Texto Ivy Farias
Fora o português – o único idioma oficial – há aproximadamente 180 outras línguas no Brasil. E olha que esse número não considera as comunidades de imigrantes nem as pessoas que aprendem uma língua estrangeira. São só os idiomas indígenas, falados por cerca de 160 000 pessoas.
A situação não está nada bonita para essa gente: segundo o lingüista Aryon Rodrigues, da UnB, 87% das línguas indígenas estão ameaçadas de “morte” – encaixam-se nessa categoria as línguas com 10 000 falantes ou menos. Se um idioma tem só um falante, ele já é considerado morto, pois essa pessoa não tem mais ninguém para conversar em sua língua.
Ao contrário das pessoas, línguas podem ressuscitar, desde que o conhecimento seja preservado (num dicionário, por exemplo) e passado adiante. Foi o que aconteceu com o hebraico, que sumiu na Idade Média – quando passou a ter somente uso litúrgico – para renascer como o idioma oficial de Israel. Se a língua morre sem registro, ela é considerada extinta. A lingüista Januacele da Costa, da UFPE, estima que esse tenha sido o destino de 1 200 idiomas brasileiros desde a chegada dos portugueses. Na tentativa de salvar as línguas indígenas, lingüistas e professores se esforçam para ensiná-las às novas gerações. Hoje, há 2 422 escolas que oferecem alfabetização bilíngüe para as crianças índias.
A babel brasileira
Conheça algumas das línguas faladas pelos índios
Tucuna (40 000 falantes)
É a língua indígena mais conservada do Brasil. Os tucunas, habitantes da região do alto Solimões, no Amazonas, aprendem sua língua nativa em escolas públicas – onde os professores são, em sua maioria, não-índios.
Macu (1 falante)
Não se sabe por onde anda o único falante, Sinfrônio Makú, de mais de 70 anos. A última notícia que se teve dele é que trabalhava como jardineiro em Boa Vista, Roraima.
Xipaia (1 falante)
Maria Xipáya, de Altamira, Pará, é a última falante. Ela é uma idosa que nem sabe a própria idade. A língua está sendo dicionarizada pela lingüista Carmen Lúcia Rodrigues, da UFPA.
Embiá (10 000 falantes)
O embiá é uma variante do guarani falada em 7 estados: Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, além de Argentina e Paraguai. Os falantes do embiá também se comunicam em português.
Xetá (1 falante)
Mais uma língua prestes a sumir do mapa: o índio Kwen, de aproximadamente 80 anos, é o único falante. Ele mora em Laranjeiras do Sul, Paraná.
Nheengatu (3 000 falantes)
Conhecida como a língua geral amazônica – era usada por índios de diferentes etnias, além de caboclos –, é derivada do tupinambá. O idioma foi adotado pelo povo baré, do Amazonas, após o sumiço da própria língua.
Puruborá (0 falante)
Todas as pessoas que sabiam falar o idioma puruborá já morreram. Os índios da tribo, em Roraima, falam o português, mas alguns ainda conhecem poucas palavras da língua de seu povo.