Salvaram a Mata Atlântica?
A missão de Chris era observar as soluções brasileiras para levá-las a outros países tropicais. ¿A Mata Atlântica abre um precedente espetacular.
Denis Russo Burgierman / Marcos Nogueira / Rodrigo Maroja
Enfim, uma notícia boa para a ecologia brasileira. Os ambientalistas do mundo começam a achar que a tão judiada Mata Atlântica está dando a volta por cima. E que ela pode servir como exemplo para o mundo de como reverter a degradação numa região ameaçada. Dia desses, o Instituto Worldwatch, uma das mais importantes ONGs ambientalistas internacionais, mandou para o Brasil um de seus principais pesquisadores, o especialista em biodiversidade Chris Bright. A missão de Chris era observar as soluções brasileiras para levá-las a outros países tropicais. “A Mata Atlântica abre um precedente espetacular”, diz.
Calma lá. Isso não quer dizer que a guerra esteja ganha. Ainda há muita degradação e 92% da floresta já foi para o vinagre. “Mas, depois de 500 anos de destruição, a relação com a natureza mudou”, afirma Chris. A mata está longe de ser salva, mas a seta, que esteve apontada para baixo desde que um marinheiro português gritou “terra à vista”, em 1500, parece ter virado para cima.
A Mata Atlântica é um hotspot. Na língua dos ambientalistas, isso quer dizer duas coisas: que é uma região cheia de espécies que só existem lá e que está muito ameaçada, com menos de 25% da cobertura original inteira. Ou seja, é uma área prioritária de preservação, daquelas que precisam ser salvas com urgência sob pena de o planeta perder um monte de biodiversidade. Há 25 hotspots no mundo. De todos eles, a floresta costeira brasileira parece ser a primeira a dar sinais de reação. E que sinais são esses? Chris destaca três:
1. Menos devastação
Fotos aéreas e de satélite mostram que o ritmo da derrubada caiu para um nível aceitável.
2. Organização da sociedade civil
Há algo como 170 ONGs atuando na região. Isso quer dizer que tem gente suficiente prestando atenção. Destaque para a Associação Mico-Leão-Dourado, vencedora do Prêmio Super Ecologia 2002 na categoria Fauna, que, há 18 anos, vem salvando a espécie do desaparecimento. Outra ONG importante é a pioneira S Mata Atlântica.
3. Governo consciente
As políticas públicas têm sido acertadas. Exemplo disso é o projeto federal de criar corredores ecológicos: regiões reflorestadas ligando um pedaço a outro da Mata Atlântica. Os corredores permitirão a passagem de animais e evitarão que eles fiquem ilhados, condenados a cruzar apenas com parentes próximos e a gerar descendentes geneticamente frágeis. O reflorestamento dos corredores pode servir de exemplo para que outras regiões degradadas sejam recuperadas.
Uma das lições brasileiras que o Worldwatch pretende levar para outros países pobres é a idéia de envolver a população local nos projetos. Em outros lugares, especialmente na África, isso não foi feito e as conseqüências revelaram-se desastrosas. “As ONGs européias e americanas botavam dinheiro em projetos ambientais nos países africanos e acabavam atraindo gente de muito longe”, diz Chris. “O resultado é que essa migração aumentava a população e, conseqüentemente, a pressão ambiental. Ou seja, os projetos ambientais, no final, promoviam a derrubada de florestas.”
OK, as notícias são boas. Mas o Worldwatch não tem medo de sair por aí divulgando-as? E se, diante delas, a população resolver voltar a devastar, na ilusão de que não há mais razões para preocupação? Chris não acha que é por aí. “Por muitos anos, os ambientalistas só deram notícias ruins. Já era hora de as pessoas verem algum resultado para essa mobilização toda”, diz. E vida longa para a Mata Atlântica.
Os pontos mais quentes
Veja quais são os 25 hotspots do mundo – regiões muito ameaçadas e cheias de espécies que só existem lá
1. Mata Atlântica
2. Sundaland (Indonésia)
3. Mediterrâneo
4. Madagáscar e Ilhas do Índico
5. Indo-Birmânia
6. Caribe
7. Andes Tropicais
8. Filipinas
9. Província Florística do Cabo (África do Sul)
10. Mesoamérica
11. Cerrado Brasileiro
12. Sudoeste da Austrália
13. Montanhas do Centro-Sul da China
14. Polinésia e Micronésia
15. Nova Caledônia
16. Chocó-Darién e Equador Ocidental
17. Florestas da Guiné e África Ocidental
18. Ghats Ocidentais (Índia) e Sri Lanka
19. Província Florística da Califórnia
20. Karoo (África do Sul)
21. Nova Zelândia
22. Chile Central
23. Cáucaso
24. Wallacea (Indonésia)
25. Montanhas do Arco Oriental e Florestas Costeiras (Tanzânia)