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Nickelodeons: os cinemas dos anos 1910 que deram nome ao canal

Esses antepassados das salas atuais exibiam filmes curtinhos, reportagens, desenhos e clipes – como se fosse a programação de uma emissora de TV.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
29 mar 2024, 16h00

A Nickelodeon, fundada em 1979, foi o primeiro canal de TV a cabo infanto-juvenil. E seu nome vem dos primeiros cinemas do mundo, criados nos EUA e no Canadá entre 1905 e 1915.

A entrada nesses estabelecimentos custava cinco centavos de dólar, e essa moedas têm o apelido de nickel em inglês, porque são feitas de uma liga metálica de níquel e cobre. Isso explica a primeira parte do nome.

O precinho acessível resultava em condições insalubres: as salas eram apertadas e quentes, com cadeiras de madeira duras, sem acolchoado. E boa sorte com o cheiro de cigarro: nessa época, não era proibido defumar os pulmões em locais fechados.

Foto em preto e branco da fachada ornamentada de um cinema do tipo nickelodeon em Toronto, no Canadá.
(William James/Domínio Público)

Esclarecida a parte do nickel, vamos ao odeon.

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A palavra tem a mesma raiz grega de “ode” em português. Esse termo se referia, originalmente, a uma canção ou poema: na Grécia Antiga, os poemas eram cantados, então a divisão contemporânea entre as duas coisas sequer faz sentido.

Os”odeons”, por sua vez, eram um tipo de teatro grego-romano de pequeno porte usado para apresentar odes. Ou seja: eles foram as primeiras casas de show da civilização ocidental. Veja, abaixo, as ruínas do odeon de Eféso, na Turquia.

A imagem mostra um antigo anfiteatro de pedra, cinza, sem teto, em ruínas, localizado no sopé de um morro arborizado.
(Ad Meskens/Wikimedia Commons)
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Por causa disso, muitos estabelecimentos associados às artes carregam esse nome. Existe o cinema Odeon no Rio de Janeiro, a rede de cinemas britânica Odeon, o teatro Ódeon de Paris e um outro teatro Odeon em Bucareste, na Romênia.

A palavra remete a uma certa sofisticação, e reside justamente aí a piada: um nickelodeon é um odeon de centavos, e portanto, uma contradição em termos.

No final do século 19, a forma mais comum de entretenimento na América do Norte era um gênero de espetáculo intermediário entre o circo e o teatro de comédia chamado vaudeville. 

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As apresentações de vaudeville eram uma salada: incluiam cantores, malabaristas, humoristas, sósias, acrobatas, mágicos, palhaços… Esses artistas se alternavam em performances breves de dez ou quinze minutos.

Após a invenção dos projetores, o cinema se tornou uma dessas atrações. Os filmes da época tinham apenas alguns minutos de duração e se encaixavam bem no rodízio de entretenimento.

Os Nickelodeons surgiram como uma alternativa de classe trabalhadora aos vaudevilles e, sem perceber, se tornaram antepassados da televisão.

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O ingresso permitia a permanência por tempo indeterminado, e o cliente assistia a uma sequência de filmes de diferentes tipos: histórias, reportagens, documentários, desenhos animados e até clipes. Ou o mais próximo de um clipe que existia naquela época: uma banda tocava em sincronia com cenas mudas exibidas na telona, um tipo de apresentação que era chamada de “canção ilustrada”.

Da próxima vez que ligar a televisão, então, você pode pensar nela como um teatro que sai de graça. Com uma vantagem: dá para zapear (rs) entre as atrações. Afinal, nada dá mais preguiça do que o vaudeville do Silvo Santos aos domingos.

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