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Emissões da Revolução Industrial ficaram marcadas no gelo do Himalaia

Atividade humana contaminou a cordilheira asiática quase dois séculos antes de alguém escalá-la, revela estudo.

Por Bruno Carbinatto
12 fev 2020, 15h57

Os humanos só chegaram no ponto mais alto da Cordilheira do Himalaia – um enorme conjunto de montanhas localizado no continente Asiático – em 1953. Mas, quase dois séculos antes, a atividade humana já deixava suas marcas por lá: uma equipe de cientistas encontrou níveis anormais de metais em amostras de gelo que datam da época da Revolução Industrial. 

O estudo, publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, indica que subprodutos da queima de carvão da segunda metade do século 18 foram levados à cordilheira por ventos vindos da Europa Ocidental – mais especificamente, as substâncias chegaram à geleira Dasuopu da montanha Shishapangma, na China. Com mais de 8 mil metros de altura, a montanha é a 14ª maior do mundo.

Para chegar no resultado, os pesquisadores da Universidade Estadual de Ohio, nos Estados Unidos, analisaram grandes amostras cilíndricas de gelo conhecidas como “testemunhos de gelo”, retiradas da montanha em uma expedição de 1997.

Os resultados da análise indicaram níveis acima do normal de metais tóxicos como zinco, níquel, crômio e cádmio – todos conhecidos por serem subprodutos da queima de carvão. E a datação da equipe indicou que esses metais vinham da segunda metade do século 18, quando, justamente, a humanidade passou a queimar mais combustível. 

Testemunhos de gelo são cilindros formados por camadas de gelo, sendo as externas formadas mais recentemente e as centrais, mais antigamente. Dessa forma, cientistas conseguem analisar as mudanças na composição do material ao longo do tempo com grande precisão. As amostras pesquisadas no novo estudo tinham camadas formadas entre 1499 e 1992, segundo a equipe. E foi só a partir das camadas formadas em 1780 que os metais detectados aparecerem em níveis acima do normal – justamente na época em que se iniciou o processo de Revolução Industrial. 

A Revolução Industrial começou no Reino Unido na segunda metade do século 18 e substituiu a produção de manufaturas por produção de máquinas, alimentadas, principalmente, pela queima do carvão. Em poucas décadas, a revolução se espalhou para outros países europeus e para os Estados Unidos. Os pesquisadores acreditam que as emissões crescentes da queima de carvão foram levadas milhares de quilômetros para leste através correntes de circulação atmosférica, sendo posteriormente gravadas nas camadas de gelo.

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A equipe também acredita que as altas quantidades dos metais encontradas em camadas posteriores, especialmente o zinco, podem ter vindo também de queimadas florestais. Incêndios naturais podem ter sido os responsáveis, mas os pesquisadores também trabalham com outra possibilidade: a de queimadas causadas por humanos. “O que acontece é que, além da Revolução Industrial, a população humana também aumentou consideravelmente e se expandiu nessa mesma época”, explica Paolo Gabrielli, principal autor do estudo. “Dessa forma, havia uma maior necessidade de se criar campos agrícolas  – e a maneira mais fácil de fazer isso era queimar florestas”.

As contaminações por atividade humana identificadas precedem em mais de um século a chegada dos humanos aos locais em si. O Monte Everest, maior montanha da cordilheira do Himalaia (e também do mundo), só foi escalado em 1953; já Shishapangma, a montanha de onde as amostras foram retiradas, só recebeu humanos em seu pico em 1964. 

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A equipe também fez questão de lembrar que os resultados equivalem a um processo de contaminação, não de poluição – a diferença, nesse caso, é a quantidade de substâncias identificadas. “Os níveis de metais encontrados eram maiores do que o natural, mas não eram altos o suficiente para serem tóxicos ou venenosos”, explica Gabrielli. “No entanto, no futuro, essa bioacumulação pode concentrar perigosos níveis de metais nos tecidos dos organismos que vivem nos ecossistemas da geleira”, alerta.

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