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E se os holandeses tivessem colonizado o Brasil?

A dominação holandesa do Brasil durou apenas 24 anos (1630-1654)

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 19 dez 2016, 14h58 - Publicado em 31 Maio 2001, 22h00

Muita gente imagina que viveríamos em uma terra cheia de gente loira e de olhos azuis, falando holandês, adquirindo maconha em bares e professando uma religião protestante. Mas, se tomarmos como referência outros países colonizados pela Holanda, talvez as perspectivas fossem outras.

O primeiro exemplo que vem à mente é a África do Sul, ocupada pelos free burghers ou bôeres, colonos que, a partir de 1652, expulsaram ou escravizaram os povos nativos. Inaugurou-se assim uma história de ódio e violência, culminando com o apartheid, sistema de divisão social entre brancos e negros totalmente oposto à mestiçagem que definiu a sociedade brasileira. (Não que aqui não haja racismo…)

Também poderíamos ter nos transformado em um grande Suriname, basicamente uma plantação de cana-de-açúcar que os holandeses aceitaram dos ingleses, em 1667, em troca de uma então possessão sua, chamada Nova Amsterdã, hoje conhecida como Nova York. Mas seria bem pior se tivéssemos seguido o destino de outras duas ex-colônias holandesas: a Indonésia, até hoje vítima de governos extremamente autoritários e corruptos; ou o Sri Lanka, antigo Ceilão, ainda dilacerado por lutas étnicas e fratricidas.

E se os holandeses tivessem colonizado o Brasil?

A dominação holandesa do Brasil durou apenas 24 anos (1630-1654), vivendo um período de apogeu sob o comando do conde Maurício de Nassau, entre 1637 e 1644. Foi um intervalo curtíssimo dentro dos três séculos – mais precisamente, 322 anos – da nossa história colonial, mas conseguiu deixar marcas significativas, principalmente em Pernambuco, centro administrativo dos holandeses no território brasileiro.

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A maior diferença estava no fato de o governo holandês não comandar diretamente a colonização. “Essa tarefa havia sido entregue, na verdade, a uma empresa de propriedade dos capitalistas do porto de Haia, chamada Companhia Privilegiada das Índias Ocidentais”, afirma Alexandre Hecker, historiador da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Eles receberam não só o direito de ocupar as terras e explorá-las economicamente, como de organizar toda a vida social, política, religiosa e cultural. “Era uma verdadeira privatização geral, com todas as medidas administrativas servindo apenas ao lucro dos financiadores do projeto. Foi assim que Nassau dirigiu as terras e a população a partir de Recife”, diz Alexandre.

Mas a grande herança de Nassau certamente foi no campo cultural. “Ele não só criou aqui o primeiro observatório astronômico das Américas, como trouxe cientistas para estudar os tipos humanos, a fauna e a flora locais, junto com pintores de altíssima qualidade – como Frans Post, Albert Eckout e Georg Marcgraf – para documentar tudo isso”, afirma André Moysés Gaio, historiador da Universidade Federal de Juiz de Fora. A contribuição de Post foi além da pintura, interferindo na arquitetura de Recife, com a construção de sobrados altos, canais e pontes de grande valor urbanístico.

“As obras desses artistas e o planejamento urbano da capital pernambucana são considerados extraordinários para a época – e A História Natural, de Marcgraf, permaneceu a única obra de referência sobre o Brasil até o século XIX”, diz outro historiador, Ronald Ramanelli, da Universidade Federal Fluminense. Dificilmente haveria um Nassau português. Em terras lusas, as ciências e as artes estavam submetidas ao crivo da Inquisição.

“Mas essas realizações eram iniciativas pessoais de Nassau, não representam um padrão de colonização holandesa, se é que isso existe”, afirma André Moysés. Seu colega Ronald prefere uma comparação com outras colonizações protestantes: “Ingleses e holandeses criaram sociedades escravistas dominadas por uma minoria branca, tanto nos Estados Unidos quanto na África do Sul. Nesse último caso, mesmo com o fim do apartheid, os brancos controlam 80% das terras e das riquezas do país, apesar de não representarem mais que 10% da população. Ou seja, o país continua um barril de pólvora”. Alguém aí gostaria de viver num Brasil assim?

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