Produzir um veículo significa, antes de mais nada, um enorme dispêndio de energia, que se traduz, por sua vez, na inevitável contaminação do meio ambiente. Mas não é só: tudo o que envolve a fabricação, uso e desgaste do novo carro gera resíduos de todo tipo, o que amplia a carga pesada que se deposita constantemente sobre os ombros da natureza. Não há dúvida que esse processo sai caro, em termos econômicos. Ainda mais importante, porém, é o seu custo ecológico, que não só é elevado, mas também mal conhecido. Só agora o Instituto de Meio Ambiente e Projeções de Heidelberg, na Alemanha, fez um balanço ecológico de um automóvel, desde sua gestação ao desmonte. Algo semelhante se fez na Espanha, mas com relação ao cidadão: quanto ele prejudica o ambiente em seu cotidiano? A resposta se encontra nas duas páginas seguintes desta edição.
No caso dos veículos, espanta ver que um único carro consome em toda sua vida energia suficiente para suprir, durante seis anos, as necessidades de um alemão que não tem automóvel, incluindo-se aí eletricidade, transporte e calefação para enfrentar o rigoroso inverno europeu. Um indiano precisaria de nada menos que 76 anos para consumir a mesma energia. Por outro lado, se fossem recolhidos todos os poluentes que emanam do cano de escapamento e estendidos em uma superfície de 100 metros quadrados, eles formariam uma coluna de fumaça de 204 quilômetros de altura. Para se ter uma idéia do que isso representa, basta dizer que atroposfera, a camada de ar que permite a vida em nosso planeta, só chega a 10 quilômetros.
Mas não é só. Um utilitário que pese 1160 quilos deixa atrás de si uma inacreditável montanha de 26,7 toneladas de resíduos, ou seja, uma massa 23 vezes superior ao seu peso. Com um uso mais racional, um motorista poderia melhorar esse balanço negativo, no qual a própria fabricação do carro já provocou um grande impacto prévio. Assim, antes de rodar 1 quilômetro, um carro já sujou 922 milhões de metros cúbicos de ar com materiais nocivos, despejou quase 15 toneladas de gás carbônico e deglutiu uma quantidade de energia equivalente a 5 000 litros de petróleo.
“O carro é um luxo cujo verdadeiro preço tem sido subestimado”, afirma Dieter Teufel, diretor do Instituto de Meio Ambiente e Projeções. Para fazer esse balanço ecológico, Teufel escolheu um automóvel de 1 100 quilos, sem acessórios, consumo de 10 quilômetros por litro, dez anos de uso e 130 000 quilômetros rodados. Os especialistas comprovaram que um automóvel de luxo, como um Mercedes da série S, com o peso de 1,9 tonelada, consome 50% a mais de energia, expele 55% a mais de gás carbônico e deixa para trás 40% a mais de resíduos que um carro popular.
A reação das multinacionais do automóvel não se fez esperar. “O estudo faz uma condenação global da indústria automobilística. E isso não ajuda em nada uma discussão objetiva do tema”, protesta Rudolf Probst, porta-voz da BMW. Günther Scherelis, da Volkswagen, é ainda mais crítico: “O informe é incompleto e não menciona os aspectos positivos, como a criação de postos de trabalho, o transporte de pessoas e bens, a possibilidade de viajar e o eficiente funcionamento dos serviços de manutenção e de socorro”. O objetivo do estudo, entretanto, não era calcular os aspectos positivos e negativos do automóvel, mas avaliar os danos ecológicos que todo motorista deve conhecer. Os fabricantes de carros têm consciência do problema e sabem que uma das condições para a sobrevivência da indústria é construir veículos cada vez mais ecológicos.