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Por que sabemos tão pouco sobre a existência de Jesus?

O homem cuja vida moldou a história do ocidente não deixou escritos próprios ou objetos pessoais para trás - provavelmente por ser pobre demais

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Atualizado em 31 out 2016, 18h34 - Publicado em 31 Maio 2008, 22h00

Texto Reinaldo José Lopes

É um bocado irônico que Jesus de Nazaré, o personagem mais importante da história humana, não tenha deixado nada de concreto para trás quando morreu. Cristo não escreveu os próprios ensinamentos, não “assinou” os objetos que produziu como carpinteiro e, até onde sabemos, nenhuma das relíquias ou descobertas arqueológicas sensacionais associadas a ele são verdadeiras (veja o quadro ao lado). Tudo o que sabemos sobre Jesus foi escrito algumas décadas após sua morte, por seguidores ou detratores.

Para André Chevitarese, pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) que estuda as evidências sobre o chamado “Jesus histórico”, não há nada de inesperado nessa invisibilidade. “Tanto ele quanto a primeira e a segunda gerações de cristãos provavelmente são invisíveis para a arqueologia. São pessoas periféricas, gente muito simples, de origem rural”, afirma ele. Tais seguidores seriam quase todos analfabetos e falantes de um dialeto camponês do aramaico, língua “prima” do hebraico que era a mais falada na Palestina de quase 2 mil anos atrás.

Não teriam, portanto, o domínio do grego, idioma que era o equivalente do inglês na época e que acabou sendo usado para escrever todo o Novo Testamento da Bíblia. O mais complicado, porém, é que os detalhes das palavras e dos atos de Jesus nesses textos foram todos filtrados pela fé dos primeiros cristãos, para quem o profeta de Nazaré era o Messias ressuscitado. Assim, dá muito trabalho separar o que só pode ser afirmado pela fé e o que vale como informação histórica nos evangelhos.

Isso não quer dizer, no entanto, que seja possível duvidar da existência de Jesus. Além do Novo Testamento, escrito por diversos autores que provavelmente não conheciam o trabalho um do outro, Jesus também é mencionado – de forma neutra ou até crítica – por autores não cristãos do século 1 e do começo do século 2. Os principais são o judeu Flávio Josefo e os romanos Tácito e Suetônio. Nenhum deles dedica mais do que um parágrafo a Cristo, o que reafirma como ele era considerado desimportante pelos que não o seguiam.

O que, então, pode-se dizer com absoluta certeza sobre Jesus com base nesses testemunhos? Que ele era um profeta oriundo de Nazaré; que sua pregação havia empolgado algumas pessoas e irritado outras, como a elite judaica e os romanos; e que foi crucificado por volta do ano 30 a mando do governador Pôncio Pilatos.

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Crucificados em geral não recebiam permissão para um enterro digno. Mas há pelo menos um exemplo de um judeu do século 1 cujo corpo foi recuperado pelos familiares.

Pistas falsas

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Alguns artefatos – provavelmente falsos – ligados a Cristo

Ossuário de Tiago

Caixa de pedra feita no século 1, com a inscrição “Tiago, filho de José, irmão de Jesus”. Seria o ossuário de Tiago, um dos irmãos ou primos de Cristo. A descoberta foi anunciada com alarde em 2002, mas verificou-se que os dizeres tinham sido falsificados.

Graal (ou graais)

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Pelo menos duas igrejas medievais – em Valência, na Espanha, e em Gênova, na Itália – afirmavam ter o cálice ou o prato com os quais Jesus celebrou a Última Ceia. Análises arqueológicas revelam, porém, que ambos os artefatos são do começo da Idade Média.

Túmulo de Jesus

Achada nos arredores de Jerusalém, a tumba tem inscrições que falam de “Jesus”, “Maria” e “Mariamne”, que seria Maria Madalena. O problema é que todos os nomes eram muito comuns na época, e o túmulo é de classe média alta, não de camponeses.

Sudário

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Guardado até hoje como relíquia na Catedral de Turim (norte da Itália), a faixa de linho traz uma estranha impressão “fotográfica” de um homem crucificado. Ao datá-lo, porém, físicos mostraram que ele tem apenas 700 anos de idade.

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