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Enfeites de casca de ovo de avestruz revelam primeira rede social do mundo

Pessoas que habitavam o leste e o sul da África usaram ornamentos quase idênticos entre 50 e 33 mil anos atrás.

Por Luisa Costa
Atualizado em 26 jul 2022, 13h53 - Publicado em 16 fev 2022, 19h18

Pequenas contas em forma de rosquinha são um dos artefatos arqueológicos mais encontrados na África. Acredita-se que o Homo sapiens tenha começado a usar contas há 75 mil anos, e a produção de colares pré-históricos com esse material tenha decolado 25 mil anos depois. Feitas com cascas de ovos de avestruz, as contas são o mais antigo ornamento totalmente fabricado por humanos – e ainda hoje são usadas por comunidades tradicionais africanas. Por isso, podem conter grandes revelações sobre o passado da humanidade.

Cientistas do Max Planck Institute, da Alemanha, estudaram mais de 1,5 mil contas, quase idênticas em relação ao formato, tamanho e estilo, e descobriram que elas sustentaram a primeira rede social de que se tem notícia, 50 mil anos atrás.

As contas artesanais apresentam variações de estilo e, por isso, ajudam os arqueólogos a traçar conexões culturais entre diferentes povos ao longo da história. “É como seguir uma trilha de migalhas de pão”, afirma Jennifer Miller, coautora do estudo. “As contas são pistas, espalhadas no tempo e no espaço, apenas esperando para serem notadas.”

Comparação de contas de ovos de avestruz mapeadas nas regiões sul e leste da África.
(Jennifer Miller/Divulgação)

Miller se juntou à pesquisadora Yiming Wang, também do Max Planck, para analisar contas de ovos de avestruz que foram encontradas em 31 locais diferentes, no leste e no sul da África – a uma distância de 3 mil quilômetros.

As pesquisadoras descobriram que, entre 50 mil e 33 mil anos atrás, as pessoas dessas regiões distantes usavam acessórios de contas quase idênticas – uma evidência cultural da conexão entre grupos desses lugares.

As contas mais antigas foram encontradas em locais ao leste do continente, então podem ter se espalhado para o sul a partir de lá. Talvez tenham sido trocadas diretamente entre as pessoas, mas o intercâmbio de conhecimento sobre como fabricá-las é mais provável.

E por que essa moda se espalhou? “As pessoas faziam [e usavam] as contas para comunicar mensagens simbólicas, como hoje usamos uma aliança de casamento, para indicar algo sobre status social, riqueza ou posição na sociedade”, afirmou Miller à CNN.

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O estudo indica que as pessoas usavam contas idênticas até 33 mil anos atrás. Depois, a conexão entre as regiões parece ter desaparecido – e a causa pode ter sido uma barreira geográfica.

As pesquisadoras apontam que nessa época houve uma grande mudança climática. Uma forte seca atingiu o leste da África, e as chuvas se deslocaram para o sul, o que causou inundações na área da bacia do Rio Zambeze – que teriam cortado a ligação entre povos do leste e do sul do continente. Foi o fim dessa rede social pré-histórica.

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