“Atlântida japonesa”? Entenda o que é a formação de Yonaguni
Obra da natureza ou de alguma civilização esquecida?

Yonaguni é uma ilha que fica no arquipélago do Japão, bem ao sudoeste das ilhas principais. Aliás, tão ao sudoeste que está mais perto de Taiwan (100 km) do que de Tóquio (1.950 km).
É uma posição complexa, já que as hostilidades da China em relação a Taiwan colocam Yonaguni num enclave perigoso — tanto que, em 2024, o governo japonês declarou ter a intenção de construir uma base militar por lá e também abrigos subterrâneos para defender a população.
Enquanto a terra abriga conflitos, o mar reserva mistérios. Ao sul da ilha e a 25 metros sob a linha do mar, está uma estrutura aparentemente megalítica de pelo menos 10 mil anos de idade. Com 50 metros de comprimento por 20 metros de altura, lembrando uma pirâmide retangular, ela foi descoberta por um mergulhador em 1987 e hoje é chamada de Monumento Yonaguni.

Sua origem é um mistério. Para alguns, essa ruína pode ser um resquício do povo pré-histórico Jomon, uma civilização do Pacífico que habitava essas ilhas por volta de 12.000 a.C. De fato, basta olhar imagens do monumento para notar a abundância de ângulos retos e paralelos, passagens estreitas e muitos trechos que se parecem com degraus. Se o Monumento Yonaguni estivesse nas areias do Egito em vez do Japão, talvez não parecesse fora de lugar.
No entanto, há vários defensores de que a estrutura seja, na verdade, uma formação natural. Essas pessoas alegam que a estrutura é uma formação rochosa sólida, e não formada por vários blocos separados, como seria de se esperar em uma construção humana. Possíveis entalhes observados também seriam nada mais do que desgastes causados pelo tempo.
O arqueólogo Carl Feagans escreveu um artigo em que refuta a ideia de que uma civilização teria construído a formação. Ele afirma que essa ideia veio de Masaaki Kimura, um geólogo japonês da Universidade de Ryukyus, em Okinawa, “embora suas ideias sejam rapidamente repercutidas por figuras como Graham Hancock e diversos outros representantes das vertentes pseudocientíficas da arqueologia e da história”, escreve.
Feagans argumenta que a natureza é capaz de construir estruturas piramidais e que a ideia de que as formações angulares são “degraus” não procede porque são muito grandes para serem usadas por humanos. Quanto a estruturas que parecem com passagens, canais, piscinas e ruas, o arqueólogo defende que são apenas fraturas nas rochas, sem evidências de que servissem a alguma função. “Na verdade, grande parte do que está abaixo da superfície se parece muito com o que está acima. Vemos as mesmas fraturas e juntas ao longo da costa”, diz ele.

E qual a explicação para a criação dessas formações, então? Provavelmente, terremotos. “A atividade tectônica ainda é intensa na região hoje em dia, e terremotos submarinos criam um risco persistente de tsunami para a ilha. As falhas estão muito bem evidenciadas nos estratos de arenito, xisto e calcário, tanto nas porções terrestres quanto submarinas da ilha”, escreve Feagans.
Independentemente de tudo isso, é fato que Yonaguni se tornou um destino turístico bastante procurado. A superfície tem trilhas e belas praias, enquanto o mar permite nadar com tubarões-martelo e tubarões-baleia no inverno. Se a formação rochosa de fato não for a “Atlântida japonesa”, pelo menos o passeio vai render umas fotos boas para o Insta.