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Contra a barbárie não existe diálogo

Não é só o Isis. Temos de prestar atenção às barbáries cometidas em nome da religião aqui no Brasil também, e combatê-las.

Por Alexandre Versignassi
Atualizado em 8 mar 2024, 11h35 - Publicado em 14 nov 2015, 12h00

A ideologia do Isis é simples: extinguir todas as nações, transformando o planeta num império regido por leis tribais (travestidas como crença religiosa). Essa até era a ideia original do islamismo, no século 7. Não só do islamismo: essa também foi a bandeira que fundou o judaísmo – o Livro de Josué, por exemplo, chama de “conquista de Canaã” aquilo que hoje chamaríamos de “genocídio” (e mesmo assim vai virar novela, já que está na Bíblia). Mesmo o cristianismo, que surgiu no século 1 como uma reação pacifista ao domínio romano na Palestina, serviu de justificativa para absurdos. Foi o cristianismo da Inquisição, das Cruzadas, das caças às bruxas.

Mas tudo isso foi virando passado com a consolidação dos Estados laicos, movimento no qual a própria França foi pioneira. Cada indivíduo passou a poder acreditar no que bem entendesse, contanto que a prática religiosa do sujeito não infringisse o bem comum. Bom, o que os extremistas fizeram em Paris obviamente infringe. Mas também temos os nossos extremistas religiosos, muitos deles no papel de legisladores. E o que eles têm fazem aqui também infringe o bem comum, porque criar leis contra mulheres e gays baseando-se em crendices, por exemplo, é, sim, uma forma de barbárie. Obrigar por lei uma mulher estuprada a ter o filho do estuprador só porque intérpretes do texto bíblico decidiram ditar quando a vida começa é barbárie. Impedir gays de constituírem família pelo fato de que “eles não se reproduzem” ou porque a “a Bíblia condena a sodomia” também. Tudi isso é usar religião para tirar direitos do próximo – coisa que vai contra os princípios básicos da própria religião usada como bandeira.

O problema, no fim, nem está nas religiões. Está nas justificativas torpes. O próprio Isis só é muçulmano por uma questão geográfica. Se o movimento desses asnos tivesse nascido em Salt Lake City ou na Baixada Fluminense, eles usariam Cristo como justificativa. Se fosse na Escandinávia, que tem 80% de ateus, usariam Eisntein. Não é exatamente um exagero: o próprio Hitler, que não tinha religião nenhuma, usou Darwin para validar seu genocídio. Outro terrorista ateu, Stálin, usou Marx.        

O erro, então, não está nas religiões, mas nas barbáries impetradas em nome delas. E, apesar de os acontecimentos de Paris serem exponencialmente mais trágicos que qualquer projeto de lei da nossa bancada evangélica, vale usar o momento para lembrar que, sim, aqui também existe extremismo, e para entrar de vez em guerra contra ele. Porque para combater a barbárie não existe diálogo.

 

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