Comece com uma bela ventania, adicione barreiras de rocha ou coral para diminuir rapidamente a profundidade do mar, misture tudo num litoral pouco recortado, e pronto! Aí está a receita para uma montanha dágua gigante. “É óbvio que essa fórmula vale apenas para regiões costeiras: em alto-mar, basta o vento para criar vagalhões realmente assustadores, sobretudo nas altas latitudes”, diz o oceanógrafo Joseph Harari, da Universidade de São Paulo (USP). O extremo sul da América, em especial, é um pesadelo para navegadores. No Estreito de Drake, sopros de até 60 km/h provocam elevações que atingem 7 metros. Mas isso ainda é pouco perto do recorde anotado no Pacífico Sul em 1933, quando uma tormenta atingiu o navio americano Ramapo. Em meio a ventos de 110 km/h, que sopravam há uma semana, a tripulação teve sangue frio para calcular a altura das ondas: 34 metros!
No litoral, isso acontece quando a profundidade do mar se reduz bruscamente – o contrário de praias que ficam rasas aos poucos, onde as ondas são pequenas porque vão perdendo energia no atrito com o fundo. “É o caso do litoral sul brasileiro. A 80 quilômetros da costa, a profundidade não passa de 40 metros. No Havaí, nessa mesma distância, o fundo do mar está a 5 000 metros”, afirma o geógrafo Clécio de Quadros, da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Outros fatores que fazem desse arquipélago vulcânico o local das maiores ondas do planeta são o seu isolamento – longe de outras ilhas e recifes que tirariam a energia das ondas – e uma costa com poucas reentrâncias. Mas o inferno dos navegadores é a festa dos surfistas. Entre dezembro e março, época de ventos fortíssimos, ondas de até 20 metros de altura transformam as praias havaianas Jaws e Waimea no paraíso dos big riders, os surfistas especialistas em ondas gigantescas.
Jaws e Waimea, no Havaí (com ondas de até 20 metros); Mavericks, na Califórnia (21 m); Todos os Santos, no México (10 m); e Pico Alto, no Peru (8 m), são os locais recordistas
Em mar aberto, o atrito da ventania com a superfície do mar interfere no tamanho da onda. Brisas, por exemplo, provocam elevações pequenas (1). Quanto mais forte o vento e quanto mais tempo ele soprar, maiores são as ondas (2). Em altas latitudes, tormentas de mais de 100 km/h levantam montanhas dágua de 30 metros (3). Perto da costa, o efeito é parecido. Em Waimea, no Havaí, o vento cria ondas de 12 metros. Mas isso só acontece entre abril e outubro – no resto do ano, os ventos rareiam e a baía vira uma piscina
Ondas altas costumam quebrar em pontos do litoral onde o mar fica raso de repente. Isso acontece quando bancos de areia ou barreiras de coral ou rocha empurram a água para cima, fazendo a onda ganhar tamanho antes de arrebentar, despejando toda sua energia de uma vez. O contrário ocorre quando o litoral vai ficando raso aos poucos, porque as elevações perdem energia, velocidade e altura no atrito com o fundo
Em praias retas e longas, com o mar aberto, as ondas chegam na costa sem barreiras para diminuir sua força. Assim, elas só perdem energia quando estão perto da areia. Se houver outros fatores favoráveis – como ventos fortes -, a elevação da água pode ficar enorme
O contrário acontece quando o litoral é cheio de acidentes como baías, ilhas e recifes. Com essas barreiras naturais, as ondas vão perdendo força e, conseqüentemente, não têm como crescer muito. Por isso, esse tipo de litoral costuma apresentar águas calmas