Poucos lugares do planeta mexem tanto com o imaginário dos homens quanto as florestas do coração da África. É nessa região que estão aqueles mamíferos de grande porte que fazem sucesso em filmes de safári, como os gorilas, antílopes, girafas e búfalos. São os bichos que as crianças gostam, os bichos que lotam zoológicos e que, em seu hábitat, provocam um encanto inevitável.
Macacos, tucanos e papagaios enfeitam as árvores. Crocodilos e hipopótamos são os donos das margens dos rios. Nas relvas, imperam os antílopes e búfalos. Costuram as paisagens, criam caminhos, abrem clareiras, alimentam-se de outros bichos, isolam-se quando necessário. A cena se passa na frente de quem consegue chegar em torno do rio Congo, um dos maiores do mundo em volume d’água. Ali está o segundo maior bloco de florestas tropicais – só perde em tamanho para a Amazônia. Sete países englobam esse bioma: República Democrática do Congo, República do Congo, Gabão, Camarões, República da África Central, Guiné Equatorial e Angola.
O grande atrativo do Congo é a concentração de gorilas acima da média: mais de cinco indivíduos por quilômetro quadrado. Os que melhor representam a área são os de grande porte: o gorila de terras baixas, o chimpanzé da África Central e o bonobo, o parente mais próximo do ser humano, com o qual dividimos 98% de nosso DNA. O número de gorilas de terras baixas é o maior do mundo, mais de 100 mil indivíduos. Endêmico da região da República Democrática do Congo, o bonobo é encontrado entre os rios Congo e Kasai e se espalha por uma área de 840 mil quilômetros quadrados. Sua população está estimada em até 20 mil indivíduos. A caça desses macacos não é apenas um ameaça à existência deles, mas também aos próprios seres humanos que se alimentam dos bichinhos: são fortes as evidências da conexão entre as epidemias do mortal vírus Ebola e o consumo de carne de macaco. Talvez um dos primeiros grandes castigos à invasão humana numa das regiões selvagens mais importantes do mundo.
O lugar é como a floresta Amazônica, mas chove bem menos que no bioma brasileiro. Embrenhar-se pelas florestas do Congo também é trabalhoso, mas a mata é mais aberta e há clareiras naturais, chamadas bai, onde os animais procuram por água, sais minerais e comida. Cada um fica na sua – difícil ver mamíferos grandes como elefantes e macacos dividindo a mesma bai.
Para chegar lá, porém, é necessário fazer uma via sacra. Viajar horas pelo rio Congo, em pequenas canoas. Dormir em tendas de campana no meio da selva e caminhar em trilhas – algumas, até mesmo, são criadas por elefantes! Pelo caminho, navegando o Congo, já é possível ouvir macacos gritões se jogando das árvores e o barulho agudo dos pássaros. O acesso a esse mundo colorido é mais comum pelo Parque Nacional de Odazala, um dos dois parques mais importantes da região. O outro é o Parque Nacional de Nouabalé-Ndoki.
Até hoje, poucos estudos mapearam a vegetação da África Central. Três áreas principais podem ser identificadas: a floresta tropical perene, a floresta tropical semidecidual e os pantanais, às margens dos rios Congo e Sangha – lar do mítico animal mokélé mbembe, o matador de elefantes, uma criatura folclórica que parece um dinossauro que alguns habitantes dizem avistar na região.
Área total – 1 725 221 km²
Área intacta – 70%
Área protegida – 8,1%
Conservação e ameaça
A exploração comercial dos recursos naturais ocorre há séculos na África Central e ainda é intensa nos dias de hoje, causando conflitos entre os diversos países do Congo. A instabilidade que essas batalhas trazem para a área somadas à exploração são as maiores ameaças à biodiversidade. As matas são cortadas mais rapidamente do que podem crescer e os animais são caçados em velocidade maior que sua reprodução. A construção de estradas, a instalação de indústrias e a conversão da agricultura são preocupações ainda mais imediatas. Na República da África Central, quase todas as regiões de florestas do país serão transformadas em terras agrícolas até 2025, se nada não for feito. A manutenção da biodiversidade da vida selvagem nas florestas do Congo dependerá da atenção e ação de organismos internacionais, já que há, no país, instabilidade política e econômica.