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Como John Wayne Gacy se tornou um dos serial killers mais famosos do mundo

Gacy era um líder comunitário e animava festas infantis vestido de palhaço. Até que ele resolveu fazer a primeira vítima

Por Danilo Cezar Cabral
Atualizado em 23 jan 2023, 17h10 - Publicado em 1 ago 2018, 16h44

Em fevereiro de 1964, John começou a levar a sério um relacionamento com Marlynn Myers, uma contadora que trabalhou com ele na loja de calçados. A família de Marlynn era rica e bem conceituada e John enxergou isso como um bônus para alavancá-lo na carreira. Em setembro, eles se casaram e, em 1966, tiveram um bebê. No dia do nascimento, John se pôs a beber em um bar com um companheiro de trabalho. Acordou em um hotel sem as roupas e lembrava ter tido relações com o sujeito. Sentia vergonha, mas, ao mesmo tempo, excitação. Mesmo assim, decidiu agir como se nada tivesse acontecido e seguiu para o hospital para conhecer seu filho recém-nascido, Michael.

As irmãs e os pais ficavam impressionados com o carinho e o cuidado que ele dava ao filho. Pela primeira vez, o agora vovô John passou a demonstrar algum tipo de orgulho em relação ao filho, que tinha sucesso na carreira, uma família e, agora, um novo relacionamento com o pai. Mas, mesmo finalmente aceito pelo pai, faltava algo para John. Sua reprimida compulsão sexual não suportaria ficar mais obscurecida e, nos próximos dois anos, um novo e verdadeiro John Wayne Gacy seria revelado.

No mesmo ano do nascimento de seu filho, John e sua esposa se mudaram para Waterloo, em Iowa. O pai de Marlynn era dono de três restaurantes KFC na cidade e contratou o genro como gerente. John se deu bem no cargo, gostava de ter controle. Até insistia que seus funcionários o chamassem de “coronel” – uma alusão ao fundador dessa rede de fast-food, “Coronel” Harland Sanders. O volume de trabalho de John aumentou consideravelmente e mesmo assim ele não abandonou as atividades políticas. Acabou se tornando o mais importante membro da câmara de comércio da cidade. Ele dedicava 16 horas por dia ao trabalho. Usava sua popularidade a favor das funções na câmara, gostava de ser admirado e conseguiu se tornar conselheiro, acumulando a função de recrutar novos membros para as causas da instituição.

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Um de seus métodos de recrutamento era patrocinar noitadas de esbórnia em um famoso motel da cidade, onde usava as indiscrições do momento para sondar e manipular seus possíveis recrutados. Ele era bom no que fazia e chegou a conquistar 20 membros em uma só noite. As aventuras eram apoiadas até por sua esposa, que em algumas ocasiões concordava em troca de casais, caso achasse alguém interessante. John chegou a confiar esse segredo a uma de suas irmãs. Ela, a princípio, pensou que tudo era uma piada, mas o tom de seriedade não deixava dúvidas. Marlynn comentava com orgulho que, em certa situações, não sabia se eles voltariam para casa com as mesmas pessoas que eles tinham saído quando partiam para o “recrutamento”. A irmã chegou a testemunhar um desses acontecimentos. Foi a primeira vez que sentiu que talvez não conhecesse direito John.

As escapadas eram de amplo conhecimento dos membros da câmara, o que não impediu John de ganhar os votos necessários para que se tornasse vice-presidente. Em 1969, enquanto ele já se colocava em campanha para a presidência, foi pai pela segunda vez, de uma garota chamada Cristine. Com toda a popularidade, comemorações e integração na comunidade, John mantinha na sombra um outro lado de sua personalidade, em que ele era dominado por uma luxúria insaciável por garotos adolescentes.

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INCOMPREENDIDO

Na tarde de 29 de fevereiro de 1967, enquanto seus filhos e sua esposa estavam fora, John convidou um rapaz de 15 anos, Donald Voorhees, filho de um senador do estado de Iowa e membro da câmara, para assistir a um filme em seu porão. Embriagou-o, com a ideia de diminuir suas inibições e facilitar uma investida sexual. Deu certo e o garoto fez sexo oral nele. Pagou US$ 50 pelo seu silêncio e ainda o ameaçou dizendo ter conexões com mafiosos de Chicago.

O menino ficou traumatizado e sem reação. A princípio, não contatou a polícia, pois achava que ninguém acreditaria nele. Mas, em março de 1968, Donald não aguentou a pressão psicológica de ter que reprimir um segredo dessa categoria e resolveu contar tudo para a família. Seus pais deram queixa do acontecido e John foi preso. Ele se mostrou transtornado com a acusação e negou veementemente o ocorrido. Até propôs ser testado em um polígrafo, mas falhou miseravelmente no detector de mentiras. A única pergunta verdadeira assinalada foi quando confirmou seu próprio nome.

Ele se mostrava e vendia a imagem de alguém invejado e perseguido. A distância que as pessoas começaram a manter depois do escândalo o irritou profundamente. Durante as investigações, outros adolescentes deram depoimento alegando também terem sido vítimas de abusos sexuais. No final, John admitiu a culpa, mas insistia em afirmar que Donald tinha agido de forma consentida. O juiz não reconheceu o argumento e o condenou à sentença máxima para aquele crime, dez anos de encarceramento.

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Ele iniciou a sentença em dezembro de 1968 e disse às irmãs de forma seca que cometeu um crime e que cumpriria a sentença. Não demonstrou emoção enquanto seus pais e irmãs choravam. Nunca mais veria a família.

John se tornou um preso exemplar e popular, caindo nas graças dos colegas, assistentes sociais, guardas e até do superintendente da penitenciária. Ele perseguia atividade e status dentro do sistema prisional de maneira dedicada. Depois de oito meses, foi promovido a cozinheiro-chefe da penitenciária e se tornou admirado por melhorar a qualidade das refeições e saber empregar bem o uso de temperos.

Com tudo organizado dentro da prisão, John sofreu um golpe fora dela: a morte de seu pai por cirrose no Natal de 1969. Dali em diante, ele passou a crer que o pai não tinha falecido em virtude da doença, mas de desapontamento em relação a ele. A mágoa se transformou em raiva, que John prontamente descarregou em prisioneiros que ele suspeitasse que fossem gays. Mirava a fúria em homossexuais não por ódio, mas por se sentir atraído por eles.

Em 18 de junho de 1970, John foi liberado por bom comportamento, cumprindo somente 18 meses da sentença. O casamento acabou, e ele retornou a Chicago, onde tentou reconstruir a vida. Porém, quanto mais tentava manter controle sobre seus impulsos sexuais, mais perto de explodir ficava.

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FOCO NO TRABALHO

Agora com 28 anos, John se mudou para a casa da mãe enviuvada e arrumou um trabalho de cozinheiro. Pegou pesado e guardou cada centavo que recebeu. Parecia alguém obstinado, com um plano fixo a ser executado, segundo a irmã. Em junho de 1971, investiu tudo que tinha economizado em uma empresa de reformas e construções, a PDM (sigla em inglês para “pintura, decoração e manutenção”). No ano seguinte, John comprou uma casa para ele e sua mãe em Norwood Park, na região de Chicago. A essa altura, estava namorando uma conhecida de infância, Carole Hoff, recentemente divorciada e vivendo de auxílio-desemprego. John escolheu abrir o jogo e contou sobre sua bissexualidade e o passado recente na prisão. Ela se mostrou preocupada, mas tolerante, e enxergou o novo John como um homem disciplinado e trabalhador. Suas duas filhas gostavam tanto dele que rapidamente passaram a chamá-lo de “papai”. Para John, a atração por Carole não era suficiente, e a cada dia o impulso sexual por adolescentes crescia feito bomba-relógio.

Na noite de 2 de janeiro de 1972, John deu carona para Timothy McCoy, um jovem de 16 anos que estava parado em uma estação rodoviária. Levou-o para casa e transou com o adolescente. Assim que terminaram, o serial killer foi até a cozinha, pegou uma faca e fincou-a no peito do rapaz. Na sequência, ele enterrou o corpo em um espaço abaixo do piso da sala, comum em casas americanas, usado para fiações e encanamentos – é uma área tão apertada que só se pode acessá-la agachado, daí o nome em inglês, crawl space.

Curtiu? O texto acima é um trecho inédito do livro Serial Killers: as Histórias Reais e Aterrorizantes de Oito Assassinos que Chocaram o Mundo, lançamento da MUNDO ESTRANHO que já está nas livrarias, bancas e lojas online. Para comprá-lo, Compre agora!

Serial Killers

ILUSTRA André Toma
EDIÇÃO Felipe van Deursen
CAPA E LETTERING Juliana Caro

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