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A luta que os vegetarianos deveriam abraçar

O vegetarianismo não conseguiu competir com o apetite do mundo por carne. Os animais estão mesmo condenados - só resta usar a ciência para que eles não sofram

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h30 - Publicado em 1 Maio 2011, 22h00

Adam Shriver

Bilhões de animais vivem hoje confinados em fazendas onde estão destinados a sofrer. Não há uma razão nobre para esse sofrimento – apenas os hábitos alimentícios da população mundial. Quando uma pessoa passa por um sofrimento físico contra a sua vontade, encaramos isso como um dos piores males que podem ser impostos a alguém. Com os animais, não deveria ser diferente. Estudos científicos mostram que o sofrimento deles é similar ao nosso. E, no entanto, é pouco provável que as pessoas deixem de comer carne simplesmente por boa vontade.

O consumo de carne no mundo só tem crescido: o total por pessoa subiu mais de 50% desde os anos 60. E isso apesar dos esforços do movimento de preservação dos animais, que impulsionou o vegetarianismo a partir dos anos 70. Por isso, acredito que temos uma obrigação moral de criar uma geração de animais que não sofram. Ou seja: que não sintam dor.

Pessoas medicadas com morfina ou que sofreram danos em uma parte específica do cérebro (o córtex cingular anterior) dizem ainda sentir dor, mas não se incomodar com ela. É gente que preservou intacta a dimensão sensorial da dor – responsável por determinar se a dor é aguda ou fraca, por exemplo – mas perdeu o que se chama de dimensão afetiva, ligada às sensações de desconforto e incômodo. Testes indicaram que o mesmo pode acontecer com ratos e macacos. Os animais ainda conseguem responder a uma ameaça, como se retrair ao tomar um choque. Mas não parecem sofrer tanto: ratos que puderam escolher entre ficar numa sala clara (que eles odeiam) e ficar numa sala escura – mas sob choques – preferiram a segunda opção, apesar da dor.

Uma pesquisa recente mostrou que a engenharia genética pode livrar os ratos desse componente de sofrimento da dor. Graças às semelhanças entre os mamíferos, poderíamos desligar geneticamente a dimensão afetiva da dor também em animais como vacas e porcos. Não há obstáculo significativo a isso.

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Algumas pessoas podem dizer que essa proposta viola o direito dos animais. No entanto, acredito que esse argumento perde força quando consideramos o pilar da minha ideia: as pessoas não vão parar de comer carne a ponto de libertar os animais do sofrimento. E, aí, os defensores dos direitos de vacas, porcos e aves devem considerar dois cenários. No 1º, violamos os direitos dos animais. No 2º, violamos os direitos dos animais e ainda causamos o sofrimento deles. Se tivermos uma escolha entre essas duas opções, creio que não aparecerá uma acusação forte contra uma geração de animais que não sentem dor.

Alterar animais geneticamente não é o melhor a ser feito. Na verdade, é o mínimo que deveria ser feito. E muito melhor do que não fazer nada.

“O consumo de carne no mundo só tem crescido: o total por pessoa subiu mais de 50% desde os anos 60. E isso apesar dos esforços do movimento para preservar os animais, que impulsionou o vegetarianismo a partir dos anos 70.”

(*) Adam Shriver é filósofo da Universidade Washington em St. Louis, Missouri. Os artigos aqui publicados não representam a opinião da SUPER.

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