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Lost:pensando bem longe

Como Rousseau e outros pensadores fazem parte da série

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h26 - Publicado em 31 jul 2006, 22h00

Paulo Terron

Às vezes é imperceptível, mas a filosofia sempre esteve presente na televisão. Do humor ácido do britânico Monty Python (que colocou filósofos para disputar uma partida de futebol) até Os Simpsons (base perfeita para a análise do comportamento humano, dizem alguns especialistas), as teorias e conceitos estiveram ali, esgueirando-se para atingir os espectadores. Em Lost, tudo é um pouco mais direto – o que não quer dizer que seja simples.“Lost é maravilhosamente bem escrito, e os autores não subestimam a inteligência de quem assiste”, explica Lynnette Porter, professora de ciências humanas e sociais da Emby-Riddle Aeronautical University, e co-autora do livro Unlocking the Meaning of Lost. “Nem todo mundo que assiste ao programa precisa entender cada referência cultural para que a história faça sentido.”

É só abrir os olhos. A filosofia está aplicada aos episódios da série em várias formas, seja pela personificação de figuras históricas importantes, pela utilização de teorias ou até em pequenos detalhes. Ou vai dizer que você nunca pensou que Os Outros, os misteriosos inimigos dos sobreviventes, ganharam esse nome por causa da frase “O inferno são os outros”, de Jean-Paul Sartre?

Locke e as moscas

Uma das referências mais claras é ao filósofo britânico John Locke (1632-1704), que não só empresta nome e sobrenome a um personagem importante da série como também algumas de suas idéias. Um dos episódios até levou o nome de Tabula Rasa, teoria de Locke que se aplica perfeitamente ao que os moradores da ilha estão vivendo: aprendendo conceitos básicos de sobrevivência a partir do zero, preenchendo suas personalidades como se elas fossem folhas em branco.

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A mesma idéia foi usada por outro britânico, o escritor William Golding, no livro O Senhor das Moscas (1954). Nele, um grupo de crianças sobrevive a um naufrágio e passa a viver e crescer longe da influência dos adultos – e desenvolvem uma maldade natural, que não surge com o contato com a sociedade tradicional. Esse pensamento renega o que acreditava, por exemplo, o filósofo Jean-Jacques Rousseau (1712-1778). Ele desenvolveu a teoria do bom selvagem – o humano não contaminado, em seu estado original, essencialmente de boa índole. Não é à toa que o livro de William Golding é considerado uma metáfora filosófica sobre a moralidade das pessoas.

E se ainda assim não parece que as duas histórias tenham relação direta, basta lembrar que Sawyer falou sobre a publicação em …In Translation, episódio da primeira temporada, e que Charlie também a citou em What Kate Did, no segundo ano. Mais uma relação importante: no livro há um disputa pela liderança entre dois personagens, Ralph e… Jack.

Trio de pensadores

A segunda temporada, aliás, dá espaço para outro personagem filosófico. Desmond David Hume, uma imagem do passado de Jack, ressurge com a importante tarefa de mostrar aos sobreviventes como operar o mecanismo que está dentro da misteriosa escotilha descoberta por Locke. David Hume também é o nome de um filósofo escocês, que viveu entre 1711 e 1776. Uma das principais teses defendidas pelo estudioso é a de que a personalidade de cada um não é única, já que ela muda a cada momento, devido a diversas influências externas. Exatamente como ocorre na ilha da TV, onde os personagens tentam “modificar” sua essência para escapar de erros do passado. O filósofo também defendia uma regra básica quanto a atividades sobrenaturais (algo quase corriqueiro em Lost): só devemos acreditar no que presenciamos e vemos com nossos próprios olhos, deixando de lado relatos alheios (que poderiam estar contaminados pela mentira ou pelo equívoco).

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E não é à toa que Locke e Hume, os personagens, se dão bem – normalmente Locke e Hume, os filósofos, são enquadrados na mesma categoria, a de empiristas britânicos. Hume também era amigo de Jean-Jacques Rousseau, filósofo que dá o sobrenome a outro personagem de Lost, Danielle. Ou seja, os 3 elementos da série que a relacionam ao mundo da filosofia – Locke, Hume e Rousseau – também estavam ligados na vida real. E tudo fica ainda mais interessante quando os fãs começam a desenvolver teorias baseadas na realidade. Por exemplo, muitos já acreditam que, no futuro, Desmond Hume e Danielle Rousseau vão se desentender, como ocorreu com os dois filósofos no passado.

Essa abertura à discussão, às teorias, tomou proporções nunca antes vistas em uma série de TV devido a um desenvolvimento tecnológico razoavelmente recente: a internet. Milhares de listas de discussão, sites, blogs, podcasts debatem os detalhes exaustivamente, 24 horas por dia.

Para ler mais

Tratado da Natureza Humana, de David Hume; Segundo Tratado sobre o Governo, de John Locke; Do Contrato Social, de Jean-Jacques Rousseau.

Quando aparecem: O tempo todo. Dos nomes dos personagens às aplicações de algumas de suas teorias e questões, a obra desses filósofos é uma grande inspiração para a construção da sociedade de Lost.

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Sobre o que são: Grandes nomes da filosofia que discutem a organização social e a natureza humana.

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