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O homem que “descobriu” seis elementos químicos – mas não recebeu crédito por eles

Carl Scheele fabricou gás oxigênio dois anos antes da descoberta “oficial”. Também sabia da existência do nitrogênio, bário e cloro antes que eles fossem isolados. Conheça o gênio mais azarado da história.

Por Maria Clara Rossini
Atualizado em 15 Maio 2023, 15h27 - Publicado em 12 Maio 2023, 17h45

O oganesson é o elemento mais pesado da tabela periódica. Com incríveis 118 prótons no seu núcleo, ele foi sintetizado em laboratório em 2006 e recebeu o nome oficial em 2016. Agora, você pode estar se perguntando: não dava para ter escolhido um nomezinho melhor?

Boa parte dos elementos químicos são batizados em homenagem às pessoas que os isolaram pela primeira vez. O oganesson, por exemplo, recebeu esse nome graças ao Yuri Oganessian, líder da equipe de pesquisadores que sintetizou o elemento.

Se existe alguém que merecia ter o nome na tabela periódica, esse alguém é Carl Scheele. O químico sueco detectou nada menos que 6 elementos, mas a sorte nunca esteve a seu favor: seja por atrasos na publicação de seus artigos ou dificuldades técnicas, Scheele sempre perdeu o título de “descobridor” para algum outro químico.

Ele trabalhava como farmacêutico e trabalhou em laboratórios em Uppsala e Köping, na Suécia, onde realizava seus experimentos. Além da detecção de elementos até então desconhecidos, Scheele fez contribuições importantes para a ciência do século 18, como a síntese do ácido nítrico e cianeto de hidrogênio.

Abaixo, confira os elementos que Carl Scheele detectou – e por que ele mereceria o prêmio de maior azarado da química.

Oxigênio

A descoberta do oxigênio geralmente é creditada ao britânico Joseph Priestley, que publicou seus achados em 1774. No entanto, Scheele já havia identificado o elemento pelo menos dois anos antes. A partir de reações utilizando nitratos, o sueco obteve um gás que apelidou de “ar do fogo” – o oxigênio.

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Apesar de ter feito experimentos com o oxigênio em 1772, Scheele não publicou sua descoberta de imediato. Ela só foi divulgada em um livro publicado em 1777, chamado “Um tratado químico sobre o ar e fogo”. Só que nesse meio tempo Prisley já havia publicado sobre o elemento, e por isso é considerado o descobridor do oxigênio.

Nitrogênio

A maioria dos autores concorda que o químico Daniel Rutherford foi o primeiro a isolar o nitrogênio, em 1772. Só que Scheele também tem um pézinho aí. Mais ou menos na mesma época, ele conseguiu retirar oxigênio de uma amostra de ar atmosférico. Hoje sabemos que o ar é 21% oxigênio e 78% nitrogênio. O que restou na amostra de Scheele, então, foi basicamente nitrogênio. 

Em seu livro, ele escreve que o ar é composto de duas partes: o primeiro é o “ar de fogo” (oxigênio), que faz a chama durar mais tempo; o restante seria um ar “estragado”, que hoje conhecemos como nitrogênio. De toda forma, Rutherford é quem fica com os créditos da descoberta.

Bário

Em 1774, Scheele produziu um pó marrom que chamou de “barita”, uma variação da palavra grega para “pesado”. Ele sabia que havia algum elemento ali dentro, mas não conseguiu isolá-lo com sucesso. Isso só foi feito décadas depois, em 1808, pelo químico Humphrey Davy, que usou eletrólise para isolar o elemento bário.

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Cloro

No mesmo ano em que produziu o pó do bário, Scheele também fez uma solução que chamou de “ácido muriático deflogisticado” – que hoje conhecemos como o elemento cloro. Ele descreveu características da solução, mas não identificou que aquilo se tratava de um novo elemento. Foi só em 1808 que o químico Humphrey Davy (de novo) isolou o cloro e percebeu que era, sim, um novo elemento. Davy ficou com os créditos da descoberta.

Molibdênio

Aqui rolou algo semelhante ao caso do bário. Em 1778, Scheele identificou um novo elemento que compunha o mineral molibdenita, o qual ele decidiu chamar de molibdênio. Seu amigo, Peter Hjelm, pegou a sugestão de Scheele e tentou isolar o novo elemento. Deu certo. Com mais recursos e equipamentos que o colega, Hjelm obteve um pó de metal preto, se tornando a primeira pessoa a isolar o molibdênio.

Tungstênio

O último foi o tungstênio. Em 1781, ele descobriu o ácido ​​túngstico, feito a partir de um mineral que era chamado tungstenita. Scheele sugeriu que seria possível obter um novo elemento ao reduzir esse ácido. Dois anos depois, os pesquisadores (e irmãos) espanhóis José e Fausto Elhuyar isolaram o elemento tungstênio usando esse método.

Bom, dessa vez pelo menos algum crédito ele recebeu. O mineral tungstenita foi posteriormente rebatizado “scheelita”, em homenagem ao químico.

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Carl Scheele definitivamente não teve sorte – e seus equipamentos pouco avançados para a época também não ajudavam. Mas, apesar de não ser considerado o “pai” de nenhum elemento químico, suas contribuições para a área foram reconhecidas. Aos 30 anos, ele foi eleito membro da Academia Real das Ciências da Suécia, uma das instituições de maior prestígio na época. E hoje, é claro, reconhecemos suas contribuições para a descoberta dos seis elementos citados acima.

Scheele morreu em 1786, com apenas 43 anos. Acredita-se que a morte tenha sido resultado dos experimentos e manuseio de substâncias perigosas – já que, na época, químicos quase não usavam equipamentos de proteção.

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Elementar: Como a tabela periódica pode explicar (quase) tudo

Livro "Elementar: Como a tabela periódica pode explicar (quase) tudo"

Fonte: Artigo “Hard Luck Scheele”, publicado em 2015 na Nature Chemistry

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