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Mais 9 fatos sobre o Brasil que você aprendeu errado na escola

Lampião defendia os pobres? O carnaval é uma festa espontânea? A declaração da Independência foi magistral? Não foi bem assim...

Por Tiago Cordeiro
Atualizado em 11 mar 2024, 11h58 - Publicado em 19 out 2016, 10h57

A MUNDO ESTRANHO convida você a virar a página do que pensava saber sobre a história do país. Conversamos com historiadores e pesquisamos documentos que colocam sob nova perspectiva muitas lições que você aprende na escola. Prepare-se para enxergar dom Pedro I, Lampião e outros personagens de um jeito que nunca imaginou antes. Para continuar se surpreendendo, leia também a parte 1 desta matéria.

 

Dom Pedro VI

1) DOM JOÃO VI ERA UM BOBÃO

VOCÊ APRENDEU QUE: No início do século 19, Portugal era dominado economicamente pela Inglaterra e ameaçado pelas tropas de Napoleão, que exigia sua submissão. O Brasil surgia como uma alternativa polêmica para receber a corte nesses tempos de incerteza. No meio disso tudo, o rei português era dom João VI – um palerma gordo, preguiçoso e guloso.

MAS NA VERDADE: O rei português era tímido e indeciso, mas sabia se cercar de auxiliares competentes. E tomou decisões difíceis, como deixar a corte portuguesa e se mudar para cá. Foi sábio ao perceber que a independência do Brasil era um processo inevitável e conseguiu conduzir a situação de forma que seu próprio filho se tornasse o primeiro imperador do novo país.

 

Dom Pedro I

2) A DECLARAÇÃO DA INDEPENDÊNCIA FOI UMA CENA MAGISTRAL

VOCÊ APRENDEU QUE: Quando dom João VI voltou para Portugal, em 1821, seu filho, dom Pedro I, decidiu ficar. Educado no Brasil e inconformado com nossa submissão à Coroa, ele declarou a independência num impulso, durante uma viagem de Santos a São Paulo, após receber uma carta exigindo seu retorno a Portugal.

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MAS NA VERDADE: A cena em nada lembra o famoso quadro pintado por Pedro Américo. O príncipe regente subia a Serra do Mar numa mula, sem roupa de gala. Estava acompanhado de poucos auxiliares e, para piorar, sofria de diarreia. Não disse “Independência ou Morte!”, mas “Nada mais quero com o governo português e proclamo o Brasil, para sempre, separado de Portugal”

 

O reverso da história Canudos

3) CANUDOS ERA UMA COMUNIDADE IGUALITÁRIA

VOCÊ APRENDEU QUE: Antônio Conselheiro, o guia espiritual que fundou a comunidade de Canudos, no final do século 19, era como Che Guevara: criou uma sociedade de direitos iguais e sem propriedade privada. Foi esse espírito de liberdade que levou os 25 mil moradores a superar a miséria e vencer três missões do Exército brasileiro.

MAS NA VERDADE: A maior luta de Conselheiro era contra os impostos. A comunidade que ele criou era mais aberta do que se imagina: comerciantes circulavam livremente e não pagavam taxas. Com isso, a cidade ganhou classes sociais diferentes. Alguns empresários, como Antônio Vilanova e Joaquim Macambira, enriqueceram ali.

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O reverso da história Inglaterra

4) MANIPULAÇÕES INGLESAS CAUSARAM A GUERRA DO PARAGUAI

VOCÊ APRENDEU QUE: Governado por Solano López, o Paraguai incomodava a Inglaterra. Era uma nação em crescimento e que rapidamente se tornava independente economicamente. Por isso, o governo inglês incitou o Brasil, Argentina e Uruguai a guerrear contra o vizinho. O conflito durou de 1864 a 1870 e o Paraguai nunca mais se recuperou.

MAS NA VERDADE: Não era do interesse dos ingleses um conflito na América Latina. Eles já estavam bem ocupados com as tensões colonialistas na África e na Ásia. Além disso, o Paraguai não era a nação desenvolvida que se diz nos livros. A guerra foi provocada pelos paraguaios, que invadiram sem aviso o Mato Grosso.

 

O reverso da história Lampião

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5) LAMPIÃO DEFENDIA OS POBRES

VOCÊ APRENDEU QUE: Virgulino Ferreira entrou para o cangaço para vingar o assassinato de seu pai. Por duas décadas do século 20, foi um dos homens mais temidos do sertão. Mas defendia os pobres e atacava os ricos – nos anos 70, o historiador Eric Hobsbawn chegou a classificá-lo como um “bandido social”, ao lado do inglês Robin Hood e do norte-americano Jesse James.

MAS NA VERDADE: Lampião não lutava contra coronéis em defesa dos pobres. Ele liderou um grupo que hoje se assemelha ao crime organizado carioca, com forte senso de hierarquia e suas próprias noções de justiça. Ele não era rival de todos os ricos – até gostava de ser bem tratado por eles e exibia com orgulho as joias que ganhava ou pilhava.

 

O reverso da história Carnaval

6) O CARNAVAL É UMA FESTA POPULAR ESPONTÂNEA

VOCÊ APRENDEU QUE: Nas festas populares do Brasil Colônia, as pessoas saíam às ruas para jogar água e bolas de cera umas nas outras. Homens se vestiam de mulher, pessoas se vestiam de padres e simulavam missas bem-humoradas… Enfim, um caos. Ainda hoje, o Carnaval é essa manifestação desorganizada, integral à personalidade do brasileiro.

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MAS NA VERDADE: O que hoje conhecemos como desfile de Carnaval foi uma invenção política nos anos 30. O presidente Getúlio Vargas se inspirou nas manifestações organizadas pelo ditador italiano Benito Mussolini: trajeto definido com antecedência, divisão em blocos temáticos e ritmo. O que era uma festa espontânea virou um evento controlado.

 

milagre-economico

7) O MILAGRE ECONÔMICO NÃO BENEFICIOU O PAÍS

VOCÊ APRENDEU QUE: Entre 1969 e 1973, a economia do Brasil cresceu rápido. Por ano, em média, o Produto Interno Bruto do país cresceu 10% e o setor de construção civil aumentou 15%. Mas nada disso valeu a pena porque o bolo cresceu, mas não foi distribuído. A ditadura impediu que essas informações chegassem ao público e a desigualdade social só aumentou.

MAS NA VERDADE: Eram tempos de ditadura e a desigualdade social realmente aumentou. Mas o crescimento econômico do começo dos anos 70 foi impressionante – e benéfico. Permitiu a construção de obras estruturais fundamentais, como a hidrelétrica de Itaipu, a usina nuclear de Angra I, a ponte Rio-Niterói e as redes de metrô.

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cara-pintadas

8) OS CARA-PINTADAS DERRUBARAM COLLOR

VOCÊ APRENDEU QUE: Em 1992, jovens saíram às ruas para protestar contra o presidente Fernando Collor de Mello, envolvido em escândalos de corrupção. O movimento popular, que ficou famoso pelos rostos pintados de verde e amarelo, recebeu grande atenção da mídia e exerceu pressão a ponto de forçar Collor a renunciar ao cargo, em 29 de dezembro.

MAS NA VERDADE: O principal motivo para a sua queda foi a economia. O congelamento de poupança proposto no Plano Collor irritou tanto a população que o índice de aprovação do presidente nunca passou dos 36% – Lula, por exemplo, chegou a ter 55%. A impopularidade, somada às denúncias de corrupção, criou o clima político para a renúncia.

 

contra-a-ditadura

9) OS GRUPOS CONTRA A DITADURA QUERIAM UMA DEMOCRACIA

VOCÊ APRENDEU QUE: Em 1º de abril de 1964, um golpe militar afastou o presidente João Goulart e instituiu um regime ditatorial no Brasil. Entre seus principais opositores, especialmente entre 1968 e 1974, estavam grupos armados clandestinos formados por jovens idealistas. Seu objetivo era levar o povo ao poder, restituindo um governo democrático.

MAS NA VERDADE: Nem todos os grupos guerrilheiros que lutaram contra a ditadura queriam uma democracia. O objetivo era criar uma ditadura do proletariado, também sem liberdades civis, inspirada nos países socialistas. Esses grupos não eram unidos – havia dezenas deles, resultado de desentendimentos ideológicos.

CONSULTORIA Isabel Lustosa, historiadora da Fundação Casa de Ruy Barbosa; Maria Luiza Marcilio, historiadora da USP; Ronaldo Vainfas, historiador e autor de Dicionário do Brasil Joanino; José Pedro Macarini, do Instituto de Economia da Unicamp; Manolo Florentino, historiador da Universidade Federal Fluminense e autor de Em Costas Negras – Uma História do Tráfico Atlântico de Escravos entre a África e o Rio de Janeiro; Guiomar de Grammont, autora de Aleijadinho e o Aeroplano: O Paraíso Barroco e a Construção do Herói Colonial

FONTES Livros História Politicamente Incorreta do Brasil, de Leandro Narloch, 1808, de Laurentino Gomes, A Devassa da Devassa, de Kenneth Maxwell, A Formação das Almas, de José Murilo de Carvalho, Tiradentes: o Corpo do Herói, de Maria Alice Miliet, Lampião VP, de Jack de Witte, eEcologia do Cangaço, de Melquíades Pinto Paiva

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