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Como foi comemorado o Natal em meio à pandemia de 1918?

Além da gripe espanhola, o mundo também passava pelo fim da Primeira Guerra Mundial. Havia um misto de euforia para encontrar os familiares com o medo de contrair a doença.

Por Carolina Fioratti
Atualizado em 25 dez 2020, 10h37 - Publicado em 24 dez 2020, 11h02

Há 102 anos, uma doença letal fez com que as pessoas se questionassem sobre as celebrações de 25 de dezembro – da mesma forma que a Covid-19 tem feito. Estamos falando da gripe espanhola, que deixou cerca de 50 milhões de vítimas ao redor do mundo (em comparação, o Sars-CoV-2, em 2020, causou cerca de 1,7 milhão de mortes até agora).

Em dezembro de 1918, os Estados Unidos enfrentavam a segunda onda da doença. Isso levou o Ohio State Journal, periódico da época, a recomendar o que chamaríamos hoje de “distanciamento social”. Os americanos deveriam tomar “cuidado com o visco”, aludindo à tradição natalina de se beijar sob a planta (que, em inglês, chama-se “mistletoe”). 

Mas os avisos jornalísticos não eram suficientes. Peguemos como exemplo a cidade de São Francisco, nos EUA. Alguns meses antes do Natal, ela havia implementado o uso de máscaras – na época, feita de várias camadas de gaze. Além disso, em meados de outubro, fecharam a cidade, reabrindo-a apenas em novembro. Isso conteve a gripe por um tempo, mas o vírus ainda estava circulando, o que ocasionou uma alta de casos mais perto do Natal. Acontece que os cidadãos haviam acabado de sair de uma paralisação e não tinham a mínima vontade de voltar para outra (soa familiar?).

Os comerciantes também não apoiavam a ideia de fechar tudo, já que as compras natalinas poderiam dar uma força depois de um ano fraco. Eles fizeram muita publicidade em novembro e dezembro para que as vendas rolassem, além de adotar um sistema de entregas para aqueles que tinham medo de sair em público. A máscara dentro dos estabelecimentos não era uma regra. Pelo contrário: os vendedores achavam seu uso assustador.

O fechamento de igrejas em plena época de feriado cristão também incomodava, principalmente pelo fato de haver bares abertos. Havia, inclusive, uma liga anti-máscara, formada por pessoas que diziam que a obrigatoriedade da proteção facial infringia os seus direitos.

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Enquanto isso, no Reino Unido, medidas para reduzir a transmissão do vírus, como o isolamento de doentes, fechamento de escolas, gargarejo com antisséptico e distanciamento social também eram recomendadas. O país, assim como os EUA, passava pela segunda onda – mas o uso de máscara não foi aderido por lá.

E no Brasil? 

A doença deu as caras por aqui pouco antes do fim do ano. Ao que tudo indica, a primeira onda de gripe espanhola rolou em setembro de 1918, com a chegada do navio inglês “Demerara”, vindo de Portugal. As recomendações eram bem semelhantes às de hoje: higienização das mãos, evitar contato físico e aglomerações, além do fechamento de bares, escolas e outros estabelecimentos. Cerca de 35 mil brasileiros morreram em decorrência da doença. 

Mas tem um ponto que em nada se assemelha ao que estamos vivendo agora. A Primeira Guerra Mundial havia acabado de terminar, com a assinatura do Armistício de Compiègne, em 11 de novembro. Nos EUA e na Europa, os soldados estavam voltando para suas famílias, o que causava um misto de sentimentos. Afinal, o que seria melhor: passar o feriado com a família para comemorar o fim do conflito ou evitar o encontro por causa da pandemia?

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O dilema ético não era o único problema gerado pela guerra. O vírus continuava se espalhando e os hospitais estavam sobrecarregados. No Reino Unido, a equipe médica não dava conta de cuidar de todos os doentes, já que pelo menos metade dos profissionais da saúde haviam sido contratados para atuar na guerra. Grande parte dos infectados morreu em casa, ao lado de amigos ou familiares.

A terceira onda veio em janeiro, tanto nos EUA quanto na Europa, provavelmente como consequência das festas de final de ano. Vale a lembrança para 2020. 

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