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Como é a vida em um deserto?

A falta d'água e o clima instável faz com que a vida nesses locais seja complicada

Por Yuri Vasconcelos
Atualizado em 22 fev 2024, 10h58 - Publicado em 18 abr 2011, 18h56

Não é nada fácil. Além do clima altamente seco e da água escassa, as mudanças de temperatura são enormes: de dia, o calor é de rachar, acima dos 40 ºC; de noite, faz frio abaixo de zero. Mas, apesar de todas as dificuldades, milhares de animais habitam os desertos, que têm diferentes características dependendo da região do planeta onde se localizam. O Saara, por exemplo, talvez o mais conhecido de todos, é uma imensidão de dunas com oásis em pontos isolados. Já os desertos do sudoeste dos Estados Unidos têm o solo de terra batida e uma vegetação em que predominam os cactos. Em cada um deles vivem animais específicos, que desenvolveram curiosos mecanismos fisiológicos e comportamentais para sobreviver. Raposas, morcegos, muitas cobras e a maioria dos roedores só saem das tocas à noite, quando a temperatura cai.

Outros bichos, como o chamado esquilo-do-solo (Spermophilus tereticaudus), encontrado nos desertos do México e dos Estados Unidos, entram em estado de estivação – nome dado à hibernação nas regiões quentes – quando o calor é excessivo e a vegetação está seca demais. Já os urubus-de-cabeça-vermelha (Cathartes aura) – também do sudoeste dos Estados Unidos – urinam nas próprias pernas para se refrescar. “Quando o líquido evapora, carrega com ele uma certa quantidade de calor. É também pela mesma razão que vários mamíferos do deserto ficam lambendo suas patas”, afirma o biólogo José Eduardo Pereira Wilken Bicudo, da Universidade de São Paulo (USP). Os bichos do deserto também adotam estratégias curiosas para driblar a falta de água. Muitos são capazes de tirar todo o líquido de que necessitam dos alimentos que consomem, principalmente cactos.

Até como aproveitar ao máximo qualquer tipo de umidade, por menor que seja, eles sabem. “Os ratos-cangurus (Dipodomys deserti) vivem em galerias sob o solo completamente fechadas, criando um microclima favorável à vida”, diz José Eduardo. Assim, eles evitam que a umidade exalada pela respiração escape, podendo reutilizá-la, graças a sofisticadas estruturas nasais. Outros truques interessantes dos ratos-cangurus – e de outros animais capazes de sobreviver nos desertos mexicanos e americanos – podem ser conferidos nos destaques abaixo e na página da direita.

Orelhão refrescante

As orelhas desproporcionais e cheias de vasos sanguíneos das lebres da espécie Lepus californicus servem para liberar calor quando o animal descansa na sombra. Membros da mesma espécie que habitam regiões de temperatura mais amenas possuem orelhas bem menores

Urina reciclada

Além de viverem protegidos do calor em galerias subterrâneas, os ratos-cangurus (Dipodomys deserti) – roedores semelhantes a pequenas cobaias – possuem uma arma importante para sobreviver na aridez do deserto: rins altamente eficazes, dotados de tubos microscópicos que extraem a maior parte da água presente na urina, fazendo-a retornar para o organismo do animal

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Economia Preciosa

Conhecida como roadrunner e popularizada nos desenhos animados do Papa-Léguas, a ave Geococcyx californianus é um dos mais famosos animais dos desertos americanos. Ela consegue reabsorver a água contida nas fezes antes de evacuar. Além disso, o excesso de sal do seu organismo é eliminado por glândulas nasais em vez de sair pela urina, preservando os líquidos internos

Peixe Milagroso

É difícil de acreditar, mas existem peixes capazes de viver no deserto. Um desses raros casos é o pupfish (Cyprinodon macularius ou diabolis), peixinho colorido de apenas 6 centímetros que vive em nascentes e lagoas de águas quentes. Quando o inverno se aproxima e a água esfria um pouco, ele entra em estado de dormência, enterrando-se no fundo da lagoa para ali permanecer até o começo da primavera

Lagarto ligeirinho

Os lagartos do deserto se mantêm em atividade até mesmo nos horários mais escaldantes do dia. Mas, para se defender do calor do solo – que pode superar os 60 ºC -, eles se deslocam em alta velocidade. O chamado lagarto-do-colarinho-vermelho (Crotaphytus collaris) chega a ficar de pé e se locomover apenas sobre duas pernas, uma raridade para esse tipo de réptil

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Dublê de tatu

A tartaruga-do-deserto (Gopherus agassizii) é capaz de suportar temperaturas das mais elevadas graças a sua habilidade para cavar buracos e se enterrar neles. Ela chega a passar 95% de sua vida dentro dessas tocas. Avesso ao frio, o bicho entra numa espécie de hibernação durante o inverno, quando todos os seus mecanismos fisiológicos funcionam lentamente, economizando o máximo de energia

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