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O acidente que matou Juscelino Kubitschek foi provocado pelos militares?

Um dos presidentes mais populares da história do Brasil morreu misteriosamente quando lutava pela redemocratização do país

Por André Bernardo
Atualizado em 30 mar 2023, 15h44 - Publicado em 29 nov 2017, 15h17

Em 2013, a Comissão Municipal da Verdade de São Paulo concluiu que Juscelino Kubitschek, ex-presidente do Brasil (1956-1961), foi assassinado em 1976, na Rodovia Presidente Dutra. Seu Opala preto se desgovernou, supostamente, após se chocar com um ônibus, cruzou a pista e bateu de frente com uma carreta Scania. JK e o motorista, Geraldo Ribeiro, morreram na hora. O presidente da comissão, Gilberto Natalini, disse ter mais de 90 indícios de que “JK foi vítima de complô e atentado político”.

O complô em questão era a Operação Condor, firmada entre as ditaduras de Brasil, Argentina, Chile e Paraguai. Em 1975, o general João Figueiredo, chefe do SNI (serviço secreto do governo brasileiro), recebeu uma carta de Manuel Contreras, chefe do serviço secreto chileno. O texto falava que JK e Orlando Letelier (ex-ministro de Salvador Allende, presidente derrubado pela ditadura chilena) “poderiam influenciar seriamente a estabilidade do Cone Sul”.

No Brasil, JK, João Goulart e Carlos Lacerda articulavam a criação de uma Frente Ampla que lutava pela volta da democracia. Coincidência ou não, em menos de um ano os três morreram em circunstâncias misteriosas. Em 21 de setembro de 1976, um mês depois de Juscelino, Letelier foi morto em uma explosão em Washington (EUA). Na ocasião, Contreras foi declarado culpado.

Em 7 de agosto de 1976, foi noticiado que JK havia morrido no carro no caminho de sua fazenda, em Luziânia (GO), a Brasília (DF). Mas era mentira. Ele até havia planejado fazer o percurso, mas desistiu na última hora. A fazenda, na época, não tinha telefone. Quando soube dos rumores, teria comentado com Serafim Jardim, seu secretário particular: “Estão querendo me matar, mas ainda não conseguiram”. Em seguida, recebeu jornalistas para desmentir a informação.

(Caio Cacau/Mundo Estranho)

Franco-atirador
Duas semanas após o alarme falso de Luziânia, o acidente: o motorista de JK teria perdido o controle do carro após levar um tiro na cabeça. O disparo teria partido de uma Caravan ou de um atirador de elite. Segundo os laudos, havia um fragmento de metal no crânio do motorista. O perito criminal Alberto de Minas declarou que, no dia da exumação do corpo de Geraldo Ribeiro, em 1996, viu um buraco de tiro no crânio. Quando tentou fotografar, foi impedido por policiais.

Há quem garanta que um explosivo tenha sido colocado no carro quando JK parou no hotel-fazenda Villa-Forte, em Engenheiro Passos, distrito de Resende (RJ) momentos antes de morrer. O dono do hotel, brigadeiro Newton Junqueira Villa-Forte, deixou o local pouco após a chegada de Juscelino, alegando que precisava fazer compras. Segundo a comissão, Junqueira era ligado ao SNI e tinha sido professor de Figueiredo. Outra versão diz que os freios do carro foram sabotados

O motorista do caminhão que colidiu com o Opala, Ademar Jahn, também prestou depoimento à comissão. Ele declarou que, segundos antes da batida, viu Geraldo Ribeiro “debruçado, com a cabeça caída entre o volante e a porta do automóvel”. Para Jahn, “não restava dúvida de que o condutor se encontrava desacordado e inconsciente, e já não controlava o veículo, antes do impacto”

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Josias de Oliveira, motorista do ônibus acusado de bater na lateral do Opala e fazê-lo se desgovernar, disse que, depois do acidente, foi procurado por dois homens que ofereceram dinheiro para que assumisse a culpa. Mas, segundo ele, não houve choque. A versão foi endossada por um passageiro do ônibus, Paulo Olivier, que declarou que o Opala bateu numa mureta da Dutra antes de se chocar com o caminhão. Pela versão oficial, o ônibus teria “abalroado” o carro, desgovernando-o.

Por outro lado
Laudos confirmam o acidente. Mas ainda há pontos mal contados nessa história.

  • Em 2014, a Comissão Nacional da Verdade, após investigar a hipótese de atentado levantada pela Comissão Municipal da Verdade, concluiu que o governo militar não teve participação na morte de JK. A morte foi provocada pela colisão do Opala contra a carreta.
  • Segundo análise do legista Márcio Alberto Cardoso, o fragmento metálico encontrado no crânio do motorista era um prego enferrujado (do caixão) e não um projétil de arma de fogo.
  • Os peritos refutaram as teses de explosão e sabotagem. Não havia resíduos de explosivo na carcaça do veículo nem indícios de que o freio tivesse sido sabotado.
  • De acordo com os laudos, o ônibus bateu de lado no Opala. Os passageiros não perceberam porque foi um toque considerado sutil para um veículo de 12 toneladas.
  • Na época do acidente, os peritos realizaram um exame em que foi possível apurar que havia vestígios da tinta do Opala preto na lateral do ônibus e vice-versa.
  • Pelas marcas dos pneus no asfalto, o motorista tentou recuperar o controle da direção antes de colidir com a carreta, o que indica que ele não estava desacordado.
  • A notícia da falsa morte não tem explicação coerente até hoje e só reforça o fato de que JK era um elemento temido e visado pelos militares. Mas ela, sozinha, não comprova que JK foi assassinado.

FONTES Livros JK e a Ditadura, de Carlos Heitor Cony, O Beijo da Morte, de Carlos Heitor Cony e Anna Lee, Juscelino Kubitschek – Onde Está a Verdade?, de Serafim Jardim; jornais O Globo, Folha de S.Paulo e Correio Braziliense

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