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Luigi Lilius e Christopher Clavius: os verdadeiros inventores do calendário atual

Eles ajustaram os anos bissextos e cortaram 10 dias do ano. Hoje contabilizamos o tempo com mais precisão graças ao calendário gregoriano.

Por Maria Clara Rossini
1 Maio 2024, 16h00

2024 é ano bissexto. Em vez de 28 dias, o mês de fevereiro teve um chorinho a mais, com a 29º folhinha no calendário. Isso ocorre porque a Terra leva um pouco mais de 365 dias para dar uma volta ao redor do Sol. Em vez de comemorar o réveillon algumas horas depois da meia noite, nós adicionamos um dia a mais no calendário a cada quatro anos. Como se fosse uma forma de recalibrar o relógio.

Quem introduziu essa regra foi o imperador Júlio César, em 46 a.C., para corrigir as confusões causadas pelo sistema de contagem anterior. No ano seguinte, o Império Romano passou a usar o calendário juliano, que permaneceu em vigor por mais de 1.600 anos. 

A partir daí, passou-se a considerar que o ano leva 365,25 dias para dar uma volta no Sol. 0,25 vezes 4 resulta no dia extra do ano bissexto.

O problema é que isso também estava errado.

Na verdade, o movimento de translação da Terra dura 365,242189 dias. É uma diferença de 11 minutos e 14 segundos em relação ao calendário juliano. Demora 128 anos para que esse tempo se acumule até virar um dia de diferença. Mas uma hora ele chega.

No século 16, esse acúmulo de dias já tinha virado um problema – principalmente para determinar a páscoa. Desde o século 4, a páscoa ocorre no primeiro domingo após a primeira lua cheia do equinócio vernal, o que caía por volta de 21 de março.

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Nos anos 1500, a páscoa estava caindo no dia 11 de março, devido ao descompasso entre o ano juliano e o tempo real de translação da Terra. O Papa Gregório XIII, que assumiu o pontificado em 1572, foi quem acertou o relógio, chamando astrônomos para corrigir o problema e criar um novo calendário.

O calendário gregoriano

É aí que entra um italiano chamado Luigi Lilio (ou Giglio, em outra grafia). Ele nasceu na comuna de Cirò, região de Calábria, e foi médico, filósofo e astrônomo ao longo da vida. Ele verificou a diferença de 11 minutos no calendário juliano e propôs reduzir a frequência dos anos bissextos. Isso seria feito baseando-se em um modelo matemático que garante a recorrência da páscoa na mesma época.

Busto de Luigi Lilius.
Busto de Luigi Lilius. (Wikimedia Commons/Reprodução)

Luigi escreveu uma proposta de mudança. Mas foi seu irmão, Antonio (também astrônomo), quem apresentou o manuscrito ao Papa Gregório XIII. Em 1577, a comissão formada para analisar o novo calendário publicou o documento Compendium novae rationis restituendi kalendarium (Compêndio de um Novo Plano para a Restituição do Calendário), que descreve as mudanças que seriam implementadas.

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O astrônomo italiano morreu em 1576, sem ver suas ideias postas em prática. Um outro cientista, chamado Christopher Clavius, refinou a proposta de Luigi com justificativas e cálculos mais práticos e simples. Aí está o resultado:

O calendário continuaria tendo anos bissextos a cada quatro anos. Porém, caso o ano fosse divisível por 100 e não divisível por 400, então ele não teria um dia a mais

Exemplo: os anos 1700, 1800 e 1900 são divisíveis por 100, mas não por 400, então eles não poderiam ser anos bissextos. Já os anos 1600 e 2000 foram bissextos já que, apesar de serem divisíveis por 100, eles também podem ser divididos por 400.

Com esse ajuste, o ano do calendário passaria a ter 365,2425 dias, em vez de 365,25. Ainda não é 100% preciso, mas já está bem mais próximo do ano solar verdadeiro.

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Christopher Clavius.
Christopher Clavius. (Wikimedia Commons/Reprodução)

O novo calendário ficou conhecido como calendário gregoriano, em homenagem ao Papa. Ele foi oficializado pela bula papal Inter gravissimas em fevereiro de 1582. Alguns países demoraram anos para aderir ao novo padrão, mas acabaram cedendo. Esse é o calendário que está no seu celular, na sua mesa de trabalho e na parede da casa da sua mãe. O calendário gregoriano é o padrão utilizado hoje em dia.

Um último detalhe: os clérigos tinham que dar um fim nos 10 dias de descompasso que tinham sobrado do calendário juliano, para que o domingo de páscoa voltasse a ser no fim de março. O corte rolou no segundo semestre: o dia 4 de outubro de 1582 foi sucedido pelo dia 15 de outubro de 1582. 

O que aconteceu com os dias do meio? Nada. Eles só sumiram do calendário. Foi um sacrifício necessário para que a páscoa de 1583 voltasse a ser comemorada em 21 de março.

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