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Os profetas da América

Conheça a história por trás do único livro sagrado escrito na América. E a origem das polêmicas ligadas à religião fundada pelo Livro de Mórmon

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h34 - Publicado em 30 jun 2008, 22h00

Texto Nina Weingrill

Um anjo aparece para você e diz que sua missão é contar a todos que Cristo instituiu uma religião verdadeira, e ela não é nenhuma das que você conhece. Foi o que aconteceu com Joseph Smith em 1823, quando o adolescente de 14 anos rezava numa floresta atrás de casa, na cidade de Palmira, Nova York. O anjo era Morôni, e sua mensagem o ponto de partida para a elaboração do Livro de Mórmon, única escritura sagrada feita na América.

Segundo o anjo, após a ressurreição, Cristo atravessou o oceano rumo à América. Aqui, ele viveu entre povos judeus que teriam emigrado para o continente a partir de 600 a.C. Durante 40 dias, Ele operou milagres, curou doenças e transmitiu aos nativos valores cristãos. Um dos profetas que acompanhou o Messias durante esse período foi Mórmon – outro anjo, pai de Morôni –, que registrou a passagem do Messias em placas de ouro.

Smith foi guiado pelo anjo até as placas e recebeu a missão de traduzi-las. Com a ajuda de pedras mágicas, que colocava no chapéu ao trabalhar, o jovem levou 10 anos para decifrar o manuscrito e publicar a primeira versão do Livro de Mórmon, escritura que até hoje guia a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Os seguidores da nova religião, conhecidos por mórmons ou santos, acreditam que sua “Bíblia” seja o livro seguinte ao Novo Testamento. “Os mórmons se afirmam como os donos da verdadeira palavra de Jesus Cristo”, diz John Gordon Melton, professor de Estudos Religiosos da Cultura Americana da Universidade de Indiana.

Um detalhe crucial da devoção ao Livro de Mórmon é a crença de que apenas seus seguidores serão salvos no Juízo Final. Graças a essa convicção, os fiéis da nova religião foram perseguidos por grupos evangélicos que proliferavam na mesma época e viam naquela fé uma afronta à sua própria. Para fugir da violência, Joseph Smith retirou-se de Nova York em busca da terra prometida, ou “Nova Jerusalém”, e rumou para oeste.

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Poligamia em Nova jerusalém

Em Illinois, Smith, acompanhado de profetas, inclusive do jovem Bringham Young, que viria a sucedê-lo, fundou uma legião chamada de Nauvoo. Lá, a religião tomou uma dimensão barulhenta. Primeiro porque Smith instituiu a poligamia como regra em sua comunidade. A ordem teria sido dada a ele por Deus – segundo a religião, as revelações são feitas sempre aos profetas da doutrina, que podem mudar mandamentos e leis dentro da Igreja a qualquer momento.

A nova regra criou dissidências. Revoltados eles buscaram apoio do governador, que tinha uma rixa pessoal com o profeta. Smith era um homem charmoso e carismático, com planos de se candidatar à presidência dos Estados Unidos. Era melhor contê-lo antes que sua carreira decolasse, e ele foi parar no xadrez, junto com seu irmão. Três dias depois, em 27 de junho de 1844, os dois foram mortos a tiros dentro da cadeia.

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A essa altura, a Igreja já tinha bases bem estabelecidas e Young assumiu a liderança mórmon. A tragédia, porém, confirmara a necessidade de os fiéis se mudarem para uma área isolada. Dispersos em cidades do Missouri, Illinois e Iowa, os convertidos se uniram rumo a Utah, estado praticamente alheio ao comando dos EUA. Lá, construíram um templo, onde hoje está Salt Lake City.

Até hoje, a cidade é a sede da religião e base de treinamento dos missionários, responsáveis por levar a palavra do Livro de Mórmon a todos os cantos do mundo. Um sistema que só tem dado certo. Hoje existem 12 milhões de mórmons e eles continuam crescendo. “É possível que daqui a 40 anos o mundo tenha cerca de 50 milhões deles”, afirma Rodney Stark, professor de sociologia da Universidade de Baylor, no Texas.

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Vinde aos mórmons

Busca por mais fiéis muda regras e costumes

Além da polêmica da poligamia, que levou o fundador da religião à morte e foi extinta entre os mórmons em 1890, outras regras da religião causam – ou causavam – controvérsias, como a proibição da entrada de negros nos templos. Essa foi extinta em 1978, por ordem de uma revelação, e fez aumentar as conversões em países de grande população negra, como o Brasil. O incentivo ao sexo após o casamento, com fins reprodutivos, é mais um fator importante para o crescimento do númmero de fiéis. A natalidade entre os mórmons americanos é 50% maior que a média do resto da população. E, quanto mais filhos, mais fiéis no futuro. A busca por novos seguidores vai até o além. “Todas as pessoas têm o direito de escolher fazer parte da Igreja”, diz Nei Garcia, do Departamento de Assuntos Públicos da sede da Igreja no Brasil. Por isso, cerca de 200 milhões de pessoas mortas já foram batizadas, para que possam optar pela conversão na hora do Juízo Final. Entre eles, estão Buda, todos os papas e Elvis Presley.

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