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Quer se civilizar? Escolha bem seu continente

A estrutura geográfica de cada região do globo ajudou a determinar o fluxo de animais, plantas, conhecimento - e forjou os eixos da civilização

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Atualizado em 31 out 2016, 18h24 - Publicado em 31 out 2007, 22h00

Texto Reinaldo José Lopes

No começo do século 16, soldados espanhóis maravilhados descobriram que a América tinha civilizações que não fariam feio perto dos grandes reinos da Europa. Tenochtitlán, a capital asteca, e Cuzco, a dos incas, em muitos aspectos deixavam Madri e Londres no chinelo. Havia, porém, uma coisa esquisita: enquanto os reinos do Velho Mundo viviam trocando diplomatas e presentes, aliando-se ou indo à guerra, astecas e incas aparentemente nem sabiam da existência uns dos outros. Talvez a principal fonte de inferioridade dos impérios americanos fosse esse isolamento bizarro.

Por que as lhamas do Peru nunca foram usadas como animais de carga no México, nem a escrita da América Central foi adotada para registrar os feitos dos soberanos incas? Para o biogeógrafo americano Jared Diamond, a resposta está no eixo predominante dos continentes da Terra. Enquanto a Europa e a Ásia constituem uma única massa continental que se estende, na maior parte, de leste a oeste, tanto os nativos americanos quanto os povos da África tiveram de evoluir em continentes que se estendem mais no eixo norte-sul.

Não pintou um clima

O grande lance nessa história é que é mais fácil manter contato biológico e cultural de leste a oeste do que de norte a sul. Se pegarmos Portugal, o norte do Irã e o centro do Japão, veremos que essa imensa faixa tem a mesma duração das estações, e portanto um clima parecido, graças à maneira como a Terra gira em torno do Sol. Isso significa que, na Eurásia, era relativamente fácil e rápido exportar para todo lado os elementos básicos da civilização – culturas agrícolas e animais domésticos. Em poucos milênios, o trigo e as vacas domesticadas no Oriente Médio foram parar na Inglaterra e se deram muito bem, obrigado. Já os cavalos usados por tribos da Ucrânia não demoraram muito para chegar até a China e transformar o modo de lutar por lá. De forma indireta, o fenômeno também valia para idéias, como a escrita ou o uso do ferro. Comparemos tudo isso com a situação na África. Lá, a agropecuária do Oriente Médio chegou até o Egito, mas teria de atravessar o Saara para se espalhar mais – e, mesmo se conseguisse, chegaria a uma área tropical onde não se daria bem. Na América, a batata dos Andes seria um plantio ideal para as montanhas do México – se não tivesse de passar pela selva úmida da América Central, onde não cresceria nunca.

Antes que alguém queira achar furos nesse quadro geral, é importante lembrar que os eixos continentais norte-sul não foram barreiras absolutas. Em vários casos, seu efeito foi o de retardar a transferência de inovações de uma região para outra, ou limitar a difusão delas, como no caso da lhama ou da batata andinas.

De um jeito ou de outro, as diferenças de clima que aparecem de norte a sul do planeta enfraqueceram ameríndios e africanos, que ficaram com civilizações menos conectadas – e mais vulneráveis.

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Barreiras de exportação

Veja como o formato dos continentes ajudou ou atrapalhou a passagem de culturas agrícolas, animais domésticos e idéias

AMÉRICA

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LHAMA

De: Peru

Para: Equador e Argentina

GIRASL

De: Costa leste dos EUA

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Para: Centro-Leste dos EUA

BATATA

De: Peru

Para: Colômbia e Argentina

ESCRITA

De: México

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Para: Guatemala, Belize, El Salvador e Honduras

ÁFRICA

RGO

De: Nigéria

Para: África Central

INHAME

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De: Nigéria

Para: África Central

EURÁSIA

TRIGO

De: Turquia

Para: China, Europa e norte da África

CAVALOS

De: Ucrânia

Para: Europa Ocidental e Extremo Oriente

FRANGO

De: China

Para: Europa

ESCRITA

De: Líbano

Para: Oriente Médio e Europa Ocidental

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