Surto de salmonela pode ter contribuído para o fim dos astecas
Estudo de DNA liga essa epidemia bacteriana ao colapso da civilização após a chegada dos espanhóis
Quando as forças espanholas chegaram ao México, em 1519, a população nativa girava em torno de 25 milhões de pessoas. Um século depois, esse número foi reduzido para um milhão. Tudo isso devido a doenças pestilentas que chegaram junto com os colonizadores europeus.
Muitos estudos sugeriram que o sarampo, a varíola, o tifo e uma febre hemorrágica seriam os causadores do colapso da civilização asteca, mas nunca apresentaram evidências sólidas que comprovassem tais hipóteses.
Agora, cientistas afirmam ter recuperado amostras de DNA que estariam infectadas por um tipo mortal de salmonella, a Salmonella Paratyphi C. Essa bactéria seria a verdadeira culpada pelo surto cocolizti (febre hemorrágica viral) que dizimou 80% dos habitantes nativos do México entre 1545 e 1550. O resultado da pesquisa foi publicado neste mês pela Nature.
Para ter acesso às amostras, os pesquisadores desenterraram cerca de 30 corpos de nativos em um cemitério de Oaxaca, no sul do México. Após extrair e sequenciar o DNA dos dentes, a equipe comparou os genes com mais de 2.700 genomas bacterianos modernos. E os testes comprovaram que havia indícios de infecção por salmonella.
Esse tipo de bactéria é bem raro hoje, mas ainda pode ser encontrado em países pobres. Pode ser transmitida por meio das fezes e febre entérica (febre alta, dores de cabeça, sangramentos, dores musculares, manchas na pele, entre outros sintomas). Quando não tratada, pode matar de 10 a 15% dos infectados.
“Nosso estudo propõe que a salmonella contribuiu para o declínio populacional durante o surto de cocoliztli no México”, concluíram os pesquisadores alemães do Instituto Max Planck à Nature.
Para dar suporte às novas evidências, outra pesquisa conduzida na Universidade de Warwick, no Reino Unido, encontrou vestígios da S. Paratyphi C na Europa cerca de 300 anos antes da devastação que ocorreu no México. O genoma bacteriano foi retirado de uma mulher enterrada na Noruega por volta de 1.200.
Isso significa que a doença já estaria circulando pelo continente europeu muito antes de ser levada para o México e seria um ponto de partida para novos mapeamentos da doença. “Realmente, gostaríamos de estudar as duas cepas juntas para obter mais resultados”, acrescentou o pesquisador Hendrick Poinar.