Fernando Valeika de Barros, de Paris, com Lúcia Helena de Oliveira
Queima diferente
Quando ele é tragado, em vez da nuvem espessa e cinzenta, o que sai da boca do fumante é apenas uma névoa clara e quase sem cheiro. Largado no cinzeiro, nem se vêem sinais de fumaça. É que no cigarro lançado pela multinacional R.J. Reynolds o tabaco não queima diretamente. Seus componentes são liberados pelo calor de uma chama que fica na ponta e não chega a tostar o fumo (veja como funciona nos infográficos abaixo). O Hi.Q, como está sendo chamado na Europa, ou Eclipse, seu nome na versão americana, está sendo testado em três cidades: Chattanooga, nos Estados Unidos, Augsburg, na Alemanha, e Estocolmo, capital da Suécia.
“Para o fumante passivo, é o fim do problema do mau cheiro e, melhor, ele não tem a saúde tão prejudicada”, diz o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, da Universidade Federal de São Paulo, que passou sete anos na Inglaterra se especializando na dependência de drogas como a nicotina. Mas não se sabe se o fumante também gostará do novo produto. “É a nicotina que vicia o sistema nervoso”, explica Laranjeira. “E o novo cigarro libera a nicotina, saciando o cérebro. A questão é que existem mais de 4 000 substâncias resultantes da queima do tabaco que não viciam, mas causam sensações de sabor.” Nem todas elas são liberadas com a mesma intensidade no Hi.Q. Será que o consumidor se acostumará com essa falta? “É uma questão de hábito”, aposta otimista Axel Gietz, diretor da Reynolds em Genebra, na Suíça.
Como funciona o novo cigarro
O calor desprende as substâncias sem queimar e sem esfumaçar o ambiente.
Onde está o fogo
Um cilindro de carbono fica na ponta. Uma vez aceso, ele se mantém incandescente.
Para reter o calor
Fibras de vidro, que são isolantes térmicos, não deixam o calor se dissipar.
Na hora de inalar
O calor volatiliza a nicotina assim como a água quente libera os componentes do chá.
O filtro esburacado
Muito poroso, ele retém boa parte dos ingredientes. Por isso, o novo cigarro é ultra-light.
Entre uma tragada e outra
Compare o cigarro sem fumaça e o convencional.
Esperança de sucesso
A expectativa é de que o novo produto conquiste 1% do mercado nos lugares em que está sendo testado. Se fizer sucesso, o Hi.Q será lançado no ano 2000 em toda a Europa e nos Estados Unidos.
Opinião de fumantes
A modelo e atriz Adriane Galisteu detestou: “Foi uma das minhas piores experiências. Eles não capricharam no gosto. E depois a graça de fumar está na fumaça.” Já o jornalista Flávio Dieguez, editor sênior da SUPER, achou razoável: “Estranhei porque não fumo cigarros ultra-light. Mas quem prefere esse tipo pode se acostumar.”
O novo e…
O Hi.Q libera 90% menos fumaça. Nela, 20% são nicotina e outros particulados nocivos. O resto, 80%, são vapor de água e glicerina.
1 – A pouca fumaça leva só 3 segundos, em média, para se dissipar.
2 – Cerca de 7 minutos é o tempo até o cigarro se apagar. Só produz cinza na ponta, ficando quase inteiro.
3 – No final, joga no ar 0,2 miligrama de nicotina.
4 – Se a fumaça fosse condensada, seria possível juntar 3 gramas de substâncias sólidas.
…o normal
A nicotina e outros particulados nocivos são 80% da fumaça do cigarro convencional. Só 20% são de água e glicerina.
1 – A fumaceira demora, em média, 7 segundos para se dissipar.
2 – Leva 10 minutos para ser consumido.
3 – No final, joga no ar 1,1 miligrama de nicotina, se é do tipo ultra-light , e até 6 miligramas se é forte.
4 – Condensada, a fumaça resulta em 12 a 15 gramas de substâncias sólidas.