A nova droga da África
O efavirenz é um remédio que serve para combater a aids. Mas traficantes sul-africanos resolveram transformá-lo em outra coisa
Eduardo Szklarz e Bruno Garattoni
A África do Sul é o país que mais sofre com a aids: são 5,6 milhões de pessoas infectadas pelo vírus HIV, uma epidemia que o governo local tenta conter fornecendo remédios antirretrovirais à população. Só que esses remédios estão indo parar nas mãos de traficantes – que os transformam em whoonga (“pó”, na gíria local), uma nova droga que mistura veneno de rato, heroína e efavirenz, um dos principais medicamentos anti-HIV. Ela é vendida na forma de baseados que custam 30 rands cada (cerca de R$ 7), preço equivalente ao de um maço de cigarros comuns. Quando é fumada, provoca sensação de euforia. Mas também pode acabar ajudando o HIV.
“Se a pessoa é soropositiva e consome efavirenz de forma recreacional, sem aderir a um tratamento, pode induzir resistência (do vírus) ao medicamento”, explica o infectologista Caio Rosenthal, do hospital Emílio Ribas, em São Paulo. Isso porque, como as doses de efavirenz presentes no whoonga são pequenas e inconstantes, elas não conseguem inibir o HIV – e estimulam o surgimento de mutações no vírus, que pode se tornar imune ao medicamento. Uma catástrofe para a África do Sul, onde quase 18% dos adultos são soropositivos, um risco para os demais países, e um negócio irresistível para traficantes e usuários – que já chegaram a invadir hospitais como o Príncipe Mshiyeni, em Umlazi (600 km de Joanesburgo), para roubar caixas de efavirenz.