A história do cinema começa envolvida em sombras. Foram exatamente as imagens delas as primeiras projetadas pelos homens, com auxílio da luz do sol ou fogo. A capacidade de representar imagens em movimento em uma tela branca, no entanto, só foi possível graças a uma extraordinária saga de avanços científicos e tecnológicos que durou séculos.
Um dos mais antigos embriões do cinema veio da China, onde há 2 mil anos nasceram as “sombras chinesas”, um espetáculo em que bonecos de papel são manipulados atrás de uma tela branca dando a impressão de movimentos reais. Essa arte é preservada até hoje. Só no século 13 o alemão Athanasius Kircher deu um passo adiante, inventando a lanterna mágica: uma caixa, uma fonte de luz e lentes que projetavam imagens nas paredes. Numa passagem do livro Os Sofrimentos do Jovem Werther, um clássico do ultra-romantismo, o escritor alemão Goethe diz que o mundo sem amor seria como “uma lanterna mágica sem luz”.
Tudo mudou com a descoberta da fotografia no século 19. Sem ela, não seria possível a criação do cinematógrafo, o primeiro aparelho a fotografar, revelar e projetar imagens em uma tela. O feito aconteceu há 111 anos e teve como autores os irmãos franceses Louis e Auguste Lumière. O dia 13 de fevereiro de 1895 entrou para a história da arte como a primeira projeção, com o filmete Empregados Saindo da Fábrica Lumière. Demorou um tempo para que as platéias pioneiras se acostumassem com a nova moda: teve gente que saiu correndo das salas ao ver cenas como as de um trem, pensando que ele fosse sair da tela e se chocar com o público!
A reprodução das imagens de cinema marca a virada tecnológica que permitiu a disseminação da informação visual para grandes públicos, criando a chamada “indústria cultural”, que nos possibilita hoje ter mais de 200 canais de TV em casa e baixar filmes pelo computador. Os sisudos filósofos alemães da chamada escola de Frankfurt consideraram o cinema o “fim da arte”, inaugurando uma época de reprodutibilidade técnica.
Além de entretenimento e informação, o cinema também teve um papel importante na propaganda política mundial, a partir do governo nazista de Adolph Hitler na Alemanha, que tinha até uma cineasta oficial: a polêmica Leni Riefensthal, diretora, entre outros, do filme O Triunfo da Vontade. No século 20, Hollywood se estabeleceu como a meca mundial do cinema e é hoje uma das indústrias mais poderosas dos EUA, influenciando a moda e os costumes no planeta inteiro.
10 filmes que marcaram o cinema
O Silêncio da Noite (1950)
Tem Humphrey Bogart em papel dúbio (criminoso ou não?) e o diretor Nicholas Ray deixando a alma humana livre e flutuante.
Os Incompreendidos (1959)
O novo cinema francês da década de 1950, feito para entender o mundo depois da 2ª Guerra Mundial, é simbolizado nessa obra-prima do diretor François Truffaut.
Mocinho Encrenqueiro (1961)
A comédia mais ousada de todos os tempos, protagonizada pelo cômico mais talentoso do cinema norte-americano: Jerry Lewis.
Hatari (1962)
Exuberante aventura de caçada do mestre do faroeste Howard Hawks.
Maridos (1970)
Nesse filme em que três amigos viajam para Londres, John Cassavetes simboliza sua fúria criativa e profundo rigor estético.
Morte em Veneza (1971)
Lucchino Visconti esculpe nessa obra exemplar o tempo, a beleza e a tragédia numa Veneza decadente e linda.
Tubarão (1975)
Filme de praia histórico que apresenta ao mundo um jovem e genial Steven Spielberg.
Guerra nas Estrelas (1977)
A saga de George Lucas mistura épico, fantasia, faroeste e ficção científica.
Eles Vivem! (1988)
Clássico de John Carpenter que antevê o cenário politico-corporativo de hoje, com enredo sobre alienígenas capitalistas.
A Vila (2004)
O diretor M. Night Shyamalan brinca genialmente na telona com iluminação, câmera e interpretação. Curiosamente a história se passa na mesma época em que o cinema foi inventado, em 1890.