O preço da terra prometida
Há 63 anos, a ONU dividiu a Palestina para criar um Estado árabe e um judeu. O árabe jamais saiu do papel. Israel nasceu sob guerra e jamais teve paz. A terra prometida custa muito caro. Entenda o nó do Oriente Médio.
Ricardo Arnt
Essa crise que você vê todo dia na TV – israelenses brigando com palestinos – se precipitou há 63 anos. Tudo conseqüência de uma resolução da ONU que só foi cumprida pela metade: a Palestina Britânica foi extinta para dar origem a dois Estados, um árabe e um judeu, mas só Israel se organizou. Seis meses após a resolução, os israelenses decretaram a independência. Os palestinos árabes viraram um povo sem pátria. Desde então, os conflitos só se agravaram.
Para os judeus, Israel é a “terra prometida” para onde Moisés os levou. Para os católicos, é a terra santa, onde Jesus viveu. Para os muçulmanos, é sagrada porque foi de Jerusalém que Maomé teria subido aos céus. A região foi dominada por gregos, romanos e bizantinos. Em 636, os árabes a islamizaram. De 1099 a 1291, os cruzados cristãos invadiram e, em 1516, os turcos tomaram conta. Em 1917, os ingleses expulsaram os turcos e instalaram o protetorado da Palestina.
No final do século XIX, a imigração judia para a terra prometida começou a aumentar, especialmente após a fundação do Movimento Sionista, em 1897, que pregava a criação de um Estado próprio. Depois do apoio da Inglaterra à tese, a população judia quase triplicou: de 85 000, em 1914, saltou para 238 000, em 1933.
Os árabes, é claro, detestaram. Mas as atrocidades nazistas aumentaram a simpatia à causa judaica. Em 1947, a ONU aprovou a divisão dos 26 000 quilômetros quadrados da Palestina (o tamanho do Estado de Alagoas). Israel, com 680 000 judeus, ficaria com 55% do território e os 1,3 milhão de árabes, com 45%. Os países árabes votaram contra.
Israel proclamou a independência, venceu cinco exércitos e conquistou, na marra, 80% da Palestina. Os 20% restantes foram ocupados pelo Egito e pela Jordânia. Mais de 700 000 palestinos se exilaram em outros países. O nó do Oriente Médio só apertou.
A expansão israelense
Israel venceu várias guerras mas não conseguiu conquistar a paz.
A proposta de partilha da ONU
Em 29 de novembro de 1947, a ONU dividiu a Palestina, então um protetorado inglês, em dois Estados, um judeu e um árabe, transformando Jerusalém em cidade internacional. Os palestinos árabes nunca apoiaram a decisão. Em 13 de maio de 1948, os ingleses se retiraram e, no dia 14, Israel declarou a independência. No dia 15, foi invadido por exércitos de cinco países árabes.
Depois da Guerra da Independência
Israel venceu a Guerra da Independência e conquistou 6 000 km2, ocupando um território compacto de 20 700 km2 e metade de Jerusalém. O Egito ficou com a Faixa de Gaza e a Jordânia com a Cisjordânia. O Estado palestino nunca foi proclamado e 700 000 árabes tiveram que fugir das áreas ocupadas pelos israelenses, virando refugiados em vários países.
Depois da Guerra dos Seis Dias
Em 1967, Israel derrotou o Egito, a Síria e a Jordânia, anexou Jerusalém, ocupou a Cisjordânia, o Sinai e as colinas de Golan, dobrando seu território. Para fazer a paz com os inimigos mais poderosos, devolveu parte do Golan à Síria, em 1981, e o Sinai ao Egito, em 1982. Mas começou a colonização da Cisjordânia. Em 1987, os palestinos protestaram com a revolta da Intifada.
Uma distensão muito difícil
Em 1993, pelos Acordos de Oslo, Israel reconheceu a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) como representante palestino e a OLP reconheceu o direito de Israel existir. Aprovou-se um plano de transição de cinco anos para a retirada israelense das zonas ocupadas e a transferência do poder à Autoridade Nacional Palestina. Hoje, já existem aldeias palestinas autônomas e semi-autônomas. Mas 40% de Gaza e 70% da Cisjordânia continuam sob controle israelense exclusivo. A idéia de um Estado palestino ainda é um sonho remoto.