Chiang ching
As duas são figuras de extremo relevo e fascínio na história recente de seu país.
Paulo Nogueira
Chiang Ching e Eva Perón poderiam ser personagens de Vidas Paralelas, o grande clássico no qual o escritor grego Plutarco (46-120) cotejou personalidades históricas de perfil parecido, como Júlio César e Alexandre Magno. Chiang Ching e Evita Perón eram ambas atrizes. Ambas pobres de nascimento. Ambas atraentes e ambiciosas. Cada qual conquistou o homem mais poderoso e mais influente de seu país: o chinês Mao Tsé-tung e o argentino Juan Perón. As duas excederam amplamente o papel habitual de primeiras-damas. Elas utilizaram a influência sobre o marido como arma de poder político. Fizeram, tal como cortesãs, da cama seu principal instrumento de ascensão. As duas são figuras de extremo relevo e fascínio na história recente de seu país.
Chiang Ching sobreviveu a Mao, mas seu sonho de substituí-lo no comando chinês terminou em pesadelo. Tão logo Mao morreu, em 1976, sua sorte mudou, e para pior. Em vez do palácio, a prisão, onde passou os últimos 15 anos de vida no ofício de fazer bonecas para exportação. Ao longo de seus dias, Chiang Ching acumulou inimigos, dos quais apenas a presença de Mao a protegia. Morto ele, seus sucessores acertaram velhas contas com a viúva. Ela foi uma das peças centrais num dos episódios mais sangrentos dos tempos modernos, a chamada Revolução Cultural chinesa. Milhões de chineses foram assassinados pelo regime de Mao em nome da preservação do comunismo.
Comunistas devotados à causa e ao maoísmo, mas alvos da desconfiança paranóica e mortal de Mao e de sua mulher, não escaparam.
Chiang Ching fez o que pôde para manter o prestígio perante Mao, com quem foi casada por 38 anos. Quando ela já não mais o atraía sexualmente, conta-se que arrumava resignadamente amantes para o velho marido lascivo. Essa e outras histórias estão escritas num livro recentemente lançado no Brasil: A Construção de Madame Mao (Rocco), da chinesa radicada nos Estados Unidos Anchee Min.
É uma obra instrutiva e gostosa de ler. Pouca gente, além de seu punhado de seguidores, chorou a queda de Chiang Ching. E nisso ela se distingue extraordinariamente de Eva Peron.
Porque os argentinos choraram, e ainda choram, por Eva, a Santa Evita dos Descamisados, como eram chamados os pobres argentinos que a veneravam como uma mistura de mãe e deusa. Evita morreu jovem, de câncer, aos 33 anos, em 1952. O pungente e duradouro lamento argentino encontrou uma doce expressão musical na canção Don’t Cry For Me Argentina, da ópera-rock inspirada em Evita. Loira, bonita, vivaz, Evita trouxe um charme exuberante ao governo de seu marido, Juan Perón, um caudilho populista. Perón daria, ele também, um personagem de Vidas Paralelas ao lado do brasileiro Getúlio Vargas: mesma época, mesmo apelo, mesma inclinação fascista. Tudo aconteceu muito rápido para Evita: o nascimento humilde, o esplendor palaciano, a adoração dos descamisados, a doença e a morte. O único item na vida de Evita que parece desafiar a passagem do tempo é o incansável pranto do povo argentino.
Frases
Na vida, a viúva de Mao e Evita tiveram muito em comum. Na morte, não