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Antiga sociedade dos Andes usava alucinógenos para manter a hierarquia social

Os rituais eram realizados em monumentos enormes, mas com câmaras pequenas, exclusivo para um clubinho de participantes.

Por Manuela Mourão
6 Maio 2025, 18h00

Bem antes dos Andes serem considerados a terra dos incas, uma outra sociedade habitava a cordilheira: os Chavín Phenomenon. Esse povo, menos conhecido, foi responsável por estabelecer bases agricultoras e de sobrevivência nas montanhas, cerca de dois mil anos antes do império Inca.

Mesmo que inovações da agricultura, arte, arquitetura, produção artesanal e comércio sejam todos assuntos importantíssimos dessa sociedade, o que realmente desperta interesse na história dos Chavín Phenomenon atualmente é uma nova descoberta arqueológica: esse povo vivia alto. E não estamos falando apenas da altitude.

Pesquisadores encontraram antigos tubos de rapé (tabaco em pó, feito para cheirar) esculpidos em ossos ocos em Chavín de Huántar, um sítio arqueológico nas montanhas do Peru onde funcionou um centro cerimonial pré-histórico. Ao analisar os resíduos dos tubos, encontraram traços de nicotina de parentes selvagens do tabaco e resíduos de feijão-de-vila, um alucinógeno relacionado ao DMT, um psicodélico natural que pertence à família das triptaminas, semelhante à serotonina e à melatonina.

Porém, de acordo com a equipe de pesquisa, o uso das substâncias não era um ritual social, como em muitas culturas. Pelo contrário, apenas um grupo exclusivo de pessoas participava do uso do alucinógeno. 

Essa é a teoria dos arqueólogos, uma vez que os tubos de rapé foram encontrados em pequenas câmaras, dentro de pedras enormes, que só acomodavam um pequeno número de pessoas por vez. 

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“Tomar psicoativos não se resumia a ter visões. Fazia parte de um ritual rigorosamente controlado, provavelmente reservado a poucos, reforçando a hierarquia social”, disse Daniel Contreras, Ph.D., arqueólogo antropológico e coautor do novo estudo, que foi publicado no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences.

Os rituais em Chavín desempenharam um papel crucial na consolidação das primeiras hierarquias sociais. Ao contrário de sociedades que recorriam ao trabalho forçado, é provável que os construtores participassem das obras movidos pela crença no poder e na grandiosidade dos monumentos, alimentada pelas experiências sensoriais intensas desses rituais.

Essas cerimônias, que por vezes poderiam ser bem aterrorizantes, induziam estados alterados de consciência que legitimavam a autoridade dos líderes, apresentados como figuras conectadas ao sagrado e à ordem natural do mundo. Além do uso de substâncias psicoativas, os rituais envolviam sons impactantes de trombetas feitas com conchas e o uso de câmaras arquitetonicamente planejadas para potencializar os efeitos sonoros e emocionais.

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“Uma das maneiras pelas quais a desigualdade foi justificada ou naturalizada foi por meio da ideologia — por meio da criação de experiências cerimoniais impressionantes que fizeram as pessoas acreditarem que todo esse projeto era uma boa ideia”, disse Contreras em comunicado.

As descobertas ajudam a resolver um mistério de mais de um século sobre Chavín. Elas revelam que o controle de experiências místicas pode ter sido crucial na transição de sociedades igualitárias para estruturas dominadas por elites.

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