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O Islã é maior que o terror

Depois dos atentados terroristas, o presidente visitou o Centro Islâmico de Washington e exortou os americanos a não confundirem os terroristas com as pessoas pacíficas que professam os Islã.

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Atualizado em 31 out 2016, 18h17 - Publicado em 30 set 2001, 22h00

Jomar Morais

Uma semana depois de os Estados Unidos terem sofrido o maior atentado terrorista da história, o presidente George W. Bush visitou o Centro Islâmico de Washington e, pés descalços, exortou os americanos a não confundirem os terroristas com as pessoas pacíficas que professam o Islã, a religião que mais cresce no planeta. Mesquitas têm sido apedrejadas e muçulmanos, agredidos no mundo todo, no rastro de uma confusão antiga que atingiu seu ápice sob a comoção provocada pelo terror: a completa incapacidade dos ocidentais de entender as peculiaridades e as dessemelhanças culturais que compõem o fascinante mundo islâmico.

Vistos pelos olhos de um americano – ou de um brasileiro –, um muçulmano de Dubai, árabe, e outro de Teerã, persa, pensam e agem de forma idêntica. Errado. Os 1,3 bilhão de seguidores do profeta Maomé (1,5 milhão no Brasil) não são um bloco homogêneo. Como os cristãos, dividem-se em correntes e seitas que interpretam diferentemente os textos do Corão, o livro sagrado islâmico. Os muçulmanos sequer se limitam aos países de etnia árabe, como muitos imaginam. A maior nação islâmica do mundo, por exemplo – a Indonésia –, não é árabe. Entre os 56 países em que o Islamismo é a religião predominante, há até dois vizinhos do Brasil – a Guiana e o Suriname.

Na lista, estão desde países tolerantes como Marrocos e Tunísia, que aderiram à economia global e mantêm acordos com a União Européia, até economias agrárias, como Moçambique e Afeganistão. No pequeno Dubai, 200 empresas de alta tecnologia – inclusive a IBM e a Microsoft – dão o tom da abertura ao Ocidente. Já a Malásia ostenta, no horizonte de sua capital, um par de torres bem mais altas que as que desabaram em Nova York.

A face mais conservadora do Islã se apresenta nos Estados teocráticos, onde as normas religiosas constituem ou norteiam o sistema legal e governos são dominados pelo clero. Mas países assim são absoluta exceção. Um deles é o Irã, transformado em república islâmica em 1979 (e que, nos últimos dois anos, está adotando posturas mais flexíveis). Outro é o Afeganistão, onde há cinco anos a milícia Taleban – que George W. Bush achava que era uma banda de rock – impôs a sua interpretação fundamentalista do Corão. Em ambos os países há milhões de pessoas que condenam a ditadura teocrática e são contrárias ao terrorismo. Mesmo assim, à revelia da maioria da população, os governos têm apoiado militar e financeiramente organizações violentas como o Hezbollah (no caso do Irã) e o Al Qaeda de bin Laden (no caso do Afeganistão).

“A maior parte dos movimentos políticos islâmicos não utiliza a força”, diz a professora de relações internacionais Norma Breda dos Santos, da Universidade de Brasília. O Islamismo não professa o ódio. Aliás, os árabes, assim como os judeus, cumprimentam-se desejando paz uns aos outros (salam em árabe, shalom em hebraico). A opção pelo terrorismo, minoritária nessas nações, é um fenômeno recente que nada tem a ver com a essência da crença em Alá.

Foi graças à força do Islamismo que a humanidade viu surgir, há 13 séculos, o maior império do mundo – o árabe. Durante sua expansão militar, esse sofisticado povo levou para a Europa, até então mergulhada nas trevas da Idade Média, inovações como a medicina, a história, as universidades, a ciência e a justiça. Nós, ocidentais, devemos tudo isso ao Islã.

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Quem é quem

Al Fatah

A maior facção da Organização para a Libertação da Palestina, que controla o governo palestino. Fundado na década de 50 por Yasser Arafat, o grupo foi o primeiro a realizar ataques contra Israel e a trocar a violência pela negociação.

Al Qaeda

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Grupo terrorista fundado em 1989 pelo saudita Osama bin Laden para expulsar os americanos da Arábia e da Somália. Estendeu seu combate a todos os governos não-islâmicos ou aliados de Israel. É responsável pelo atentado à embaixada americana no Quênia (213 mortos) e o principal suspeito pelo ataque ao World Trade Center e ao Pentágono.

Árabes

Etnia que se originou na Arábia Saudita e, no século VII, fundou o Islamismo. Os árabes ergueram um império que incluía o norte da África e o sul da Europa. Nem todos os muçulmanos são árabes: Afeganistão, Turquia, Indonésia e Suriname são países onde outras etnias adotaram a religião.

Hamas

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A “Resistência Islâmica” foi fundada em 1987. É uma das organizações mais radicais no confronto contra Israel. Seus atentados suicidas com homens-bomba já mataram 200 pessoas em sete anos.

Hezbollah

O “Partido de Deus” é o grupo paramilitar mais atuante no Oriente Médio. Surgiu nos anos 80, durante a invasão de Israel ao Líbano. Executa atentados e desempenha intensa atividade política.

Intifada

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Significa “rebelião popular”. Eclodiu pela primeira vez em 1987, em Gaza, após a morte de quatro palestinos atropelados por um caminhão israelense. Jovens e crianças armados com paus e pedras enfrentaram soldados israelenses nas ruas. Desde o fracasso das negociações com Israel, vivemos outra Intifada.

Islamismo

Religião criada pelo profeta árabe Maomé. Seus seguidores são conhecidos como muçulmanos.

Jihad

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Organização criada por estudantes palestinos no Egito, que atua na Faixa de Gaza. Em 1981, o Jihad assassinou o presidente egípcio Anwar Sadat, partidário da paz com Israel.

PKK

Partido dos Trabalhadores do Curdistão. Grupo da minoria curda, etnia sem Estado que habita a Turquia, o Irã e o Iraque. São acusados de terrorismo pelo governo turco, que realiza uma campanha de “limpeza étnica” contra os curdos.

Sunitas

Muçulmanos que seguem as sunas, coletânea de atos e falas de Maomé. É a corrente predominante, geralmente adotando posturas mais moderadas que os xiitas. Há exceções: o radical Taleban é sunita.

Taleban

Movimento estudantil transformado em milícia sob a influência do serviço secreto do Paquistão. Controla o Afeganistão desde 1996 e instituiu restrições aos direitos das mulheres, baniu a TV e tornou rotina a amputação de membros e a execução de criminosos. Seu líder, o mulá Mohammad Umar, dá abrigo à Al Qaeda de bin Laden.

Xiitas

Seguidores dos hashemitas, um dos ramos em que se dividiu a comunidade islâmica após a morte de Maomé. Os xiitas defendem o direito dos descendentes de Ali, primo de Maomé, ao califado. O Irã é um exemplo de país dominado pelos xiitas.

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