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Neandertais conseguiam processar e produzir linguagem, diz estudo

Uma nova reconstrução auditiva da espécie mostra que eles eram sensíveis às frequências de sons produzidos por humanos. Entenda.

Por Maria Clara Rossini
2 mar 2021, 18h08

Os ancestrais mais próximos dos Homo sapiens não compartilhavam apenas parte do DNA conosco, mas também a capacidade de falar e entender a linguagem oral. A reconstrução em 3D dos ossos cranianos dos neandertais, feitas por um novo estudo, mostram que eles possuíam as estruturas anatômicas necessárias para ouvir e falar.

Não se sabe se eles realmente falavam uma língua própria, mas os neandertais tinham condições de processar o mesmo tipo de linguagem que nós, humanos modernos. “Isso não significa que eles falavam a mesma língua, como inglês, espanhol, nada disso. Mas se os H. sapiens pudessem ouví-los, saberíamos reconhecer que eles são humanos”, disse o pesquisador Mercedes Conde-Valverde à New Scientist.

A evolução da linguagem é uma questão debatida há tempos na biologia evolutiva. Não se sabia se outros hominídeos conseguiam se comunicar da mesma forma que nós, pela língua falada. O novo estudo conduzido pela Universidade de Acalá, na Espanha, e publicado na Nature Ecology and Evolution indica que sim. Bom, pelo menos para os neandertais.

Os pesquisadores construíram modelos 3D da estrutura auditiva do Homo neanderthalis para compará-la com a do Homo sapiens. O estudo foi feito com base em crânios de cinco neandertais de regiões distintas. Após aplicar técnicas de bioengenharia auditiva, foi possível estimar que a espécie tinha sensibilidade para frequências de até 5.000 Hz, o que compreende a maior parte dos sons produzidos por humanos.

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Imagem 3D de dois crânios.
(Mercedes Conde-Valverde/Reprodução)

A equipe também reconstruiu a audição dos hominídeos que viviam na caverna Sima de los huesos, na Espanha, há 430 mil anos. Esses são considerados os ancestrais imediatos dos neandertais. O modelo mostra que os humanos Sima, como são chamados, tinham uma audição ligeiramente pior, entre 4 mil e 5 mil Hz. Isso indica que a audição dos neandertais evoluiu a partir daí, se aproximando um pouco mais da dos H. sapiens.

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A efeito de comparação, um ser humano moderno consegue ouvir entre 20 e 20.000 Hz, mas não temos tanta sensibilidade para frequências muito baixas (som grave) ou muito altas (som agudo). Conseguimos distinguir melhor as frequências que estão no nosso limite de fala, pois essas são as mais determinantes para a comunicação.

A sensibilidade auditiva de uma espécie está diretamente relacionada ao seu sistema de comunicação. Faz sentido, por exemplo, que os morcegos sejam mais sensíveis a altas frequências, já que eles emitem ondas bem acima dos 20 mil Hz para se localizarem no escuro. Para nós, o mais importante é reconhecer membros da mesma espécie. Portanto, se os neandertais eram sensíveis às frequências da voz humana, é provável que conseguissem emitir essas frequências também.

O estudo também sugere que os neandertais conseguiriam diferenciar consoantes, em sons como os das letras “s”, “k”, “t” e “th”. “Estudos anteriores focaram na habilidade dos hominídeos em produzir vogais […], mas o uso de consoantes é o que separa a fala humana dos padrões de comunicação em quase todos os outros primatas”, disse Rolf Quam, professor de antropologia e um dos autores do estudo, em um comunicado.

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A noção de que os neandertais eram seres primitivos não poderia ser mais ultrapassada. Já se sabe que eles enterravam seus mortos, produziam arte rupestre e fabricavam ferramentas. Muitos cientistas já acreditavam que eles precisariam fazer uso de alguma linguagem para coordenar essas tarefas, o que foi reforçado pelo estudo recente. O grupo também pretende fazer a mesma análise com fósseis de outras espécies de hominídeos.

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