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Antártida: Mundo branco

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h59 - Publicado em 30 set 1988, 22h00

Antártida. O próprio nome já causa confusão (não seria Antártica?). Os gregos chamavam o pólo norte de Artikos, ou seja, “da ursa”, pois a constelação da Ursa Maior fica naquela direção. O pólo oposto era, então, o Antartiko. Na evolução da língua portuguesa, o substantivo grego Antartiko virou Antártida. Mas o adjetivo permaneceu grego, como em vento antártico, por exemplo. Apesar do nome antigo, é um dos últimos lugares do planeta ainda relativamente inexplorados. Sua área é pouco menor que a da, América do Sul, metade da área da África, o dobro da Austrália e pouco maior que a Europa.

Tendo-se originado de uma fragmentação do supercontinente de Gondwana, há 250 milhões de anos, a Antártida possui características geológicas comuns aos demais continentes do hemisfério sul. O solo antártico parece conter jazidas de berílio, níquel, cobre, manganês, cobalto, platina, prata, titânio e ouro, os mesmos minerais existentes na cordilheira dos Andes e na África do Sul. Da mesma forma, seus vulcões ativos, como os da ilha de Decepção e o monte Erebus, fazem parte do chamado círculo de fogo do Pacífico.

Nos Vales Secos, as condições climáticas são semelhantes às de Marte, daí sua importância para pesquisas. São regiões tão frias e secas que uma bolha de sabão congela-se no ar. Por enquanto, é economicamente inviável a exploração das riquezas antárticas, pelo rigor do clima. É uma pena: contendo quase 95 por cento da água doce do mundo, na forma de gelo, a Antártida poderia servir de fonte a todos os rios da Terra. Eles correriam durante mil anos, antes de esgotar essa imensa reserva. Só para ter uma idéia, um único iceberg (massa de gelo flutuante), fotografado em 1977, media 2275 quilômetros quadrados (equivalentes ao dobro da área do Rio de Janeiro). Apenas esse iceberg poderia fornecer água para uma cidade como o Rio de Janeiro durante três anos.

À medida que o continente antártico se afastava dos trópicos, aproximando — se do pólo sul, a temperatura e o clima também se modificavam. Os animais tiveram de se adaptar às novas condições. As focas de hoje descendem de animais terrestres que viveram próximo ao mar há mais de 30 milhões de anos. Junto com os cetáceos, os pinípedes, ou seja, animais com os pés em forma de barbatana, são os mamíferos que melhor se ajustaram à água e ao frio. Algumas focas chegam a possuir uma camada de gordura, que serve de isolante térmico, de 7,5 centímetros de espessura.

O frio intenso obriga também os animais a obedecer rigorosamente às estações do ano, tendo as crias quando as condições climáticas se tornam mais favoráveis e o alimento é mais abundante. As fêmeas de alguns animais polares possuem um mecanismo de implantação retardada: apenas quando começa a melhorar o clima é que o óvulo fecundado anteriormente se implanta na parede do útero, iniciando a gravidez.

No começo da primavera, os elefantes-marinhos machos (Mirounga leonina), que são as maiores focas antárticas, delimitam o território, à espera das fêmeas. O grupo é formado por vinte ou trinta fêmeas e um macho. Em outubro nascem as crias, pesando cerca de 35 quilos, resultantes do acasalamento do ano anterior; logo depois, os adultos voltam a se acasalar. O elefante-marinho é o maior de todos os pinípedes — um macho adulto pode medir 7 metros de comprimento e pesar 4 toneladas. Existem, na Antártida, 45 espécies de focas . Uma delas — a foca de Weddell (Leptonychotes weddelli) — é considerada pelos cientistas uma das melhores mergulhadoras criadas pela natureza: capaz de permanecer submersa por uma hora e dez minutos e de atingir profundidades superiores a 540 metros, seu mecanismo de mergulho pode proporcionar inesperados conhecimentos para o homem.

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Das 52 espécies de aves da Antártida, os pingüins (dezoito espécies) são a sua marca registrada, já que todos os existentes hoje habitam o hemisfério austral (o pingüim ártico foi extinto). São aves marinhas por excelência, incapazes de voar, mas extremamente ágeis na água. Diferem de outras aves marinhas na sua camada de gordura e na penugem especialmente adaptada para o mergulho (o pingüim-imperador pode atingir a profundidade de 265 metros, permanecendo submerso até nove minutos). Em terra, são desajeitados ao caminhar e freqüentemente escorregam pela neve quando fogem assustados.

Como as aves petréis, os pingüins possuem uma glândula, acima do bico, que elimina o excesso de sal ingerido. Isso é fundamental numa região onde não existe água doce em estado líquido. O petrel-gigante (Macronectes giganteus) é a maior ave que faz ninho na Antártida — pesa quase 4 quilos e tem 2 metros de envergadura. Desde o nascimento, essas aves necrófagas são alimentadas com restos de animais mortos. A principal defesa dos filhotes é um tipo de vômito, de odor extremamente desagradável, que expelem quando se sentem ameaçados. Mas nem sempre essa tática funciona contra a agressiva skua, ou gaivota-rapineira (Catharacta lonnbergi).

A skua ataca filhotes e ovos de outras aves, assim como aves adultas de menor porte. Defende com bravura e agressividade o próprio ninho; tanto o macho como a fêmea fazem vôos rasantes sobre qualquer um que se aproxime. Migram até a América Central e no Brasil já foram avistados no litoral maranhense. Mas o grande viajante é o albatroz-errante (Diomedea exulans), talvez a maior ave marinha do mundo, chegando a ter uma envergadura de 3,5 metros, o que lhe permite dar a volta ao mundo em busca de alimentos. Desajeitado em terra, seu vôo é um dos mais belos espetáculos da natureza. Gosta de acompanhar os navios, planando em ziguezague.

Um continente em três cores — preto, branco e azul. Foi assim que os primeiros exploradores descreveram a Antártida, no século XVI. Demorou muito até se descobrir que havia terra debaixo do manto gelado; esperava-se encontrar apenas uma calota de gelo, flutuando no mar como no Ártico. A tentativa de se alcançar o pólo sul geográfico, o ponto arbitrário aonde todos os paralelos e meridianos convergem, foi uma das mais trágicas páginas da história das explorações, em que o sucesso da expedição do norueguês Roald Amundsen, em dezembro de 1911, ficou para sempre ligado ao desastre da operação comandada pelo inglês Robert Falcon Scott, no mês seguinte.

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Quando Scott finalmente chegou ao pólo, no dia 17 de janeiro de 1912, Amundsen já tinha voltado ao acampamento-base, depois de 99 dias de viagem, ainda com víveres e nove cães (havia partido com 52 cães e quatro trenós). A opção de Amundsen pelos valentes cães foi talvez a mais acertada — Scott escolheu os pôneis da Manchúria, que, além de não agüentarem os rigores antárticos, necessitavam de feno para se alimentar; já os cães podiam comer a carne dos companheiros sacrificados.

Scott e seus homens morreram de frio e fome a 20 e poucos quilômetros do acampamento, quando voltavam. Hoje, um avião gasta apenas três horas no percurso de ida e volta entre o antigo acampamento-base e a base americana Amundsen-Scott. A presença da tecnologia pode alterar o delicado equilíbrio ecológico da Antártida, onde não existem sequer bactérias no ar e os alimentos abandonados no início do século ainda podem ser comidos, sem problemas. Do mesmo modo, todo lixo ali deixado estará à espera, intacto, das gerações futuras.

Olha o passarinho!

Fotografar na Antártida requer certos cuidados que, se não forem seguidos à risca, podem inutilizar as fofos ou o próprio equipamento. O fotógrafo deve ter sempre em mente que vai encontrar as mesmas condições de temperatura do interior de um freezer.

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Preparar a câmera — O óleo que lubrifica o mecanismo do obturador (dispositivo que determina o tempo de exposição) tende a ficar mais espesso com o frio, o que dificulta ou até impossibilita a foto. Muitas vezes é preciso trocar este óleo.

Condensação — Se a câmera sair nua do calor do alojamento para o ar livre, a neve se derreterá ao tocá-la, congelando-se em seguida numa fina película. A solução é voltar para o abrigo. Ao sair, a câmera deve permanecer num estojo até atingir a temperatura do ar. O corpo de metal supergelado traz outros problemas: condensa a respiração do fotógrafo numa película de gelo e pode causar feridas se a pele do rosto ou da mão encostar no metal — ela gruda, como num freezer. Ao voltar para o alojamento, a umidade se condensa na câmera gelada, por dentro e por fora, trazendo a ferrugem. Para evitá-la, a câmera deve ser colocada num hermético saco plástico, antes de o fotógrafo entrar.

Filme e baterias — O frio intenso transforma o filme em uma afiadíssima faca, obrigando o uso de luvas. É também preciso avançar lentamente cada chapa, pois o filme se rasga à toa. As pilhas e as baterias deixam de funcionar e, com elas, os fotômetros. Alguns fabricantes criaram um estojo onde as pilhas ficam aquecidas dentro da roupa do fotógrafo, ligadas por um fio ao equipamento.

Para saber mais:

No último front gelado

(SUPER número 4, ano 7)

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