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O certo é “biscoito” ou “bolacha”?

Ambos são corretos, mas "biscoito" entrou primeiro na língua portuguesa, e esse é o único critério em que é possível apontar um vencedor

Por Victor Bianchin
Atualizado em 22 fev 2024, 10h38 - Publicado em 30 jan 2015, 16h17

Ambos são corretos, mas “biscoito” entrou primeiro na língua portuguesa, e esse é o único critério em que é possível apontar um vencedor. Os dois termos são equivalentes no que diz respeito à legislação e também são ambos válidos quando se aplica sua etimologia ao modo que o alimento é produzido hoje no Brasil. O país é atualmente o segundo maior produtor de biscoitos/bolachas do mundo, com 1,2 mil tonelada fabricada por ano, segundo a Associação Nacional da Indústria de Biscoitos (Anib). Também segundo o órgão, o produto está presente em 99,9% dos lares brasileiros e a média adquirida pelas pessoas em cada visita ao mercado é de 700 g.

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Round 1: Etimologia do biscoito

“Biscoito” vem do latim bis (duas vezes) + coctus (cozido) e chegou ao português pela palavra francesa “bescuit”, que surgiu no século 12. O nome vem da prática de assar o alimento duas vezes para que ficasse menos úmido e durasse mais sem estragar. A prática de assar mais de uma vez se aplica à bolacha (biscoito recheado) dos dias de hoje, porque ela vai ao forno quatro vezes

Round 2: Etimologia da bolacha

“Bolacha” vem de “bolo” (do latim “bulla”, objeto esférico) com o sufixo “acha”, que indica diminutivo. A palavra holandesa “koekje” significa a mesma coisa e gerou termos como “cookie” e “cracker”. Para diferenciar dos biscoitos, convencionou-se que koekje e derivados são os que utilizam um componente levantador, como o fermento. Os produtos brasileiros utilizam, então podemos chamar de bolachas

Round 3: Legislação

Quem regula o produto é a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que considera os dois termos como sinônimos. Eles são definidos como: “produto obtido pelo amassamento e cozimento conveniente de massa preparada com farinhas, amidos, féculas fermentadas, ou não, e outras substâncias alimentícias”. E, sim, o órgão leva em consideração as variações com cobertura e recheio e diz que é mesmo tudo igual

Round 4: Inserção na língua portuguesa

O desempate vem do fato de que as duas palavras entraram na língua portuguesa em momentos diferentes. O registro mais antigo que a reportagem encontrou para “bolacha” é de 1543. Já para “biscoito”, o registro encontrado é de 1317, ainda na forma “bíscoyto”. Há quem diga, porém, que “biscoito” só entrou no português no século 15 – ainda assim, décadas antes de “bolacha”

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Biscoito ou bolacha

Nestlé –“A Nestlé entende os dois termos como corretos, porém utiliza “biscoito” em suas marcas por essa ser uma convenção da indústria brasileira”

Bauducco –“Não há um motivo específico para a nomenclatura “biscoito”, é uma convenção da categoria. Não existe um termo correto, tanto que a legislação utiliza o termo ‘biscoito ou bolacha'”

M. Dias Branco -“O uso da nomenclatura é uma questão regional. A M. Dias Branco usa “biscoito” como padrão para definir seus produtos”

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Mondelez -“Na Mondelez Brasil, os produtos são denominados “biscoitos”. A justificativa para o uso do termo é que é o mesmo da entidade de classe Anib”

Marilan -Procurada pela reportagem, a empresa não se pronunciou até o fechamento desta edição

FONTES Associação Nacional da Indústria de Biscoitos (Anib), livros Tratado de Hygiene Naval, de J.B. Fonssagrives, O Português Arcaico: Uma Aproximação, de Rosa Virgínia Mattos e Silva, e Descobrimentos Portugueses: Documentos para a Sua História. Publicados e Prefaciados por João Martins da Silva Marques; teses “Novidade de Pallavras” no Português do Século XV, de Mário José Silva Meleiro, e O Tratado da Cozinha Portuguesa – Códice I.E 33: Aspectos Culturais e Linguísticos, de Antonieta Buriti Hosokawa

CONSULTORIA Nick Malgieri, pâtissier e escritor

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