Como são as campanhas para ser indicado ou ganhar o Oscar?
Para colocar as mãos na estatueta, vale tudo: anúncios pagos elogiando o filme, eventos e DVDs para os membros da Academia e muito mais
Ei! Vote em mim!
Se políticos no Brasil enchem a rua com panfletos e faixas, você acha que Hollywood seria diferente? A ferramenta mais tradicional são os anúncios “Para sua consideração”, que estúdios pagam para publicar em revistas como Variety e The Hollywood Reporter.
Eles pedem que, na hora de votar, membros da Academia “considerem” o filme ou o astro anunciado. Vale incluir trechos de críticas, cotações, prêmios já vencidos… (Em 2016, Perdido em Marte fez uma leve mudança na fórmula: seus anúncios se chamavam “Para sua inspiração”).
O cafona que funciona
Às vezes, o “Para sua consideração” pode sair pela culatra. Em 2011, Melissa Leo, favorita ao prêmio de coadjuvante por O Vencedor, pagou do próprio bolso um anúncio que dizia apenas “Considere”. Foi um escândalo: muita gente achou a jogada de mau gosto, porque ela não citava o filme, usava uma pele e ainda mostrava o decotão. Mesmo assim, ela venceu.
Papo com o diretor
Em 30 de novembro de 2000, a DreamWorks fez uma sessão exclusiva de Gladiador, seguida de um “Q & A” (entrevista) com o diretor Ridley Scott, no mesmo teatro onde rola o Oscar. Em teoria, era para promover o lançamento do DVD do filme, mas vários convidados eram membros da Ampas (a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood). Gladiador papou o prêmio máximo e desde então Q & As viraram peças-chave nas campanhas.
Quanto mais gente, melhor
Em 2011, Q&As eram tão frequentes que a Ampas restringiu que cada profissional do filme só poderia participar de dois. Mas isso abria uma brecha: filmes com dez atores, por exemplo, ainda conseguiam fazer 20 Q & As. Sem contar diretor, editor, roteirista…
O jeito foi deixar a regra mais rígida em 2012: cada filme só pode fazer quatro eventos nos EUA e um no Reino Unido. E nenhum deles pode ter comida ou bebida grátis!
M&$%@ no ventilador
Se nada mais der certo, espalhe boatos sobre seus rivais! Em 2009, um produtor de Quem Quer Ser um Milionário? teve que vir a público desmentir que havia explorado mão-de-obra infantil durante as filmagens. Nicole Kidman teve que refutar um caso extraconjugal com Jude Law em Cold Mountain (2003). Já A Hora Mais Escura (2012) foi acusado de apoiar a tortura. Quem mais sofre são os filmes históricos, como Lincoln e Argo, também de 2012: todo ano, eles têm que defender que não deturparam os fatos reais. Ou que deturparam só um pouquinho…
Bem-feito!
Poucas vezes, os culpados pelas fofocas são localizados ou punidos. Uma delas foi em 2010, quando o produtor Nicolas Cartier mandou um e-mail aos amigos pedindo que votassem em sua obra, Guerra ao Terror, e não no “filme de US$ 500 milhões” (o blockbuster Avatar). Cartier foi proibido de ir à cerimônia. Guerra realmente ganhou e ele não estava lá para subir ao palco e discursar.
Se a montanha não vem a Maomé…
… leve a montanha até o membro da Academia! Produtores mandam DVDs ou arquivos digitais de seus longas (os screeners) para que o votante possa assisti-los no conforto do lar. Muita gente acredita que Crash – No Limite só venceu O Segredo de Brokeback Mountain em 2005 porque a distribuidora Lionsgate enviou 130 mil screeners, um recorde na época (e olha que a Ampas só tem 6 mil pessoas!).
Hoje, as regras estipulam que cada filme só pode enviar um screener por semana para cada integrante da Academia. Outros tipos de mala-direta ou spam também são controlados. Convites de cortesia para ver o filme no cinema não podem nem ter foto; no máximo, o logotipo do longa-metragem.
Pressão do chefe
Muitos competidores são membros da Ampas. Às vezes, em cargos altos, o que pode causar saias-justas. Em 2013, o governador do ramo de Música pediu diretamente aos colegas que ouvissem Alone, Yet Not Alone, música tema do filme homônimo. Pela controvérsia, a canção foi desqualificada. No ano seguinte, esse tipo de contato foi proibido – e membros sequer podem participar de performances ao vivo das músicas.
O mestre da manipulação
Muitos analistas garantem que um único homem foi responsável por tornar a temporada do Oscar nesse “vale-tudo”: Harvey Weinstein, dono da pequena produtora Miramax nos anos 90. Para combater estúdios mais poderosos, Weinstein investia pesado no lobby (uma mistura de puxa-saquismo e troca de favores, muito comum na política). A tática deu certo várias vezes. Em 1999, por exemplo, ele conseguiu que Shakespeare Apaixonado vencesse o favorito a melhor filme. Hoje, ele é dono da Weinstein Company.
Política e politicagem
Uma das táticas mais espertas de Weinstein é garantir notícias sobre seus filmes em outros setores da imprensa. Em 1990, ele conseguiu que Daniel Day-Lewis,que interpretava um deficiente físico em Meu Pé Esquerdo, falasse sobre o tema numa sessão legislativa no Senado. Funcionou: Lewis levou o Oscar de melhor ator.
Em 2014, repetiu a dose: Judi Dench, estrela do drama sobre adoção Philomena, foi a Washington falar com dois senadores sobre mudanças nas regras de adoção nos EUA. Mas ela perdeu o troféu de melhor atriz para Cate Blanchett, estrela de Blue Jasmine.
As bizarrices
Alguns artistas tentam fazer campanha, digamos, “exóticas”. Para promover Império dos Sonhos, em 2006, o diretor David Lynch desfilou por uma famosa avenida de Los Angeles com uma vaca (!). Não, o filme não falava sobre bovinos. Já James Franco gravou um vídeo cômico em 2011 com sua vovó xingando todo mundo que achou a cena da amputação em 127 Horas forte demais. E ele foi mesmo indicado!
FONTES: Sites The Independent, Entertainment Weekly, Variety, The Hollywood Reporter e Time, Oscars.org
PODRES DO OSCAR
PARTE 1: Como surgiu a Academia de Cinema que entrega o Oscar?
PARTE 2: Como é a votação do Oscar?
PARTE 3: Quem define se um ator disputa o Oscar de protagonista ou coadjuvante?
PARTE 4: Como são as campanhas para ser indicado ou vencer o Oscar?
PARTE 5: Como são os bastidores da cerimônia de entrega do Oscar?