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Boatos e fofocas, ouvi dizer que…

Boatos e fofocas estão presentes em todas as sociedades do planeta. Entenda por que eles são tão irresistíveis.

Por Maria Fernanda Vomero
Atualizado em 31 out 2016, 18h25 - Publicado em 30 set 2002, 22h00

Três pessoas infectadas com o vírus da Aids estariam atacando os usuários do metrô de São Paulo com seringas cheias de sangue contaminado. Seis casos já teriam sido registrados. Os ataques ocorreriam nos horários de pico, principalmente no momento do desembarque. A falsa notícia, que passou a circular na internet no início de 2001, se espalhou rapidamente entre os paulistanos e deixou muita gente temerosa. Mesmo com o desmentido oficial da assessoria de imprensa do metrô e da polícia, que não registrou nenhuma ocorrência a respeito, a história se manteve viva durante um bom tempo. Curiosamente, versões diferentes para essa notícia têm sido divulgadas na internet desde 1997. Mudam-se as circunstâncias, o cenário – Montreal, Nova York ou Paris, por exemplo – e o idioma da mensagem, mas os ataques com a seringa contaminada estão sempre presentes, causando medo todas as vezes que a história vem à tona.

Boatos como esse estão presentes em todas as sociedades do planeta e envolvem, na sua propagação, indivíduos de qualquer idade e estrato social. O conteúdo, a dimensão e as conseqüências da mensagem variam segundo as condições do momento em que ela circula. Se um boato se espalha é porque encontra eco nos ouvintes, ou seja, para eles, naquele instante, a história faz algum sentido – não soa como mentira, mas sim como algo crível. Os pesquisadores que estudam o tema não têm dúvidas: trata-se de um fenômeno universal, permanente e necessário para a organização social.

Boatos, fofocas e variantes constituem os meios de comunicação de massa mais antigos da humanidade. Mesmo antes da invenção da escrita, os homens transmitiam e recebiam informações na base do ouvir-dizer. O boca-a-boca era a melhor maneira de reforçar comandos dentro do grupo, repreender comportamentos e anunciar decisões. O aparecimento da imprensa e, posteriormente, do rádio e da televisão não estancou a troca informal de notícias entre as pessoas. Ao contrário: a mídia impressa e eletrônica, especialmente a internet, passou a fornecer matéria-prima para o diz-que-diz, além de facilitar a propagação de todo tipo de notícias fantasiosas – como no caso da história das seringas contaminadas.

“Essa mídia informal, constituída pelos boatos e fofocas, é extremamente eficaz porque está baseada no testemunho”, diz o cientista político Paulo Bahia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, autor do recém-lançado A Política como Boato (Editora da UFF). “A fonte influencia diretamente na decisão do receptor de passar ou não a mensagem adiante.” Se o transmissor tem credibilidade para você, a história lhe parece crível. E, graças ao status de confidência ou revelação, aquela notícia torna-se extremamente valiosa. Como o valor de uma informação é momentâneo, você não hesita em contá-la para uma outra pessoa e assim usufruir dos lucros: a satisfação e a segurança de estar inteirado do que se passa ao seu redor. E o poder de saber antes do outro.

Raio X do fenômeno

As mais importantes modalidades do ouvir-dizer são mesmo a fofoca e o boato. As demais, como os rumores e fuxicos, são consideradas derivações de uma das duas matrizes. Por mais que essa distinção pareça insólita e arbitrária e muitos usem os termos como sinônimos, não se trata apenas de uma questão de semântica. Existe, sim, uma diferença teórica entre esses conceitos. “Fofoca é uma mensagem sobre o comportamento de outras pessoas, especialmente quando os alvos não estão presentes. Boato é um processo pelo qual os indivíduos tentam definir uma situação ambígua. Eles, então, espalham notícias informalmente porque as fontes oficiais não existem ou estão inacessíveis”, diz o sociólogo Jack Levin, da Universidade Northeastern, em Boston, nos Estados Unidos, e co-autor do livro Gossip: The Inside Scoop (Fofoca: o Furo Privilegiado, inédito no Brasil).

O boato pode ser precedido por rumores – estes são definidos como informações desconexas sobre uma situação, que pipocam aqui e ali e nem sempre têm fôlego de seguir adiante. Bem diferente do fuxico, uma espécie de difamação disfarçada de comentário inocente.

As principais diferenças entre fofoca e boato estão, portanto, no conteúdo da mensagem, nas motivações que estão por trás dela e na dimensão que ganha ao ser difundida. A fofoca envolve um grupo restrito de interessados; o boato conquista um círculo bem maior de ouvintes, ávidos por explicações. O comentário de que a apresentadora Xuxa está namorando fulano é uma fofoca, mesmo que a notícia esteja estampada em diversas capas de revista. Assim como não passa de fofoca aquela observação, feita durante o cafezinho, de que talvez o chefe e a secretária estejam tendo um caso. Porém, a história de que haverá confisco da poupança caso este ou aquele candidato à presidência vença as eleições caracteriza-se como um boato. Refere-se a uma informação não-oficial, que corre em paralelo ao discurso das autoridades, e consiste numa outra versão para os fatos, já que o cenário em questão não se mostra transparente.

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“A combinação de medo real com fato impreciso certamente gera boato, porque cria, na imaginação das pessoas, uma realidade possível”, diz Paulo

Bahia. Muita gente se lembra da onda de mistério – e de boatos – que cercou a internação de Tancredo Neves, o primeiro presidente civil após duas décadas de ditadura militar, em 1985. Ele foi hospitalizado 12 horas antes da posse, sentindo fortes dores abdominais, para ser operado de uma diverticulite. Esteve internado durante 38 dias, passou por sete operações e morreu de infecção generalizada. As informações oficiais eram desencontradas e incompletas. A população, inconformada com a doença do presidente, passava adiante histórias fantasiosas sobre a internação de Tancredo. Na época, espalhou-se o boato de que ele teria sido baleado na frente da Catedral de Brasília quando dava uma entrevista para a então repórter Glória Maria, da TV Globo.

“O boato se propõe a revelar o não-sabido, o não-dito”, diz o sociólogo francês Jean-Noël Kapferer, presidente da Fundação para o Estudo e Informação sobre Boatos, em Paris. “Reflete as preocupações conscientes ou inconscientes da sociedade no momento em que circulam.” Para ele, o boato é um discurso livre e espontâneo, aquilo que se convencionou chamar de “voz das ruas”, uma tentativa de compreender uma realidade que está escondida aos olhos do grande grupo social. “Há uma dose de imaginação, mas também um sentido de sobrevivência. Toda relação humana repousa sobre uma certa dose de segredos. Existe uma assimetria entre aquilo que você sabe e guarda para si e aquilo que conta para os outros. Esses outros, quando se sentem desinformados, se defendem, usando o boato”, diz Kapferer.

Apesar de algumas semelhanças, a lógica da fofoca segue outros pressupostos. “Ao contrário dos boatos, a fofoca não se difunde sob uma atmosfera de ansiedade, desconfiança ou informação incompleta”, diz o psicólogo americano Eric Foster, da Universidade Temple, que prepara uma tese de doutorado sobre o assunto. “A fofoca está no cotidiano, limita-se à informação sobre os outros e ocorre com freqüência nos momentos de convivência e troca de conhecimento social.”

Vantagem evolutiva

Ao contrário do que se pensa, a fofoca não é necessariamente negativa. “Na origem, o termo se referia a passar o tempo conversando com os amigos”, diz o antropólogo Robin Dunbar, da Universidade de Liverpool, na Inglaterra. Graças ao diz-que-diz sobre os outros, hoje vivemos sob esse modelo de organização social. A fofoca foi uma estratégia que a evolução encontrou para favorecer a troca ampla e rápida de informações entre os membros de um grupo. “A linguagem evoluiu a fim de permitir que nossos ancestrais fofocassem”, diz Dunbar. “Só assim eles poderiam viver em grupos maiores e permanecer unidos sem depender exclusivamente dos meios usados pelos primatas – o toque e a observação.”

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Segundo Dunbar, macacos e chimpanzés agrupam-se em comunidades de até 50 indivíduos em média. Por isso, a comunicação pelo toque (valem de beliscões a cafunés) funciona bem. Os seres humanos, porém, vivem em grupos muito maiores. A fofoca tornou o intercâmbio de informações mais fácil, garantiu economia de tempo e maior eficiência na comunicação.

Uma função importante da fofoca é manter os membros do grupo informados uns sobre os outros: quem é confiável, quem tem poder, quem parece perigoso e assim por diante. “Esses dados acabam chegando até nós de maneira indireta porque estamos presentes em apenas uma pequena fração dos intercâmbios sociais que ocorrem no nosso meio”, diz Eric Foster. “Enquanto a fofoca oferece apoio à cultura do grupo e mantém as pessoas unidas, tem uma utilidade moral. Mas pode também abalar amizades, hierarquias e organizações. São resultados negativos como esses que levam as pessoas a considerar a fofoca como uma prática maléfica.”

A fofoca também faz parte do aprendizado das normas do grupo: aparece para lembrar o indivíduo daquilo que é digno de louvor e do que pode ser passível de punição naquela sociedade. “Trata-se um modo efetivo de controlar as pessoas que se sentem tentadas a transgredir as regras”, diz psicólogo americano Frank McAndrew, professor da Faculdade Knox, em Illinois. Cada sociedade apresenta um diferente grau de tolerância à fofoca. “A cultura determina que tipos de fofoca são permitidos, quais são considerados de mau gosto e quanto cada um pode fofocar sem arranhar a própria reputação”, afirma.

Para compreender melhor as implicações da fofoca, McAndrew realizou dois experimentos. No primeiro, pessoas de idades diferentes tiveram de ordenar notícias de tablóides sobre celebridades de acordo com a curiosidade que o texto despertava. No segundo, estudantes universitários listaram o interesse e a probabilidade de espalharem fofocas sobre parentes, amigos, professores ou estrangeiros em doze cenários diferentes. Os testes confirmaram que existe preferência pela informação sobre pessoas da mesma idade e sexo. Notícias positivas sobre os “aliados” e fofocas negativas e prejudiciais a respeito de rivais ou pessoas de alta posição social têm boas chances de serem passadas adiante. As mulheres falam a respeito de outras mulheres qualquer que seja o tema.

Os homens fofocam sobre outros homens somente quando os tópicos se referem à posição na hierarquia social. “As pesquisas confirmaram que nem toda fofoca serve ao interesse do grupo como um todo”, diz McAndrew. “O diz-que-diz pode funcionar como uma estratégia egoísta para melhorar o próprio status social.”

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Tipos de boato

Também os boatos podem servir a interesses próprios. São usados por quem está numa posição de poder com a intenção de manipular a opinião do grupo. Nesse caso específico, há fogo mas não há fumaça. “Alguns boatos são inventados com o propósito de trazer ganhos para seu mentor. Esses boatos ‘plantados’ aparecem com freqüência na política, no meio econômico e nas disputas pelo poder. Também estão presentes nas relações interpessoais”, diz o cientista político Paulo Bahia.

Um dos mais famosos boatos do cenário político brasileiro surgiu em 1937, a partir de uma informação falsa: a descoberta de um suposto plano comunista contra o governo Getúlio Vargas, batizado de Plano Cohen. Tal documento, na verdade, havia sido forjado por membros do próprio governo com o objetivo de gerar um ambiente emocional propício à aceitação do golpe de Estado que Vargas pretendia dar. Estavam presentes no hipotético plano os temores mais freqüentes da época, como as atrocidades que os conservadores geralmente atribuíam aos comunistas: incêndio de prédios públicos, saques ao comércio, violação de igrejas e lares etc. A repercussão do boato na imprensa e na sociedade foi enorme e desencadeou uma campanha anticomunista. Com o apoio do Exército, Getúlio Vargas conseguiu o que queria: em novembro daquele ano, fechou o Congresso e decretou a ditadura do Estado Novo.

Outro caso célebre ocorreu nas eleições de 1996. Como relata em seu livro Política é Ciência, César Maia, atual prefeito do Rio de Janeiro, criou um rumor para prejudicar a candidatura de Sérgio Cabral e favorecer Luís Paulo Conde, candidato que apoiava. Maia pediu que um assessor contratasse 150 pessoas, que deveriam se espalhar por botequins da capital fluminense e, enquanto saboreavam seu cafezinho, dizer: “Eu soube que Sérgio Cabral vai renunciar.” Três dias depois, a história já chegava ao gabinete de Maia como se fosse um fato. E Conde elegeu-se prefeito.

Mas nem todos os boatos são falsos. Quando existe um fato concreto por trás dos boatos, eles se tornam instrumentos de contrapoder. Servem para questionar as autoridades, desvendar segredos, dar transparência ao discurso dos poderosos. Imagine que a empresa em que você trabalha resolva enxugar o quadro de funcionários. Existe a possibilidade concreta da demissão, mas ninguém ainda sabe quantos serão mandados embora. Boatos sobre o número de cortes e possíveis datas circulam velozmente até que a direção da empresa revele quais são, de fato, os planos.

Mal-entendidos e interpretações errôneas de uma notícia também geram boatos. O escritor e jornalista Zuenir Ventura, há três anos, foi surpreendido com o anúncio da sua própria morte. O boato começou a circular depois que o atual dono de uma de suas antigas linhas telefônicas, irritado com as freqüentes ligações para Zuenir, respondeu a alguém, ironicamente, que ele havia morrido em um acidente de carro. Isso bastou para que a história fosse divulgada por uma agência de notícias e se espalhasse pela internet.

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Os boatos mais comuns, no entanto, têm sua origem em mitos existentes na memória social de um grupo: o medo da intoxicação alimentar, o terror diante da violência sexual, a ameaça da Aids, entre outros. “Os mitos conferem credibilidade aos boatos pois são realidades inconscientes duradouras e, acima de tudo, partilhadas”, diz Jean-Noël Kapferer. Tais boatos são chamados de “histórias exemplares” ou “lendas urbanas” e seguem uma fórmula básica: atrás de um relato fantasioso, existe sempre uma lição de moral.

Você certamente já deve ter ouvido pelo menos uma versão de boatos desse tipo. Um grande número deles circula na internet há anos. O tempo passa e eles ganham novos detalhes. Há o caso do rapaz que vai ao motel com uma loira e, quando acorda, está deitado numa banheira de gelo sem os dois rins. Há também a notícia sobre o pai de uma famosa modelo que morreu, de leptospirose, ao beber cerveja diretamente na latinha. Ou a comovente história da garota que receberá uma certa quantia de dinheiro para custear seu transplante cada vez que aquele e-mail for repassado.

Um exemplo clássico dessas lendas urbanas circulou em várias cidades do interior na França ao longo dos anos 1960. Trata-se do “boato de Orléans”. Uma rede de lojas femininas de propriedade de comerciantes judeus, na época bastante popular em Orléans, era acusada de servir de isca para o tráfico de mulheres brancas. Segundo o boato, as moças eram raptadas logo que entravam nos provadores. Depois de dopadas, seriam entregues a uma organização especializada em escravizar mulheres. A polícia teria encontrado, no subsolo de uma das lojas, duas ou três mulheres presas. O boato atingiu uma repercussão extraordinária e foi preciso que a imprensa, o governo e associações públicas fizessem uma campanha para minimizar o impacto da notícia.

“Essas lendas urbanas permitem que as pessoas falem de questões que, num contexto real, não poderiam ser ditas claramente”, afirma o sociólogo americano Gary Alan Fine, da Universidade Northwestern, em Illinois, e co-autor do livro Whispers on the Color Line: Rumor and Race in America (Murmúrios sobre a Segregação: Boato e Raça na América, inédito em português). “Na sociedade americana, por exemplo, é muito complicado falar abertamente sobre raça ou crenças raciais. Mas você pode expressar suas opiniões e comentar um acontecimento específico usando um boato ou uma lenda, como se aquilo realmente tivesse acontecido.”

Fábricas de notícias

Independentemente das motivações, boatos e fofocas se propagam exponencialmente: dois se tornam quatro, quatro se transformam em oito e assim por diante. Por isso, a melhor maneira de amenizar o efeito de um diz-que-diz é divulgar de pronto um desmentido ou a versão oficial da história. Se for possível identificar a fonte, vá direto a ela para esclarecer a situação. Agir com transparência evita rumores. Tente não alimentar comportamentos ambíguos que gerem desconfiança ou mal-estar alheio. Em suma: boatos e fofocas vicejam no silêncio oficial, na falta de clareza de quem detém a boa informação.

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Contribui para o boato tanto quem o compra quanto quem o vende. “A melhor tática de defesa seria checar todas as informações, mesmo aquelas vindas de fontes confiáveis, mas é praticamente impossível no dia-a-dia”, diz Paulo Bahia. Há boatos que, de tão poderosos, acabam criando fatos. O fenômeno se chama “profecia auto-realizável”. O rumor sobre a quebra de um banco pode assustar os correntistas, que tentam sacar seu dinheiro o mais rápido possível. Com todo mundo sacando ao mesmo tempo, o banco quebra mesmo.

Com a ajuda da internet, a difusão das notícias se tornou ainda mais potente. Boatos alcançam destinatários nos cinco continentes em questão de minutos. Aliás, a rede possui sua própria modalidade de boatos. São os hoaxes (trotes, em inglês), falsos avisos de vírus. Trazem recomendações do tipo “jamais abra um e-mail com o seguinte texto” e ensinam o internauta a deletar certos vírus que nem os mais potentes programas antivírus conseguem identificar.

Os hoaxes circulam em grande quantidade na rede, apoiando-se na solidariedade daqueles que tentam alertar os amigos.

Além da internet, o meio financeiro também é um ambiente pródigo para a criação de boatos. Nem sempre as notícias que correm informalmente entre corretores, investidores e analistas têm caráter negativo. “No mercado financeiro, os preços são estabelecidos a partir de uma troca”, diz o economista Dany Rappaport, da Tendências Consultoria, em São Paulo. “Para procurar o valor mais justo em uma transação, com o qual todos os lados se sintam confortáveis, os negociadores precisam ter acesso ao máximo de informações.” Segundo Dany, os boatos antecipam notícias que podem ser relevantes para a negociação de preços – valem decisões do Banco Central, políticas econômicas etc.

Para o psicólogo americano Nicholas DiFonzo, do Instituto Rochester de Tecnologia, os boatos que circulam na bolsa de valores ajudam os envolvidos a compreender uma situação nebulosa e a se preparar para o futuro. “O corretor precisa supor como os outros corretores e investidores vão agir em relação a determinado boato”, afirma DiFonzo. Ele pesquisou como os boatos pautam comportamentos no mercado financeiro. Usando um programa de investimentos no computador, os estudantes que não recebiam boatos eram os que mais ganhavam dinheiro. “Os profissionais acabam se tornando dependentes de boatos em vez de simplesmente comprar papéis quando o preço está baixo e vendê-los quando o preço está alto”, diz.

Tal comportamento também ocorre fora da bolsa de valores. “Alguns estudos mostram que pessoas que têm alto grau de ansiedade, ou seja, que tendem a ficar nervosas diante de quase toda situação, são mais propensas a espalhar fofocas ou boatos”, diz o psicólogo americano Allan Kimmel, da Escola Superior de Comércio de Paris, que estuda o papel dos boatos nas organizações. Contar uma história provoca uma sensação de alívio e acalma as tensões internas.

Mas os aspectos positivos dessa mídia informal não a isentam, é óbvio, das conseqüências negativas que pode trazer. O diz-que-diz só existe porque sempre há alguém para contar uma história e um ouvinte interessado. “A análise da fofoca e do boato traz à luz a complexidade do pensamento e do sentimento humanos”, diz o filósofo Robert Goodman, da Universidade de Haifa, em Israel, organizador do livro Good Gossip (A Fofoca Positiva, inédito no Brasil). “Se tentamos ser pessoas decentes, então temos a responsabilidade de distinguir entre a boa informação e a maldosa, o que não é simples.”

O ser humano, na essência, é movido a histórias. Elas atiçam a imaginação tanto do ouvinte quanto do narrador, entretêm os amigos, conferem um poder mágico. Por isso, fofocas e boatos são tão irresistíveis. Quem é capaz de evitar a curiosidade sobre a vida alheia? Por falar nisso, você soube da última? É o seguinte…

 

Para saber mais

 

NA LIVRARIA

Boatos – O Mais Antigo Mídia do Mundo, Jean-Noël Kapferer, Forense Universitária, Rio de Janeiro, 1993

Grooming, Gossip and the Evolution of Language, Robin Dunbar, Harvard University Press, Cambridge, 1996

 

NA INTERNET

https://urbanlegends.about.com

https://www.quatrocantos.com/lendas

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