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Os maiores picaretas da história

Eles venderam a mãe e não entregaram. Ficaram ricos só com a lábia. E fizeram do trambique uma arte

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 18 jan 2017, 19h32 - Publicado em 31 ago 2006, 22h00

O homem que vendeu a Torre Eiffel

Era 1925. O austríaco Victor Lustig estava vagabundeando em Paris quando leu no jornal: PREFEITURA TEM DIFICULDADES PARA MANTER A TORRE EIFFEL. Foi o suficiente para atiçar sua malandragem. Lustig se passou por oficial do governo francês e foi atrás de empresários que mexiam com ferro-velho. Arranjou 6. E chamou a turma para uma reunião num hotel de luxo. “Como os senhores já devem ter lido, Paris não tem mais como bancar a Torre”, disse. “A saída é uma só: demolir aquelas 8 mil toneladas de metal e vender como sucata.” Ele chegou a alugar uma limusine para levar os homens para uma “visita de inspeção” ao monumento. Depois, chamou de canto o empresário que ele achou mais ingênuo e insinuou: “Se rolar uma comissãozinha, posso facilitar as coisas para o senhor”. Não teve erro: o homem subornou o “oficial” Lustig e levou a torre. Antes que o comprador percebesse o cha-péu, Lustig já estava em um trem com o dinheiro. O lesado, por sinal, não teve coragem de dar queixa na polícia. Afinal, seria o maior vexame se todo mundo soubesse que ele tinha acabado de subornar um trambiqueiro… Pois é. Lustig era mestre porque sabia enganar malandros. E que malandros. Certa vez, o golpista procurou ninguém menos que Al Capone, oferecendo um esquema para fazer o dinheiro dele dobrar em dois meses com uns investimentos. O mafioso lhe deu 50 mil dólares, junto com uma descrição do que lhe aconteceria se o enganasse. Aí Lustig simplesmente guardou tudo em um cofre. E dois meses depois, devolveu tudo para Capone, pedindo desculpas e contando que o esquema de investimentos tinha falhado. Grato por Lustig ter sido tão honesto, Capone lhe deu 5 mil dólares como prêmio. E era o tal do prêmio que Lustig esperava desde o começo. Outro golpe que ele aplicava em golpistas era vender máquinas de falsificar dinheiro. Falsas. Ele escolhia um bandido e contava que tinha um aparelho fantástico, capaz de copiar notas. “Só que leva 6 horas para que o trabalho fique ok”, dizia. O picareta, então, colocava uma nota de 100 dólares na máquina para demonstração. Seis horas depois, saía uma “cópia” perfeita (Lustig colocava duas cédulas verdadeiras lá dentro antes, claro). Depois de embolsar o dinheiro pela máquina, ele ia embora. E o comprador só percebia o engodo depois de 6 horas… Em 1934, finalmente, a carreira dele acabou. Lustig foi preso e mandado para Alcatraz, onde fez companhia ao amigo Capone.

O piloto, o médico e o advogado. Num só

A história de Frank W. Abagnale ficou famosa depois de ser contada na autobiografia Prenda-me se For Capaz, adaptada para o cinema por Steven Spielberg em 2002. Pudera: se fosse um roteiro de ficção, pareceria exagerado. Em 5 anos, um jovem nova-iorquino de classe média fingiu ser piloto de avião, médico, advogado e professor. Passou cheques falsos em quase todos os estados americanos e em mais de 10 países. E fez uma fortuna de milhões de dólares. Frank começou a carreira aos 16 anos, quando passou mais de 3 mil dólares em cheques sem fundos do pai dele em postos de gasolina. Pouco tempo depois, virou profissional no ramo. Passou a abrir contas com documentos falsos e a imprimir seus próprios cheques frios. Para levantar menos suspeitas na hora de sacar dinheiro, fingiu ter uma das profissões que mais davam status nos anos 60: piloto de avião.

Com um uniforme, uma carteirinha da Pan Am e um brevê, tudo falsificado, também aproveitou para viajar e se hospedar de graça pelo país inteiro, deixando um bolo de cheques falsos em cada cidade por que passava. Depois de quase ter seu disfarce de piloto descoberto, Frank decidiu que era hora de mudar de trabalho e morou por uns tempos em Atlanta dizendo ser médico. Com um diploma falso, o “doutor” arranjou um emprego e passou um ano trabalhando como supervisor de pediatria num hospital. Depois, Frank mudou-se de novo e inventou que era formado em direito. Falsificou um diploma (de Harvard) e logo ficou sabendo que o procurador- geral do estado da Louisiana estava precisando de um assistente. Para conseguir o emprego, ele precisaria passar por uma prova da ordem dos advogados. Atraído pelo desafio, Frank estudou e, na terceira tentativa, conseguiu passar no exame. Sem nem mesmo ter terminado o 2o grau, o farsante tinha uma carteira de advogado e um emprego na promotoria pública. Nove meses depois, largou o direito e, após constatar quantas garotas bonitas havia no campus de uma universidade, resolveu freqüentar uma. Só que, em vez de se matricular como aluno, Frank foi como professor. Falsificar mais um diploma e algumas credenciais foi fácil. Dizendo que era formado em sociologia pela Universidade Columbia, deu aulas durante um semestre. Sem levantar suspeitas. Assim que deixou a universidade, Frank voltou para a vida de estelionatário e, depois de ser perseguido exaustivamente pela polícia, acabou preso em 1970.

Com menos de 21 anos, Frank já tinha acumulado mais de 500 mil dólares (o que hoje daria 3 milhões de verdinhas). O figura passou 5 anos na cadeia. E acabou solto com a condição de ajudar o governo a prevenir fraudes com documentos. Hoje, aos 58 anos, Abagnale tem uma empresa dedicada a essa tarefa. E continua faturando alto.

A mãe de ouro

O primeiro picaretasso do Novo Mundo foi uma mulher, a americana Mary Butterworth. Em 1716, quando tinha 30 anos, ela vivia na então colônia inglesa de Massachusetts, uma das 13 que décadas mais tarde formariam os EUA. Mary sustentava os filhos trabalhando como confeiteira e lavando roupas para fora. A grana era curta, mas a ambição era comprida. Tanto que a Sra. Butterworth resolveu cortar o problema pela raiz: passou a fabricar libras esterlinas na cozinha.

O esquema era no melhor estilo dona-de-casa. Mary usava um pedaço de tecido engomado e um ferro de passar para imprimir suas notas. Depois, corrigia as imperfeições à mão, usando penas de várias espessuras e nanquim. Para deixar a nota com jeitão de usada e fazer com que ela parecesse ainda mais autêntica, a falsificadora assava o papel no forno.

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As cédulas caseiras enganavam bem, e Mary foi ampliando o negócio. Em pouco tempo, ela chefiava uma espécie de Casa da Moeda alternativa. Trabalhando com um pequeno exército de ajudantes, imprimia notas de 1 libra – as mais graúdas naqueles tempos pré-dólar – e vendia pela metade do valor de face.

Deu tão certo que Mary passou a abastecer outras colônias com dinheiro falso. A essa altura ela já contava com o apoio de figurões, como políticos e juízes, e já tinha se instalado numa mansão. Mas os problemas começaram a aparecer. A pequena Rhode Island, por exemplo, recebeu tantas notas frias que quase entrou num processo de hiperinflação. Aí as autoridades britânicas fecharam o cerco. Depois de prenderem um juiz que ajudava na distribuição das libras traiçoeiras, eles chegaram até o QG de Mary. Mas, como a mulher só usava material caseiro – e sempre lavava o tecido usado para imprimir as notas – não havia provas de que ela estava envolvida no esquema de falsificação.

Assim Mary continuou solta. Mas achou melhor não se arriscar mais. Usando os conhecimentos de administração e logística que tinha adquirido nos negócios, a ex-falsificadora abriu um serviço de bufê. E foi muito bem-sucedida, diga-se.

O Rockefeller francês

Christophe Rocancourt não assassinou nin-guém, não é terrorista nem ladrão de banco, mas já esteve na lista de mais procurados pela polícia americana. Seu crime? Passar a perna em gente da alta roda de Nova York e Los Angeles.

Nascido na França em 1967, o malandro gostava de dizer que se chamava Christopher Rockefeller e que era um descendente francês do magnata americano. Mas essa era só uma das 12 identidades falsas dele. Christophe também se apresentava como parente da atriz Sophia Loren, do estilista Oscar de la Renta e do cineasta Dino de Laurentiis.

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Seu principal golpe era convencer as pessoas a deixar uma boa grana com ele para ser investida em algum esquema “ultra-rentável”. A garantia era o sobrenome Rockefeller, e o rosto bonitão ajudava a passar confiança. Em outras ocasiões prometia emprestar grandes somas de dinheiro, desde que recebesse um módico adiantamento.

Em 2001, Rocancourt acabou preso. No julgamento, foi acusado de fraudar 19 pessoas e condenado a 4 anos de prisão. Ele mesmo estima que, em sua vida de golpista, arrecadou pelo menos 40 milhões de dólares. Ninguém duvida: quando foi preso, o francês tinha duas Ferraris, um jipe que já tinha sido do bilionário inglês Dodi al Fayed, era dono de um andar no Regent Beverly Wilshire Hotel, no bairro mais chique de Los Angeles, e andava com um segurança a tiracolo. Ah, claro: o Rockefeller pirata era casado com a modelo Pia Reyes, ex-coelhinha da Playboy. Nada mal para quem nasceu em uma cidadezinha do interior da França. Filho de um pintor e uma prostituta, aos 9 anos de idade foi abandonado em um orfanato. Quando saiu de lá, aos 16, foi para Paris tentar a carreira de modelo e chegou a aparecer na capa da Vogue italiana. Mas aí ele descobriu que podia ganhar dinheiro de um jeito mais fácil. Começou a falsificar cheques e participou do assalto a uma joalheria suíça. Mas a polícia nunca conseguiu provar seu envolvimento nesses crimes.

Apesar desse currículo, Rocancourt jura que nunca roubou ninguém. Em uma entrevista para a rede de TV americana CBS em 2003, ele se justifica. “Eu quebrei uma promessa, isso faz de mim um ladrão? Eu realmente fiz um empréstimo, mas não tomei, não furtei nem nada.” Cuidado que, mais um pouco, e ele te convence.

O herdeiro da Gol

Aos 25 anos, Marcelo Nascimento da Rocha não era um fora-da-lei qualquer. Ele tirava uma grana legal pilotando aviões para o tráfico, mas sua maior habilidade era outra: se divertir. Em 2001, o malandro ficou sabendo que o Carnaval fora de época de Recife seria patrocinado pela Gol. Aí foi para lá dizendo ser Henrique Constantino, filho do dono da companhia aérea – e, aos 34 anos, mais jovem bilionário do Brasil, segundo a revista Forbes. Marcelo chegou chegando: “Fui com um helicóptero emprestado. Fiz acrobacias no ar. Todo mundo viu”, diz no livro Vips, sua biografia. Funcionou. Marcelo foi tratado como um legítimo Constantino por 4 dias: ficou nos camarotes mais badalados, deu entrevista para o Amaury Jr. E, claro, levou várias incautas para a cama. Marcelo só foi pego depois da farra, quando ia com os atores Ricardo Macchi, Marcos Frota e Carolina Dieckmann para uma festa da Globo em São Paulo. Uma secretária que trabalhava na Gol viu que Marcelo não era da família de seus patrões e ele acabou na cadeia. Não era o primeiro golpe do rapaz, claro. Aos 14 anos ele já fingia que era sobrinho do dono de uma empresa de ônibus para viajar de graça. Teve várias “profissões” também: entrou em um festival de dança em Joinville fingindo ser VJ da MTV; se hospedou em um hotel em Balneário Camboriú e curtiu todas as boates da região sem pagar nada, dizendo ser guitarrista do Engenheiros do Havaí. Mas do que o garoto gostava mesmo era do céu. Como morava do lado de um aeroclube, vivia lá, tentando aprender a pilotar. Fazia perguntas, queria saber como tudo funcionava e pedia para voar em troca de lavar os aviões. Aprendeu tudo tão direitinho que, depois de um tempo, traficantes ofereceram pagar seu brevê em troca de alguns fretes. Aos 18 anos Marcelo virou piloto do crime em tempo integral – sempre aplicando golpes nas horas vagas. Foi preso por tráfico em 2004 e nem na cadeia parou de inventar lorotas. Quando estava num presídio em Bangu, no Rio, disse que era chefe do PCC – já que os ladrões cariocas não conheciam direito o crime organizado paulista. Com essa “patente”, o homem liderou até rebelião por lá. Hoje, Marcelo tira um descanso no presídio de Avaré, interior de São Paulo. Fica lá por mais 16 anos. E quando sair nem terá de fingir que é uma celebridade. Vai ser mesmo: planejam fazer um filme sobre a vida dele.

Para saber mais

Vips: Histórias Reais de um Mentiroso – Mariana Caltabiano, Jaboticaba, 2005

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Prenda-me se For Capaz – Frank Abagnale, Record, 2003

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