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Desaparecidos

O fundo dos oceanos abriga um largo cemitério de aviões e navios perdidos - nos últimos 70 anos foram mais de 100 casos.

Por Ricardo Ampudia
Atualizado em 17 ago 2018, 17h13 - Publicado em 15 set 2014, 22h00

Um avião de grande porte some durante o voo. Cai no meio do oceano sem deixar qualquer vestígio. A história pode ser do Airbus da EgyptAir, que desapareceu em 2014, com 66 pessoas a bordo, quando se aproximava do seu destino final: o aeroporto de Cairo. Ou do boeing da Malaysia Airlines, que caiu em março de 2013, ou do boeing da Varig, que desapareceu em 1979. Ou pode ser o caso de outros cem aviões que caíram no mar desde o fim da década de 1940. O sumiço de grandes aeronaves, com mais de 60 metros de comprimento, parece surpreendente. Mas esse tamanho todo não é nada perto dos 360 milhões de quilômetros quadrados (mais de 40 Brasis) dos oceanos, mais a profundidade que pode chegar a 11 mil metros. Navios e aviões acabam afundando mesmo. É triste, mas é normal, sem qualquer mistério. Conheça aqui quatro histórias de aviões e navios que se esconderam no fundo dos oceanos. E permanecem lá até hoje.

1. UM BURACO NO TRIÂNGULO [1945] Bahamas

Em dezembro de 1945, uma esquadrilha de cinco aviões com 14 homens da marinha decola da Base Aérea Naval de Fort Lauderdale, no sul da Flórida, para exercícios militares. Quase duas horas depois, o líder do grupo chama a torre de controle. Mas não pede instruções para o pouso, como era esperado. Ele avisa que está perdido: as bússolas falharam e os aviões estão a mais de 200 quilômetros de onde deveriam estar. Não veem o menor sinal de terra. Como o combustível não aguentaria mais horas de voo, o centro de comando envia um avião de resgate. Meia hora após a decolagem, chega à última posição relatada pela esquadrilha desaparecida. E some. Nunca mais envia notícias.

Mais de 200 aviões e 20 navios saem para o resgate. Vasculham mais de 320 mil quilômetros quadrados, mas não encontram nenhum destroço, corpo ou vestígio. O caso despertou o mistério sobre o Triângulo das Bermudas. As pessoas perceberam que aquela região guardava várias histórias de desaparecimentos. E ninguém entendia por quê.

Levou décadas (e cerca de cem acidentes) para que cientistas desvendassem o mistério. Em 2010, dois pesquisadores australianos descobriram que a culpa pode ser do metano. Naquela região, há uma alta concentração desse gás causada por intensa atividade vulcânica no oceano. O metano se esconde em rochas, mas pode se desprender e subir até a superfície, no formato de uma bolha gigante. Se um navio azarado passar por lá nesse momento, a capacidade de flutuação vai diminuir e ele, provavelmente, naufragar. Se um avião voar por lá em altitudes baixas, os estouros do metano ao atingir a superfície podem danificar os motores e fazer a aeronave despencar. Nenhuma teoria explica por que os acidentes diminuíram. Mas dá para imaginar: de lá para cá, a tecnologia e a segurança de aviões e navios melhoraram significativamente.

2. O CASO VARIG [1979] Estados Unidos

Um Boeing 707 de carga da Varig parte de Tóquio rumo ao Rio de Janeiro, com escala em Los Angeles. Carrega a bordo seis pessoas e 20 toneladas de mercadoria: 153 quadros do pintor nipo-brasileiro Manabu Mabe, avaliados à época em mais de R$ 1,4 milhão, produtos eletrônicos e peças de mecânica. Cerca de 20 minutos após a decolagem, o avião faz contato com a torre, sem relatar anormalidades. Foi o último contato. Equipes de resgate japonesas e americanas fizeram uma busca intensa pelo Oceano Pacífico. Nunca encontraram qualquer vestígio do avião.

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Curiosamente, três anos antes, em 1973, o comandante Gilberto Araújo, piloto da aeronave, havia escapado de outro acidente aéreo. O avião dele pegou fogo em pleno voo. Onze pessoas sobreviveram e 123 morreram.

3. TEMPO DE GUERRA [1918] Barbados

O USS Cyclops, um cargueiro de 165 metros, sai da costa americana em direção ao Rio de Janeiro com duas missões: levar carvão para abastecer navios de guerra ingleses e voltar com manganês para fabricar munição. É começo de 1918 e a Primeira Guerra Mundial ainda não terminou. O navio chega ao Brasil, entrega o carvão, recebe a nova mercadoria e segue. Abastece em Barbados. E nunca mais é visto.

Por ter sumido no Triângulo das Bermudas, o naufrágio do Cyclops carrega mistérios. Mas, na verdade, assim que chegou ao Rio de Janeiro, o comandante reportou problemas com o motor de estibordo, restringindo a velocidade a 10 nós e prejudicando a navegação. Suspeita-se também que o navio tenha sido sobrecarregado no Brasil – e talvez o carvão extra de Barbados tenha sido fatal. O navio sumiu junto com 306 pessoas.

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4. OS PESCADORES DO HAVAÍ [1979] Havaí

Cinco experientes pescadores saem da ilha de Wailuku, no Havaí, no começo da tarde para uma pescaria em alto mar. À noite, o tempo muda e cai uma violenta tempestade. O bote Sarah Joe com os pescadores nunca retorna à ilha. E só é encontrado nove anos depois, em 1988, por um biólogo americano que inspecionava um atol deserto nas Ilhas Marshall, mais de 3,2 mil quilômetros longe de Wailuku. Próximo ao barco havia uma pequena cova com pedras, uma cruz feita de galhos, e blocos de papiro com pedaços de metais parecidos com ouro. Mais tarde, exames com a arcada dentária revelariam que o corpo era de um dos tripulantes do Sarah Joe.

Até hoje não se sabe quem ou o que enterrou o pescador, nem como o bote foi parar naquela ilha, inspecionada três anos antes. Acredita-se que um dos tripulantes tenha se amarrado ao barco durante a tempestade, morrido lá mesmo, e sido enterrado por chineses que pescavam ilegalmente em águas americanas. Por conta da clandestinidade, nunca informaram ninguém sobre o corpo. Os outros pescadores do Sarah Joe jamais foram encontrados.

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