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Quem foi Irène Curie, a filha de Marie que também ganhou um Nobel.

Ela foi a segunda mulher laureada com o Nobel de química – 24 anos após sua mãe. Conheça a pesquisadora que sintetizou novos elementos radioativos e tornou a família Curie a mais premiada da história.

Por Maria Clara Rossini
30 nov 2022, 16h52

A mulher na foto acima é Curie. Mas não Marie: a semelhança física entrega que trata-se da filha da pesquisadora mais famosa da história. Marie deu à luz Irène Curie em 12 de setembro de 1897, quando tinha 29 anos. Ela permaneceu como a única filha de Marie e Pierre até o nascimento de sua irmã, Ève Curie, em 1904.

Retrato de Marie Curie com as filhas, Irène e Eve Curie.
Retrato de Marie Curie com as filhas, Irène e Eve Curie. (Print Collector/Getty Images)

Não bastasse ver seus pais receberem dois prêmios Nobel (de química para Marie, e de física para Pierre e Marie juntos), Irène também seguiu a carreira de cientista e garantiu o terceiro Nobel para a família, graças à síntese de elementos radioativos. Abaixo, conheça a trajetória e pesquisas que consagraram Irène Joliot-Curie como uma das cientistas mais importantes (e frequentemente esquecidas) da história.

Criança prodígio

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O início da carreira “acadêmica” de Irène é um bom ponto de partida: a criança entrou para a escola aos 10 anos de idade, e não demorou para Marie e Pierre descobrirem que a aptidão para matemática e ciência corria no sangue Curie. Um ano após iniciar os estudos, Marie decidiu que a filha merecia um maior estímulo intelectual.

Só que não tinha nenhuma instituição mais avançada para onde ela pudesse transferir. A solução? Criar a própria escola. Marie se juntou com outros pesquisadores e colegas de trabalho para criar uma cooperativa de ensino para seus filhos. O nome (nada original) desse empreendimento era “A Cooperativa”, e reuniu acadêmicos franceses de diferentes áreas. A ideia era que os cientistas dessem aulas para os filhos uns dos outros, formando assim um currículo variado e de qualidade para as crianças.

Irène estudou na cooperativa por dois anos antes de voltar ao sistema de ensino tradicional e posteriormente entrar na Faculdade de Ciência da Universidade de Paris. 

Tal mãe, tal filha

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Habilidosa em matemática desde criança, Irène se daria bem em qualquer área da química ou física – mas, assim como seus pais, optou pela radioatividade. Além da influência direta das conversas dentro de casa, Irène teve a oportunidade de trabalhar com a mãe após suas aulas serem interrompidas durante a Primeira Guerra Mundial.

Marie estava trabalhando em hospitais móveis para tratar os combatentes. Sua maior contribuição era operar as máquinas de raio-x, que identificavam projéteis e outros fragmentos dentro dos corpos dos soldados. Essas máquinas só existiam em hospitais até então, mas Marie inventou o “carro radiológico” – um veículo que continha a máquina de raio-x e uma câmara escura, podendo ser levado ao campo de batalha.

Irène trabalhou como enfermeira ao lado da mãe, operando as máquinas de raio-x e ensinando outros médicos e enfermeiros a fazer o mesmo. A jovem também trabalhou nos hospitais móveis sozinha, e recebeu uma medalha pelos serviços prestados durante o conflito.

O interesse pelo mesmo tema fez com que mãe e filha se aproximassem. Muitos colegas diziam que as duas eram parecidas até no temperamento forte e um pouco distante. 

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Após a guerra, Irène concluiu os estudos e apresentou sua tese de doutorado sobre o decaimento dos raios alfa dos átomos de polônio  – elemento químico descoberto por sua mãe. Irène adquiriu o título de doutora em 1925.

Marie Curie e Irène Curie em um laboratório.
(Print Collector/Getty Images)

Pesquisas e Nobel

Após finalizar o doutorado, a pesquisadora passou a trabalhar no Instituto de Rádio (futuro Instituto Curie) e ensinar suas técnicas de pesquisa para um assistente e engenheiro químico em formação, Frédéric Joliot. Mal sabia ela que Joliot se tornaria seu marido e dividiria seu futuro prêmio Nobel.

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Os dois se casaram em 1926, e o sobrenome de Irène passou a ser Joliot-Curie. Em 1934, eles fizeram a descoberta que renderia um prêmio Nobel no ano seguinte: pela primeira vez na história, um elemento radioativo havia sido criado artificialmente. 

O experimento realizado por Irène e Frédéric naquele ano foi o seguinte: eles bombardearam um fino pedaço de alumínio com partículas de radiação alfa. Eles perceberam que o alumínio (um elemento que não é radioativo) continuava emitindo radiação mesmo depois que a fonte de radiação havia sido removida. No mínimo, estranho.

A explicação é que aqueles átomos de alumínio não eram mais alumínio. Eles tinham sido convertidos em um isótopo radioativo de fósforo. Em outras palavras, Irène e Frédéric transformaram um elemento em outro – feito que rendeu o Nobel de química aos dois em 1935. Irène é a segunda mulher da história a receber o Nobel de química – 24 anos após sua mãe.

Após o reconhecimento do prêmio mais importante da ciência, Irène ainda trabalhou pesquisando o núcleo do rádio (também descoberto por seus pais). Mas a exposição a tantos elementos radioativos por um período prolongado tem um custo alto – e a filha acabou tendo o mesmo destino que sua mãe.

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Morte e legado

Marie Curie morreu em 1934, vítima de anemia aplástica. Essa doença pode ser congênita ou causada por exposição à radiação. Considerando que Marie carregava amostras de rádio no bolso e operou máquinas de raio-x pouco sofisticadas por anos, sabemos que foi o segundo caso. Já Irène desenvolveu leucemia, também causada pela radiação. Ela morreu em 1956, aos 58 anos.

Mas Irène não partiu antes de deixar um legado de pesquisas – e também de família. Ela e Frédéric tiveram dois filhos, vivos até hoje: Hélène Joliot, hoje com 95 anos de idade, e Pierre Joliot, que tem 90 anos. A primeira se tornou uma renomada física nuclear, enquanto o segundo construiu a carreira na biologia. Talvez Marie e Pierre estivessem certos lá atrás, quando tiraram Irène da escola: o talento para a ciência realmente corre no sangue Curie.

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