Mulheres que mudaram a história: a guerreira Boudica
À frente de 100 mil homens, ela arrasou três cidades controladas pelos romanos e colocou uma legião inteira para correr
O que foi: Rainha
Onde viveu: Britânia
Quando nasceu e morreu: 30-61
Seu nome tem origem celta e significa “vitória”. Pois a rainha dos icenos, um povo que vivia ao leste da atual Grã-Bretanha, venceu os poderosos romanos em duas ocasiões. No caminho, destruiu cidades que eles controlavam, incluindo Londinium, atualmente conhecida como Londres. Acabaria sendo derrotada, mas colocou seu nome na história da Inglaterra.
Foi uma das maiores guerreiras da Europa do século 1 e, no século 19, acabou adotada pelos britânicos como uma musa inspiradora e uma espécie de matriarca da identidade nacional. Atualmente, uma estátua pomposa da rainha pode ser vista nos arredores do Big Ben.
COLAR E LANÇA
Alta, de voz poderosa e cabelos vermelhos até abaixo da cintura, Boudica era a esposa de Prasutagos, o rei da Icênia, cujo território equivale ao atual condado inglês de Norfolk. Costumava ser vista carregando uma lança e usando túnicas multicoloridas, mantas pesadas fechadas com um broche de prata e um colar grosso de ouro no pescoço.
Os romanos chegaram à ilha na década de 40 e começaram a ocupar grandes faixas de território. Davam autonomia religiosa e aceitavam manter algumas lideranças políticas locais, desde que elas prometessem obediência.
Foi mais ou menos assim com Icênia. Prasutagos se manteve como o rei. Mas, ao morrer, deixou suas terras em testamento para a esposa e as duas filhas. A tradição mandava ceder o território a Roma. Boudica se recusou e pagou caro.
A região foi invadida. Açoitada, a rainha acabou forçada a ver os soldados estuprarem as meninas, que tinham 12 e 10 anos. Era o ano 61, e sua reação faria o imperador Nero cogitar abandonar a Grã-Bretanha. Até que a rainha fosse finalmente vencida, mais de 70 mil romanos e britânicos aliados a eles perderam a vida.
“Eu, que sou mulher, sigo para lutar pela liberdade. Vocês, homens, podem escolher por se tornarem escravos”, ela teria proclamado, segundo os relatos dos próprios romanos – foram eles que registraram por escrito os feitos da rainha.
CIDADES ARRASADAS
Um exército de 100 mil homens seguiu a carruagem de Boudica e suas duas filhas até Camulodunum, atual Colchester. Os dominadores não esperavam tamanha ousadia. A cidade foi inteiramente queimada e os moradores trucidados. Quem escapou correu para se esconder dentro do templo construído em homenagem ao antigo imperador Cláudio. Depois de dois dias de cerco, a obra foi incendiada, com centenas de pessoas dentro.
Boudica venceu as tropas sediadas em Camulodunum e mais uma legião de 5 mil homens que correu em defesa da capital. Dali seguiu para Londinium, que também foi arrasada. Aproveitou para acabar com a vila vizinha de Verulamium.
Acaba ali sua carreira vitoriosa: o governador de Roma na região, Paulino, estava se reorganizando. Colocou tropas bem preparadas e armadas, ainda que em menor quantidade. E superou os rebeldes na Batalha de Watling Street. A rainha e as filhas se mataram para não serem aprisionadas.
SEUS GRANDES ACERTOS
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Organizou seu povo
Arrasados, os icenos poderiam seguir o caminho dos demais povos da região. Mas a rainha os convenceu a lutar por independência -
Atacou de surpresa
Os romanos não esperavam ser atacados em sua própria capital. Metade de suas forças estava mais ao norte, atacando as vilas dos druidas -
Usou as bigas
Para os romanos, as carruagens curtas eram meios de transporte. Boudica as transformou em armas de guerra, de grande mobilidade
SEUS GRANDES FRACASSOS
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Cometeu atrocidades
Pelo menos segundo os historiadores romanos, a rainha não poupou civis. Trucidou a todos, incluindo mulheres, idosos e crianças -
Errou a estratégia
Boudica comandava um exército 20 vezes maior do que o romano. Mas lutou em campo estreito, onde a superioridade numérica tinha menos valor -
Levou as famílias
Era um hábito da época, mas se mostrou desastroso: esposas e filhos dos guerreiros iam até as batalhas. Foram massacrados
Dica de livro
A trilogia Boudica, de Manda Scott, narra a vida da rainha. Foi lançada no Brasil pela Editora Record