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Querem acabar com os negros?

Michael Jackson afirma existir um complô para desacreditar os negros. Pior ainda: há os que acreditam que o vírus da Aids foi criado para exterminar a população negra.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h27 - Publicado em 30 set 2005, 22h00

Lia Hama

TEORIA – Campanha para difamar os negros

OBJETIVO – Há pessoas que não aceitam o sucesso dos negros

O que o cantor Michael Jackson, o boxeador Mike Tyson e o líder sul-africano Nelson Mandela têm em comum? Além de famosos e bem-sucedidos, são todos vítimas de uma gigantesca conspiração para desacreditar os negros. É o que afirmou o próprio Michael Jackson ao ser acusado de molestar um garoto de 14 anos. Em entrevista a uma rádio antes de ser absolvido pela Justiça americana, o “rei do pop” disse ser alvo de uma bem orquestrada campanha racista que há décadas estaria tentando difamar os negros nos Estados Unidos e em outros países. O cantor citou como exemplo o ex-campeão mundial de boxe Muhammad Ali. Defensor dos direitos civis dos negros americanos, o boxeador se recusou a lutar na Guerra do Vietnã, em 1967, por ser contrário ao conflito. Pelo ato de rebeldia, Ali foi obrigado a devolver o cinturão de campeão mundial e condenado a cinco anos de prisão. Mais tarde a Justiça voltou atrás e anulou a condenação. Mas, para Michael Jackson, histórias como a de Ali e a do líder Nelson Mandela – que passou 27 anos na prisão por sua luta contra a segregação racial na África do Sul – são exemplos de negros corajosos que foram perseguidos em razão da cor da pele. “A história de Mandela me deu muita força nos momentos difíceis”, disse o cantor.

A suposta conspiração contra Michael Jackson se deveria também ao fato de ele, um negro (bem, pelo menos era quando jovem), ter adquirido os direitos autorais do catálogo dos Beatles, a maior banda de rock de todos os tempos – formada, como se sabe, por quatro rapazes brancos de Liverpool. Há duas décadas, quando estava no auge da carreira, Michael Jackson arrematou o catálogo por 48 milhões de dólares. Atualmente a sua parte no negócio é avaliada em cerca de meio bilhão de dólares. Para muita gente, é motivo mais do que suficiente para todo tipo de conspiração. Essa fortuna permitiu ao cantor fazer “pequenas extravagâncias”, como construir o seu rancho e refúgio Neverland (ou Terra do Nunca), na Califórnia, para onde, aliás, o astro costumava levar seus amiguinhos adolescentes. “Esse é mais um dos muitos planos para me atirar na lama”, afirmou o cantor em uma entrevista em março de 2005.

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Michael Jackson não é a única celebridade negra a se dizer vítima de conspiração. O cantor de soul James Brown afirmou certa vez: “Nos Estados Unidos você é perdoado por tudo, menos por ser negro e bem-sucedido”. Para diversos grupos ativistas afro-americanos, não faltam exemplos de negros famosos que seriam vítimas de complôs arquitetados por poderosos grupos de mídia – controlados, é claro, por brancos. O próprio James Brown seria um dos alvos, pois a “mídia branca” não se cansa de rotulá-lo como “um viciado em drogas que adora espancar mulheres”. Outro exemplo seria o ex-astro do futebol americano O. J. Simpson. Mesmo inocentado num dos julgamentos mais comentados de todos os tempos, ele continua sendo tratado pela imprensa como “o homem negro que matou a mulher branca a facadas”.

O boxeador Mike Tyson seria outra vítima do complô. “A imprensa branca conseguiu pintar Tyson como um estuprador, um maníaco sexual viciado em drogas”, afirmou o jornalista Austin Kaluba, em artigo para a revista BlackMag, especializada em cultura negra. “Pobre Tyson. Não pode nem apertar as mãos de uma mulher que a imprensa logo o acusa de assédio sexual”, disse Kaluba. Segundo o jornalista, “a mídia branca hostil às celebridades negras está sempre tentando encontrar manchas nas biografias dos negros. Se não as encontram, facilmente as inventa”.

Para os conspirólogos, outro negro perseguido pela chamada “White American Conspiracy” (Conspiração Americana Branca) é o comediante americano Dave Chappelle. Foi só ele sumir por uns dias em 2002 para surgirem boatos de que tinha enlouquecido e sido internado numa clínica psiquiátrica na África do Sul. Mais tarde, o comediante declarou que, de fato, tinha viajado para a África do Sul, mas para um “retiro espiritual”, por estar estressado e angustiado com a estréia da nova temporada de seu programa, o Chappelle’s Show.

“COMO OS ANIMAIS”

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Destruir a reputação conquistada a duras penas seria apenas uma das táticas comuns usadas contra os negros, de acordo com os defensores da tese de complô. Outra ação mais extrema seria, simplesmente, eliminar os negros. Teria sido esse o caso do líder muçulmano Malcolm X, um dos principais críticos da sociedade americana nos anos 60. Ao se converter ao islamismo, Malcolm renunciou ao seu sobrenome (Little) e adotou um X no lugar. “Neste país, o negro é tratado como animal, e os animais não têm sobrenome”, disse o ativista. Malcolm X morreu no dia 21 de fevereiro de 1965, em Nova York, depois de levar 16 tiros disparados por três homens. Teria sido uma ação de muçulmanos radicais descontentes com a adoção de uma postura mais light por Malcolm X – mas alguns viram a participação da FBI no atentado.

Três anos depois, outro importante líder negro americano, o pastor Martin Luther King, um defensor de direitos civis que lutava contra a discriminação racial, morreu baleado em Memphis. A culpa recaiu sobre um homem chamado James Earl Ray, que confessou o crime e foi condenado a 99 anos de prisão. Posteriormente, ele afirmou que tinha sido pressionado pelo FBI a confessar-se culpado. Ray morreu em 1998, jurando inocência. A família de King acreditou na versão de Ray e está até hoje convencida de que o governo americano teve alguma participação no assassinato do pastor.

Atualmente, o principal ideólogo de teorias conspiratórias contra negros é Louis Farrakhan, líder do movimento Nação de Islã. Para Farrakhan, que já chegou a defender a criação de um país negro autônomo dentro do território americano, a simples existência da raça branca representa uma conspiração para eliminar os negros. Ele afirma que os brancos não se cansam de criar formas de exterminar os negros. O ardil mais diabólico de todos teria sido a invenção da Aids. Sim, de acordo com o líder islâmico, a Aids nada mais é do que “uma doença criada pelo homem para matar os negros”. Ele acusa o governo americano de ter disseminado o vírus da Aids na África para dizimar a população do continente.

A grande incidência de Aids entre a população negra faz com que muitas outras figuras conhecidas defendam a tese de conspiração do governo americano para exterminar as pessoas dessa cor. O diretor de cinema Spike Lee diz que “a Aids é uma doença fabricada pelo governo”. Não são poucos os que pensam como ele. Uma pesquisa realizada com moradores negros de Nova York, em 1990, revelou que 29% deles acreditam que o vírus da Aids foi desenvolvido em laboratório com o objetivo de infectar a população negra. Se isso é verdade, seria mais um caso na história em que a arma acabou fugindo totalmente ao controle de seus malévolos criadores.

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