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A real sobre o canibalismo

O presidente Bolsonaro quis experimentar carne humana de um indígena. Se hoje parece aberração, o gosto por devorar gente esteve nas raízes da humanidade.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 6 out 2022, 13h34 - Publicado em 31 jul 2003, 22h00

Hannibal | Somos todos canibais

O presidente Jair Bolsonaro admitiu, em um vídeo, que queria ter experimentado carne humana de um indígena. Só não praticou canibalismo porque ninguém topou compartilhar a “iguaria” com ele. Bom, talvez fosse uma simples questão de timing para ele satisfazer esse desejo gastronômico exótico (para dizer o mínimo).

Há uma verdade que a humanidade tem se recusado a enxergar e admitir: somos todos potencialmente canibais. Descobertas recentes confirmam: o gosto por comer semelhantes esteve nas raízes da humanidade. Como eram esses banquetes? E em que momento abandonamos essa iguaria?

É a matéria-prima de que são feitos os pesadelos, da história de João e Maria a O Silêncio dos Inocentes. Membros humanos desossados com a mesma consideração que um açougueiro tem com um boi, o cérebro mais complexo da Terra devorado por crianças gulosas, o tutano dos ossos engolido como quem chupa uma colher de doce de leite. Não há outro retrato aparentemente tão bem-acabado de selvageria.

Esse tipo de cena embrulha tanto o estômago que varremos o canibalismo para debaixo do tapete. Para muita gente, nenhum ser humano seria capaz de agir como antropófago de livre e espontânea vontade, sem estar morrendo de fome ou insano. Rotular outros povos e culturas de canibais teria sido um jeito conveniente de desumanizá-los, de justificar sua dominação – e só. Melhor esquecer esse assunto. Mas, então, como explicar as marcas de canibalismo que os cientistas têm encontrado em toda parte – em ossos humanos antigos e até no DNA?

A investigação de ossos canibalizados com milhares de anos e de povos para os quais a antropofagia era corriqueira há poucas décadas mostra que o canibalismo não é só selvageria, mas também ato de coesão social e até de amor. Em uma ou em outra forma, a prática acompanhou o Homo sapiens do seu passado evolutivo até hoje, e talvez tenha sido comum a ponto de deixar uma assinatura no nosso RG biológico, os genes.

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Antes de mais nada, o canibalismo é só um nome genérico para algo que abrange extremos de agressividade (devorar prisioneiros de guerra) e ternura (comer as cinzas de parentes para honrá-los, como fazem até hoje os índios ianomâmis, provavelmente o único grupo étnico do planeta no qual algum tipo de canibalismo ainda é corriqueiro). Os dois casos exemplificam bem o que os antropólogos costumam chamar, respectivamente, de exocanibalismo (comer gente de fora do grupo a que se pertence) e endocanibalismo (a devoração de membros do próprio povo). As classificações, contudo, não param por aí.

“Há o canibalismo funerário, realizado para honrar os mortos; o agressivo, que visa aos inimigos, e, é claro, o de sobrevivência, praticado em condições extremas como acidentes e naufrágios”, diz a arqueóloga italiana Paola Villa, da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos. “Na Idade Média e na Renascença, houve até o que podemos chamar de canibalismo medicinal, no qual certos remédios incluíam sangue ou tecidos humanos”, afirma ela.

Classificar é a parte fácil. Difícil é entender quais as raízes do ato e por que ele provoca repulsa e fascínio em igual medida. O nojo que a mentalidade européia sentia pelos banquetes canibais costuma ser personificado pelo aventureiro alemão Hans Staden. Em 1554, ele comandava o forte português de Bertioga, no litoral de São Paulo, e passou oito meses prisioneiro dos índios tupinambás, notórios apreciadores de carne humana assada sobre uma grelha de madeira. No relato que publicou depois de voltar à terra natal, Staden diz ter argumentado com o chefe indígena Cunhambebe, que mordia um pernil de gente: “Um animal irracional não come outro parceiro; um homem deve devorar outro homem?”.

A resposta do tupinambá (Jauará ichê ou “sou um jaguar”, em tupi) ficou famosa. Mas, se fosse mais dado a debates à moda do Ocidente, o chefe poderia ter usado um argumento melhor: uma batelada de espécies animais devora o próximo, inclusive a que mais se aparenta ao homem. “Jane Goodall observou ocorrências de canibalismo entre os chimpanzés”, diz a bioantropóloga Sheila Mendonça de Souza, da Fundação Oswaldo Cruz, se referindo a uma das maiores e mais famosas primatologistas do século 20. “Uma fêmea pode tirar partido de outra que está doente, por exemplo, e comer o filhote dela”, afirma a pesquisadora.

Aparentemente, o que está em jogo não é a fome do canibal, a despeito do que reza a lenda. “Tanto em seres humanos quanto em outras espécies, as razões tendem a ser evolutivas – como os macacos comendo os filhotes de uma fêmea para que ela volte a ficar no cio e tenha filhotes deles –, sociais e rituais”, diz William Leonard, antropólogo da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos. “A energia que uma pessoa gasta para matar e preparar outro ser humano simplesmente não compensa o que se consegue comendo-o”, afirma Leonard. Essa demonstração foi uma ducha de água fria para os cientistas que tentavam explicar o canibalismo como uma forma de suprir a falta de proteína animal em algumas partes do planeta. Mesmo povos com boas quantidades de carne de caça na dieta parecem ter adicionado a de seres humanos ao menu, como os astecas no México e os waris de Rondônia.

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Não quer dizer que, no desespero, um filé de gente não tenha virado opção em alguns casos. O canibalismo de sobrevivência é pelo menos tão antigo quanto o Segundo Livro dos Reis, da Bíblia, que narra um cerco a Samaria, capital de Israel, no qual duas mães desesperadas resolvem dividir seus bebês: “Dá-me o teu filho, para o comermos hoje; amanhã comeremos o meu”. Na era das navegações, marinheiros se viram forçados a tirar a sorte para ver quem morria no caso de naufrágios. Emblemático é o caso do baleeiro norte-americano Essex, que foi literalmente afundado pela baleia que caçava em 1820, no meio do oceano Pacífico (a história inspirou o romance Moby Dick, de Herman Melville). Primeiro, os 21 tripulantes, a bordo de botes, comeram a carne dos companheiros que faleciam naturalmente. Quando a fome apertou, a sorte decidiu quem morreria para alimentar os demais. O curioso é que o acidente só virou tragédia por medo de canibalismo – ao perderem o navio, eles se recusaram a navegar para a Polinésia, muito mais próxima que a costa do Peru, para onde seguiram, por medo da fama de antropófagos de seus habitantes.

Relatos de povos do planeta todo que comiam carne humana enchem páginas e páginas desde a Antiguidade até o século 20. Africanos do Congo, aborígenes australianos, tribos de toda a América, judeus da Europa, todos eles ganharam a pecha de canibais em algum momento da história, embora nenhuma acusação tenha sido comprovada. Os ancestrais do homem moderno (chamados de hominídeos pelos cientistas) também eram considerados canibais notórios, graças à quebradeira generalizada em que seus esqueletos se encontravam e às marcas de cortes nesses ossos. Essa pista se revelou ambígua, para dizer o mínimo: ossos marcados podem ser produzidos por uma simples preparação funerária do cadáver. Além disso, animais carniceiros e mudanças no solo são suficientes para desmontar qualquer esqueleto. As conclusões foram suficientes para fazer a cabeça de muitos cientistas.

“Não há evidências do canibalismo como prática socialmente aceita em nenhuma parte do mundo”, disse o antropólogo norte-americano William Arens no livro The Man-Eating Myth (“O Mito do Antropófago”, inédito em português), de 1979.

Apesar da conversa de Arens, cientistas resolveram escarafunchar o tabu. Saíram atrás de indícios que provassem, sem sombra de dúvida, que o canibalismo ocorria. A maneira como os corpos humanos foram retalhados, consumidos e descartados deveria espelhar o que se fazia com a carne de animais no mesmo lugar e época; a modificação do lugar do banquete por forças externas teria de ser mínima; e, se possível, traços de moléculas que só o corpo de uma pessoa produz (como trechos de DNA ou proteínas humanos) deveriam ser flagrados. Critérios tão exigentes que muitos casos suspeitos, em nome da certeza absoluta, ficaram de fora.

Com essas regras na mão, os cientistas olharam com atenção para alguns dos primeiros europeus – cerca de seis indivíduos da espécie Homo antecessor cujos restos foram descansar na caverna de Gran Dolina, no norte da Espanha, há cerca de 800 mil anos. Esses sujeitos, com um cérebro pouco menor que o nosso, tiveram as juntas cortadas, a carne do rosto, braço e perna retalhada e raspada com toscas ferramentas de pedra e os ossos quebrados para extrair o nutritivo tutano. “Não há provas que relacionem essa manipulação com nada ritual”, diz o pesquisador espanhol Carlos Díez, da Universidade de Burgos. Os ossos foram encontrados amontoados em meio aos de animais carneados do mesmo jeito, como rinocerontes, cervos e elefantes. “Existem lá espécies demais para se falar em escassez de recursos ou nutrientes.

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O caso de Gran Dolina é puramente nutricional-gastronômico”, diz Yolanda Fernández-Jalvo, do Museu Nacional de Ciências Naturais, em Madri. É quase como se encontrássemos restos de gente na lata de lixo ao lado da churrasqueira. Quer prova melhor do nosso passado canibal?

A cena espanhola é quase idêntica à que Timothy White, paleoantropólogo da Universidade da Califórnia em Berkeley, encontrou em 1999 na caverna de Moula-Guercy, no sudeste da França. Há cerca de 100 mil anos, a gruta foi o lar de um grupo de neandertais cujas duas presas prediletas eram cervos e… outros neandertais. Todos os ossos do crânio dos seis hominídeos devorados tinham marcas de fratura, provavelmente para facilitar o acesso ao cérebro das vítimas. Novamente, não havia sinal de fome generalizada ou de ritual.

Mas falar de neandertais é uma coisa. Outra, bem diferente, é colocar a fama de comedor de gente no sábio Homo sapiens. Paola Villa mexeu sem querer nesse vespeiro ao dar de cara com o sítio francês de Fontbrégoua, muito mais recente – seus habitantes viveram há apenas 5 ou 6 mil anos e eram pastores que também caçavam cervos e javalis. “Foi totalmente inesperado”, diz a arqueóloga. “Havia muitos ossos humanos e de animais misturados, tratados exatamente do mesmo jeito. Eles estavam numa região de clima ameno e tinham seus rebanhos. Não estavam passando fome. Parece-me que foi canibalismo agressivo, decorrente de alguma forma de conflito”, diz.

O próprio Timothy White, descobridor dos neandertais canibais, encontrou Homo sapiens com hábitos bem parecidos ao estudar o sítio de Mancos, na fronteira do Colorado com o Novo México, nos Estados Unidos. A região foi lar dos anasazi, uma complexa cultura que dominou o cultivo do milho e a construção de vilas que chegavam a milhares de habitantes. Em Mancos, quase 30 indivíduos (homens, mulheres, adolescentes e crianças) foram esquartejados, carneados e cozinhados em recipientes de barro por volta do ano 1200. São visíveis marcas de queimadura nos ossos e até polimento na ponta de alguns, causado pelo atrito entre o osso e o fundo do pote enquanto o cozido fervia.

Por motivos pouco claros, os anasazi parecem ter recorrido ao canibalismo com frequência perturbadora: há uma dúzia de sítios como Mancos no sudoeste dos EUA. Um deles conservou fezes fossilizadas que tinham a versão humana da mioglobina, uma proteína dos músculos. O único jeito de as fezes ganharem esse condimento macabro é a ingestão de carne de gente.

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Essas pistas mexem com a imaginação de cientistas e leigos, mas não bastam para desvendar com que frequência festins semelhantes aconteciam. Se os ossos não contam toda a história, os genes podem fazê-lo. Foi o que descobriram no último mês de abril cientistas britânicos e australianos, ao flagrar uma possível assinatura canibal no DNA de povos do mundo inteiro. O gene que investigaram contém as instruções para a produção de uma proteína conhecida como príon, que, em condições normais, é crucial para formar as conexões entre as células do cérebro. Acontece que o príon também pode ser fatal. Quando sofre uma pequena alteração de formato, ele para de funcionar e ainda por cima começa a “infectar” outras moléculas semelhantes: príons do cérebro todo passam a ter o formato modificado. Com a mudança, enzimas que normalmente os destruiriam deixam de fazer efeito. Os príons se acumulam no cérebro e começam a matar neurônios.

O cérebro se enche de buracos, a vítima perde todo o juízo e morre de forma terrível. É a doença de Creutzfeldt-Jakob, cuja versão em bovinos é chamada de mal da vaca louca.

Por sorte, o problema aparece por ano em apenas um em cada milhão de indivíduos. Mas esse número pode aumentar. Se o cérebro de um doente for comido por alguém saudável, o príon maligno pode infectá-lo também. Ou seja, uma marca confiável de canibalismo numa população são índices excessivamente altos de Creutzfeldt-Jakob. Por exemplo, entre os forés, uma tribo das montanhas da Nova Guiné, a doença (chamada por eles de kuru) estava fora de controle nos anos 50: matava 1% da população por ano e chegou a deixar alguns vilarejos quase sem mulheres jovens, as mais afetadas pela doença. Como se descobriu mais tarde, a epidemia era causada pelo costume de comer os próprios mortos em cerimônias nas quais mulheres e crianças ficavam com o cérebro – tornando-as alvos fáceis para o príon maligno.

Não que algo fosse desperdiçado: os homens comiam os músculos do morto e até as fezes que ainda tinham sobrado no intestino grosso do falecido. “A preocupação espiritual que eles mostravam pelo corpo do parente morto e o desejo de incorporá-lo ao dos vivos são similares à crença cristã na transformação do pão e do vinho no corpo de Cristo”, diz o médico australiano Michael Alpers, da Universidade Curtin de Tecnologia, um dos cientistas a descobrir como o kuru era transmitido. A mortandade só parou nos anos 50, quando o governo proibiu a prática.

Alpers e seus colegas ingleses verificaram que forés com duas versões diferentes do gene do príon, uma vinda do pai e outra da mãe, tinham uma chance muito maior de sobreviver. De 30 mulheres com mais de 50 anos que haviam participado dos festins antropofágicos, nada menos que 23 – cerca de 77% – tinham esses genes “híbridos”. Os índices altos são uma prova da evolução operando – como o gene ajudava as mulheres a sobreviver depois dos banquetes, ele se tornou cada vez mais comum ao longo das gerações.

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Mas surpresa mesmo veio quando os pesquisadores testaram a frequência desses genes em outros povos do planeta. Nada menos que 48% dos turcos, 41% dos colombianos e 38% dos franceses eram como a maioria dos forés. A porcentagem alta nessas populações que, ao que se saiba, nunca foram de comer gente, é indício seguro de que, no passado delas, o endocanibalismo foi uma forma de lidar com os mortos. Geneticistas calculam que isso foi incorporado no DNA há uns 500 mil anos, mais ou menos a idade de muitos dos esqueletos canibalizados encontrados na Europa.

Como os forés, os waris, tribo de Rondônia, ainda praticavam o canibalismo até o fim dos anos 50. A etnia ajuda a entender vários aspectos da prática: à maneira dos tupinambás, eles matavam e devoravam seus inimigos, mas também comiam os próprios mortos. “O canibalismo para eles era quase uma operação lógica”, diz a antropóloga Aparecida Vilaça, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que passou vários meses ao lado da tribo no fim dos anos 80 e começo dos anos 1990. “O ato de predar é o que define, para eles, o que é ser humano”, diz Aparecida. Quem come é wari’ (pronome da primeira pessoa do plural na língua da tribo, ou seja, “nós” – no sentido de “humano”, “gente”); quem é comido é karawa (pronuncia-se “carauá”), algo como “animal”, “caça” ou “comida”. “Não são categorias, mas posições que mudam o tempo todo”, diz a antropóloga.

Em sentido estrito, wari’ são só os membros da tribo. É por isso que eles retalhavam os braços, as pernas e a cabeça de seus inimigos durante a guerra e os comiam com raiva, rapidamente, segurando nos ossos – para afirmar nestes a condição de karawa. Um ritual totalmente diferente acompanhava a morte de um wari’. Seus parentes eram chamados das aldeias vizinhas e a carne ficava apodrecendo durante dois ou três dias, porque não se podia devorar um companheiro com prazer. Separada dos ossos, a carne era desfiada e comida só por quem não era parente consanguíneo do morto – e usando pauzinhos, para não tocá-la. Os ossos, pulverizados, eram comidos com mel. Os xamãs waris acreditavam que o desaparecimento do corpo permitia que a alma alcançasse o mundo subaquático, para onde vão os mortos.

Embora as razões e a amplitude do canibalismo sejam pouco claras, não é difícil que muitos povos o entendessem de forma parecida com a dos waris. O fato de ossos humanos serem destruídos e misturados aos de outros bichos não significa que quem comia não sentia nada. Mas as emoções não ficam preservadas sob a terra e provavelmente nunca saberemos o que passava pela cabeça desses homens. O que dá para saber, cada vez com mais certeza, é que o canibalismo, hoje banido, está na origem da natureza humana.

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