordinária e detectável no cérebro de Einstein.

Então, ele secretamente removeu o órgão na manhã da morte do gênio. O acontecido veio à tona alguns dias depois, e Harvey perdeu o emprego no hospital de Princeton – mas ficou com o cérebro. Ele tirou fotos, cortou o órgão em 240 pedaços e dividiu a maior parte deles em fatias tão finas quanto um fio de cabelo.

Depois que a esposa de Harvey ameaçou se livrar dos potes de cérebro guardados no porão, ele os levou consigo para o centro-oeste dos Estados Unidos. Foi nessa época, em meados da década de 1970, que um repórter do jornal americano New Jersey Monthly, Steven Levy, partiu em busca do cérebro de Einstein. Ele o encontrou com Harvey, na cidade de Wichita, Kansas, e publicou uma reportagem sobre isso em 1978.

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Mas Harvey não queria investigar o cérebro genial sozinho. Ele distribuiu as fatias do órgão entre um número desconhecido de pesquisadores, às vezes entregando-as pessoalmente nos EUA ou Canadá – onde quer que houvesse alguém supostamente capaz de descobrir o que estava por trás da inteligência de Einstein.

Thomas Stoltz Harvey segura uma jarra contendo um pedaço do cérebro de Albert Einstein em 1994.
(Live Science/Getty/Reprodução)

O primeiro estudo apareceu em 1985 – vinte anos depois da morte do físico alemão. No artigo, Harvey e alguns colegas alegam, por exemplo, que encontraram uma proporção anormal de dois tipos de células – neurônios e células glia – em uma área do cérebro de Einstein. Outros cinco estudos foram publicados, o mais recente em 2013, apontando pequenas diferenças entre células individuais ou estruturas específicas do órgão quando comparadas às de cérebros que não seriam tão geniais assim.

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Os estudos, todavia, são questionáveis – não só porque apresentam problemas de metodologia, como outros cientistas já apontaram, mas também porque partem da premissa de que é possível atribuir habilidades e comportamentos específicos à anatomia. A questão é mais complexa do que isso. Não é possível justificar a genialidade só por um aspecto X identificado no cérebro.

Harvey continuou com a maior parte desse órgão de Einstein até devolvê-lo ao Penn Medicine Princeton Medical Center, em 1998 – 43 anos depois da morte do Nobel de Física. Hoje, cientistas podem estudá-lo submetendo uma proposta convincente de pesquisa ao centro médico acadêmico – mas uma parte das amostras, que Harvey distribuiu por aí, está desaparecida.

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