O Brasil em Lost
Duas atrizes brasileiras, um monstro lendário e uma fala sinistra em português colocam o país na trama do seriado
Carina Martins
Praias de areia branquinha, clima quente, chuvas tropicais, diversidade racial e um governo meio esquisito. Se você acha que o Brasil só chega perto de Lost na descrição turística da ilha misteriosa, prepare-se: tem brasileiro no seriado.
Entre as vítimas do desastre de avião há duas atrizes brasileiras: Marjorie Mariano e Márcia Ardito fazem parte do núcleo que estava no vôo 815 da Oceanic e também sobreviveu, mas que não está exatamente entre os mais próximos a Jack. Ou seja, aquelas dezenas de sobreviventes que aparecem no fundo das cenas e não fazem parte do núcleo principal.
Apesar de não se envolver em grandes tramas e diálogos, ambas fazem parte de um elenco fixo de figurantes, personagens anônimos. Por enquanto. Quando esteve no Brasil recentemente, Marjorie disse a várias publicações que os roteiristas deram sinal de que, com a necessidade do programa de integrar novos personagens à trama, aos poucos os outros sobreviventes seriam incorporados à história principal.
Ela ainda não chegou lá, mas quase – no episódio Moth, Marjorie tinha uma fala programada (“Shannon, o que é aquilo? Olha, tem uma luz no céu!”). A cena que foi ao ar mostra Shannon conversando com ela, mas sua fala foi suspensa na última hora. Acabou aparecendo só apontando o céu para a dondoca irmã de Boone.
Além das duas “sobreviventes”, há uma outra atriz conterrânea no set de filmagens. Cláudia Cox é stand-in (pessoa que fica no lugar da estrela para testes de luz, por exemplo) e dublê de ninguém menos que Evangeline Lilly. Ela também substituía Maggie Grace em algumas cenas, na primeira temporada.
Mas não estamos na ilha apenas fornecendo mão-de-obra. Por pelo menos duas vezes, o Brasil já esbarrou em questões essenciais da trama.
A primeira foi em um easter egg, logo no início da série, quando começou a circular pela rede a imagem de uma suposta página de script que daria detalhes sobre o monstro da ilha. Tal imagem foi divulgada pelos próprios realizadores da série, escondida no site da empresa fictícia https://www.oceanic-air.com, e parecia ser uma versão considerada – e não descartada – por J.J. Abrams, para explicar o lostzilla.
No texto, os sobreviventes eram assombrados pelo mapinguari. Que nada mais é que a versão tupiniquim do pé-grande, com um toque de bicho-preguiça pré-histórico de proporções gigantescas. Assustador. A lenda faz parte da cultura amazônica, e consta dela que o bicho não tem nada de mansinho. Se o roteiro era real ou não, e o monstro será esse mesmo, ninguém fora do Havaí sabe. Mas a imagem do mapinguari continua aparecendo com freqüência nos misteriosos sites do Lost Experience (veja na página 44).
A segunda vez que o Brasil entra na série é em Live Together, Die Alone, o final da segunda temporada. Portanto, só foi revelada para quem já viu o episódio, ainda inédito por aqui (ou não agüentou de curiosidade e olhou no caderno secreto). Mas, para ninguém ficar com água na boca, a gente conta um trechinho sem estragar a história. Veja este diálogo:
– Quem quebrou isso, hein? Tá quebrado!
– Eu destruí a sua defesa. Esta será a última vez que você vê a torre.
– É parte do plano, meu amigo, é tudo parte do plano.
– Ah, então seu plano deve ser perder! Agora, por favor… (olha de repente para o computador)
– O quê?
– Há quanto tempo tá fazendo isso?
– É isso, não é? A gente não percebeu de novo, eles vão matar a gente!
– Venha cá! A gente não perdeu.
– Fala, fala que é de novo um alarme falso, fala de novo que é, é uma mensagem…
– CALA A BOCA E CHAMA AJUDA!
Pois o diálogo vai ao ar exatamente assim, falado em português do Brasil. Com iraquianos, americanos, australianos, coreanos, nigerianos, ingleses, franceses e escoceses representados, faltava mesmo um brasileiro para completar a babel de línguas e sotaques da série. Quem sabe é um indício de que o novo personagem latino prometido para a terceira temporada não é oriundo destas terras…