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Por que temos fé?

Para sobreviver, precisamos obter informações realistas e confiáveis sobre o mundo e não aceitar nada sem provas. Então, de que serve crer?

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h34 - Publicado em 31 Maio 2008, 22h00

Texto Reinaldo José Lopes

Nosso cérebro e nossos órgãos dos sentidos estão maravilhosamente adaptados para extrair informações do mundo, mas há ocasiões em que esses dados objetivos são simplesmente ignorados. Por alguma razão, estamos dispostos a acreditar em seres sobrenaturais que não podemos ver ou tocar; sentimos que a morte não é o fim e que, de certo modo, as pessoas amadas que passaram por ela ainda pensam em nós. É o mistério que deu origem à fé em geral e a todas as reli-giões do mundo. Sozinha, a ciência não tem como provar ou desmentir essa intuição. O que ela pode fazer é tentar entender por que a fé humana surgiu. Hoje, existem duas grandes propostas para explicar o fenômeno. Entenda abaixo os pontos fortes e fracos de cada uma delas.

Vantagem adaptativa

Biólogos como o americano David Sloan Wilson apostam que a fé religiosa pode trazer benefícios diretos a quem a tem. O principal benefício seria aumentar as chances de sobrevivência e reprodução dos indivíduos com fé em detrimento dos indivíduos sem fé. Ou seja, quem é capaz de acreditar sairia ganhando na seleção natural, de forma que, ao longo de milhares de anos, a capacidade para a crença no sobrenatural se espalharia por boa parte da população.

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As vantagens potenciais são muitas. Do ponto de vista do indivíduo, a fé poderia ser um recurso interessante diante de uma doença ou um ferimento grave, digamos. Afinal, acreditar que a cura é possível ajuda um bocado na recuperação em quase todos os problemas de saúde. Práticas como a adivinhação feita por sacerdotes, após consulta aos deuses, ajudaria o grupo a não ficar paralisado e indeciso diante de uma crise muito complicada. Além disso, não é à toa que, ao longo da história, quase todos os exércitos partiam para a guerra depois de pedir a proteção divina. Acreditar que forças sobrenaturais estão do seu lado deu coragem e coesão a guerreiros em todas as culturas e em todos os tempos. Quem não tivesse esse poderoso reforço moral combatendo junto corria um risco maior de ser derrotado ou de desistir da batalha antes mesmo de ela começar.

O problema com essa visão é que ela é controversa para os próprios biólogos. Ela pressupõe que, de alguma forma, a seleção natural age sobre grupos inteiros de pessoas, embora o consenso a-tual seja que tal mecanismo promove apenas indivíduos, que sempre estão competindo com outros indivíduos – mesmo que eles sejam seus aliados.

Efeito colateral

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Também pode ser que acreditar no invisível seja só um subproduto relativamente inútil da própria organização da nossa mente. Um dos principais defensores da idéia é Justin Barrett, psicólogo da Universidade de Oxford que propôs o conceito de HADD (sigla inglesa de “aparelho hiperativo de detecção de agente”). A idéia básica por trás do termo é que nossa cabeça está adaptada para detectar “agentes” – outros seres do mundo lá fora que, como nós, têm interesses e desejos.

Essa capacidade é essencial para encontrar entidades que todos desejamos, como presas ou parceiros, ou para fugir de seres que nos põem em risco, como predadores e competidores. E também é importantíssima para a vida social: sem ela, não conseguiríamos imaginar o que uma pessoa está pensando e, se for o caso, antecipar as ações dela. O problema é que, para não deixar passar sinais potencialmente importantes de “agentes” externos, esse detector precisaria ser regulado no máximo – daí a qualificação de “hiperativo” dada a ele.

Dessa forma, estaríamos fadados a enxergar pensamentos, desejos e vontades em coisas como um computador, um carro – ou a chuva, ou o Sol. Não é difícil imaginar como isso poderia levar à crença em entidades sobrenaturais por trás desses fenômenos, ou na sobrevivência do espírito de uma pessoa após a morte. Outro elemento, nesse caso, seria a incapacidade de conceber a nossa própria não-existência – logo, algo “teria” de sobrar depois da morte. Desse ponto de vista, nosso cérebro dificilmente funcionaria direito sem a presença desse efeito colateral quase fantasmagórico.

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15% da população mundial se declarou “não religiosa” numa pesquisa recente. Mais de 50% diz acreditar num só Deus.

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